Nesta altura dos acontecimentos, não chega a ser segredo para ninguém que o Brasil caminha ao encontro de uma encruzilhada decisiva, onde terá que escolher figurar entre as nações do mundo com a maior carga tributária bruta, superior a 32% do PIB, ou virar totalmente as costas para a atual política econômica. Para um país do tipo emergente, como somos, temos uma carga tributária extremamente alta, vis a vis o retorno desses impostos em forma de serviços básicos para a população.
Na velocidade em que vamos distorcendo os primados da economia, como no caso da relação entre receitas e gastos, logo seremos um país a exibir a maior carga tributária do planeta. O problema aqui, além da insistência do governo em seguir gastando além das possibilidades reais do país, é que nossa nação adentrou em um processo perigoso e rápido de envelhecimento da população, numa transição demográfica mais veloz ainda, com pessoas vivendo mais tempo e com um pequeno número de crianças nascendo.
Essa defasagem é perigosa não só para o Brasil, mas para qualquer outra nação, pois esse desequilíbrio acaba por pressionar a Previdência e a saúde pública, que representam os dois gastos mais importantes e volumosos do governo. Para aqueles que conhecem esses cálculos a fundo, chama a atenção o fato de que cada 1% no nível de envelhecimento da população está associado diretamente a um aumento maior do que 1% na carga tributária. Trata-se de uma pressão para lá de preocupante. É o caso clássico do indivíduo que envelheceu antes de garantir seu sustento na velhice, quando sua força de trabalho diminui.
O que se sabe e se sente na pele é que a carga tributária consome mais de um terço de toda a riqueza produzida e segue aumentando em ritmo veloz. Com isso, a dívida bruta já ultrapassa 76% do Produto Interno Bruto (PIB). A inflação mensal e anual é o que as donas de casa sentem ao irem ao mercado. Meio quilo de café a R$ 40. Não bate com o que divulga o governo, como sendo 5,23% nos últimos 12 meses.
A taxa de fecundidade, em torno de 1,55 a 1,57 filho por mulher, está bem abaixo do nível de reposição, o que pode ser interpretado como um aviso de que os jovens não se sentem seguros com relação ao futuro, o que, naturalmente, faz cair a taxa de natalidade. Com cada vez menos pessoas contribuindo para a Previdência e com a população envelhecendo rapidamente, o Brasil tem, obrigatoriamente neste século, que resolver essa equação, sob pena de vermos a estagnação total do país a médio prazo.
Em algumas décadas, caso essa situação não se reverta, teremos mais idosos do que jovens, o que provocará a falência da Previdência tal qual a conhecemos, assim como do sistema de saúde pública. Para governos que têm como horizonte político apenas as próximas eleições, todo esse conjunto de problemas estruturais do país acabam sempre empurrados para um futuro distante.
Diante de um quadro tão complicado como o nosso, qualquer exercício de futurologia conduz-nos sempre ao pessimismo. Quer queira, quer não, toda a preparação para o futuro começa a ser feita ainda no passado, e isso é o que não temos feito. Projetos de Estado e de longo prazo não são levados a sério. Caso sigamos persistindo nessas condições, com crescimento fraco, inflação resiliente, Selic elevada por mais tempo, postergação de ajustes previdenciários/saúde, judicialização de despesas, desaceleração da execução da reforma e outros contratempos, simplesmente não há que se falar em futuro para o país e para os brasileiros, pois o que temos em mãos é a velha e conhecida vanguarda do atraso.