CPMI e camburões
Quer alguns queiram ou não, a Previdência Social e o
próprio INSS sairão modificados após os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito (CPMI), que estão sendo realizados pelo parlamento. Ou é isso, ou
então o caos. Nesse caso, restará aos aposentados de ontem, de hoje ou do
futuro, as consequências ruins de um sistema que já dá sinais claros de que
entrará em colapso a qualquer momento. Para um sistema de aposentadoria, que já
apresentava no primeiro semestre um déficit de R$ 203,6 bilhões e que, em tese,
deveria ser o mais seguro e vigiado do mundo, o surrupio de mais de R$ 6,3
bilhões serve como mais um empurrão do INSS ao precipício.
De uma forma até direta, muitos daqueles que
participam agora dessa CPMI afirmam que foi a própria Previdência Social que
praticou esse crime, ao permitir que entidades das mais diversas tivessem
acesso aos abatimentos criminosos contra os aposentados, falsificando, durante
um longo período, autorizações para os descontos. A imensa e burocrática
máquina previdenciária, com milhares de servidores, utilizando-se dos mais
sofisticados equipamentos de rastreio e contabilidade, não foram
suficientemente ágeis para blindar os aposentados da sanha golpista. Com isso,
fica evidente que o atual sistema não consegue resguardar o que pertence aos
aposentados.
Mais do que falhas sistêmicas, o INSS e o Ministério
da Previdência deram mostras de que não são confiáveis. A começar pela
introdução de gerências políticas dentro do órgão. O ex-ministro e habitué em
escândalos de corrupção, Carlos Lupi, da base e aliado do governo, caiu em
várias contradições durante seu depoimento na CPMI e teve sorte de não sair
dali direto para a prisão.
Não há nada de novo sob o sol opaco da corrupção.
Governos vão e vêm, e os escândalos nessa pasta prosseguem incólumes. Soma-se a
todo esse caos o fenômeno do envelhecimento rápido da população brasileira,
trazendo previsões de que o rombo no INSS irá quadruplicar nas próximas
décadas. Quem pode está correndo para viabilizar investindo em previdência
privada. Como, atualmente, todo o sistema continua poluído pela gestão de
políticos sem escrúpulos, o melhor que muitos podem fazer é correr para fora da
aposentadoria oficial.
Não é por outro motivo que muitos bancos já se
movimentam para o estabelecimento de sistemas de aposentadorias próprios. O
problema desses novos planos bancários de aposentadorias é que muitos idosos
desconfiam, e com razão, dos bancos brasileiros. Ainda mais quando se verifica
que parte do sistema bancário parece estar também envolvido nesse atual
escândalo do INSS. Pelo que consta, os bancos foram oficialmente autorizados a
oferecer créditos consignados aos aposentados e pensionistas do INSS, ajudando
a formar parte do esquema de fraudes. O próprio governo, em anúncios feitos até
pouco tempo nas televisões, incentivava os aposentados a contraírem dívidas
junto aos bancos, através dos empréstimos consignados em folha.
Olhando todo esse escândalo de longe, ao alto e sem
distinções políticas, fica evidente que é o próprio governo que deve responder
por esses fatos. Foi o governo e não outra pessoa ou grupo que abriu as portas
para os fraudadores, certo de que esse gesto não viria à tona. A questão agora
é saber como irá terminar essa CPMI. Se for prosseguir no ritmo atual, muita
gente será indiciada, principalmente os peixes miúdos. O cardume formado pelos
grandes bagres poderá ficar de fora.
Caso isso aconteça, é vã a esperança de que todo o
sistema de aposentadoria será modificado. E por uma razão simples: nesse
sistema tem o que muitos políticos e outros agentes do Estado almejam que é a
grande soma de recursos nos cofres. Num país civilizado, toda essa e outras
fraudes ficariam a cargo apenas das delegacias de polícia, sem muito falatório
e audiências, mas com muitas algemas e embarques em camburões com grades.
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