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A humildade que a imprensa perdeu

A humildade que a imprensa perdeu 

Não, ninguém precisa ser formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, para ser jornalista. Não apenas pela lei... É preciso ter alma de jornalista. E, fundamentalmente, isso passa pela humildade, pela manutenção da vaidade num nível aceitável. A vaidade, como falava o professor Olavo de Carvalho, é um erro de inteligência. Uma pessoa inteligente é, necessariamente, uma pessoa humilde. Quem não é humilde vai sempre distorcer a realidade, já que ignora as referências corretas, já que enxerga tudo como imagina, como deseja, já que adota “verdades próprias”... E nada disso se encaixa com jornalismo.

 

Os produtores, por exemplo, costumam trabalhar no anonimato. No máximo, são um nome nos créditos. Eles são os profissionais do jornalismo que melhor entendem que é preciso abrir mão da vaidade. E isso deveria ser claro para todos os jornalistas, mesmo os de televisão, aqueles que aparecem no vídeo em programas e telejornais de grande audiência. Todos deveriam entender que a estrela é a notícia, que o principal são as informações. Mais do que tudo, é difícil entender as “estrelas” que a televisão cria, num veículo em que se impõe o trabalho em equipe. Não há em nenhuma outra área profissional uma rede de interdependências tão grande quanto a que se encontra no telejornalismo. Em televisão não existe “meu” nem “seu”, existe “nosso”. 


"Quem não é humilde vai sempre distorcer a realidade, já que ignora as referências corretas, já que enxerga tudo como imagina, como deseja, já que adota “verdades próprias” 


Mesmo em veículos em que o jornalista tem mais autonomia, ele não deve se sentir acima do bem e do mal. Ele não é o todo-poderoso, ele não existe para tornar o mundo melhor, isso é, no máximo, a consequência natural de um trabalho bem feito, não a meta. A ambição de um jornalista deve ser encontrar as melhores histórias reais e em movimento e contá-las da melhor forma possível. Com objetividade, com clareza, da forma mais coloquial e atraente, mas sem abrir mão de um estilo pessoal. O que não deve ser esquecido é que um jornalista é um jornalista, não um ator. Ele trabalha com a realidade, está sempre em busca do que há de interessante nessa realidade. O jornalista é um “contador de histórias”, e não deve ser um personagem delas... A não ser em pautas específicas, quando o jornalismo se aproxima mais do entretenimento, o que tem sido feito de forma exagerada há algum tempo na cobertura esportiva e nas pautas de comportamento. 


Desconfie sempre do “jornalista vidente”: “eu avisei”, “eu previ”, “não quiseram me ouvir”... Esse, muitas vezes, abandona o básico do básico: a desconfiança, a curiosidade, as perguntas. Trabalha a partir de intuições que podem não ser testadas, rebatidas, até finalmente se confirmarem, ou não se confirmarem. Apenas esbarra nos fatos, e buscar a verdade quase nunca lhe interessa muito, se ela pode estar ali, amarrotada, no bolso da sua calça, do seu paletó... 

Não dá para ser um revolucionário, um militante, um ator político em tempo integral e um jornalista esporádico. Não dá para buscar interesses próprios ou de um grupo específico. Não dá para aceitar que o jornalismo seja invertido, pervertido, subvertido. É preciso encontrar nas novas gerações resquícios dos grandes jornalistas que o Brasil já teve e incentivar um renascimento. É dever de todos – dos profissionais da área, dos leitores, dos ouvintes e espectadores. É nossa obrigação recusar e combater aqueles que se opõem ao mundo real, às experiências já vividas, que se entregam a ilusões, a mentiras, a utopias, aqueles que aceitam se enganar e enganar os outros... E a humildade será sempre o princípio de tudo. 


Luís Ernesto Lacombe - (Foto: Imagem criada utilizando Whisk -  Gazeta do Povo) 
(Vídeo >>>)





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