A oposição no Congresso Nacional reagiu às denúncias feitas por Mike Benz, ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA no primeiro governo de Donald Trump, que participou de audiência pública nesta quarta-feira (6) na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara (CREDN). Na audiência, Benz afirmou que o deep state americano teria operado uma campanha sistemática para interferir nas eleições brasileiras de 2022, com uso de verbas públicas, manipulação de narrativas e suposto favorecimento à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.
A audiência foi conduzida pelo deputado Filipe Barros (PL-PR), presidente da CREDN, que anunciou três desdobramentos imediatos:
- Apresentação de um pedido de CPMI para investigar o fluxo de dinheiro da Usaid (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional) no Brasil;
- Votação, ainda neste mês, de um projeto de lei que proíbe ONGs brasileiras de receberem recursos estrangeiros;
- Estudo de uma ação jurídica para extinguir o registro do Partido dos Trabalhadores, sob alegação de financiamento eleitoral indireto com dinheiro de origem estrangeira — o que é vedado pela legislação brasileira.
Segundo Benz, teria ocorrido a triplicação de recursos da agência Usaid — órgão de cooperação dos Estados Unidos — para financiar ONGs, sindicatos e agências de checagem de fatos no Brasil, com a finalidade de combater o então presidente Jair Bolsonaro. “Não foi uma interferência pontual, mas uma operação coordenada de manipulação da opinião pública, com base em censura estratégica e interferência digital disfarçada de combate à desinformação”, disse Benz. Apesar das declarações, Benz ainda não apresentou as provas sobre as manipulações citadas por ele na Câmara.
“O que ouvimos aqui hoje não pode passar em branco. Como o Mike Benz nos demonstrou por quase 5 horas nesta manhã, o PT foi beneficiado desses milhões de dólares que a Usaid e o Partido Democrata investiram no Brasil.”, afirmou Barros.
O deputado Marcel van Hattem (NOVO-RS) foi ainda mais incisivo. Ele classificou o episódio como um “golpe conduzido pelo PT com o apoio do governo Biden” e acusou o Supremo Tribunal Federal de ter atuado em conluio com as ações de censura. Van Hattem também citou falas do ministro Luís Roberto Barroso, como a declaração feita em evento da UNE em 2023: “Nós derrotamos o bolsonarismo”. Para o parlamentar, isso confirma que a narrativa de "golpe" foi fabricada previamente e sustentada com apoio internacional.
Outro ponto alarmante, segundo Van Hattem, foi a denúncia de que agências de checagem teriam sido financiadas com recursos do governo americano. De acordo com Benz, essas entidades monitoravam grupos de mensagens privados e repassavam informações ao TSE, resultando em censura e até prisões. “É um ataque direto à soberania brasileira e às liberdades civis”, afirmou.
Mike Benz encerrou sua fala dizendo que “o mundo está assistindo” e que chegou a hora de transparência total sobre o papel da Usaid, das ONGs envolvidas e dos serviços de inteligência americanos. “É extraordinário que vocês tenham suportado tantos ataques. Agora é hora de restaurar a confiança e fazer as coisas corretamente”, disse.
A oposição agora pressiona para que a Câmara e o Senado avancem na investigação e criem barreiras legais contra esse tipo de interferência internacional no processo eleitoral brasileiro.
Os parlamentares da base do governo Lula não participaram da audiência. A reportagem entrou em contato com o PT para saber se o partido planeja alguma reação ao pedido de Barros e aguarda o retorno.