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Lula deve satisfações sobre a ruína dos Correios

Lula deve satisfações sobre a ruína dos Correios 

Para surpresa de ninguém, Lula avisou que buscará o quarto mandato. Será uma boa oportunidade para que preste contas sobre o que fez com os Correios. O presidente, em geral pouco econômico nas palavras, não cita a estatal em público há muito tempo. Os números falam por si, mas nem por isso ele está dispensado de dar satisfações sobre a ruína da estatal. 


Os Correios não passaram um dia sequer no azul no atual governo, e a cada dia se aproximam do abismo. Para se ter ideia de como é veloz esse avanço, o prejuízo apenas no segundo trimestre de 2025 (R$ 2,64 bilhões) foi maior que o de 2024 inteiro (R$ 2,59 bilhões). Teme-se que em 2026 – se é que não antes – a sangria chegue a R$ 1 bilhão por mês. 


O patrimônio líquido da empresa no fim de junho estava negativo em R$ 8,7 bilhões. Ou seja, mesmo que a estatal liquidasse todo os seus ativos (imóveis, equipamentos, veículos, aplicações financeiras, créditos a receber), ainda faltariam quase R$ 9 bilhões para quitar as obrigações. 


Como o governo pretende resolver o problema? Articulando um empréstimo de R$ 20 bilhões de bancos públicos e talvez privados. O dinheiro não será usado para investimentos que tornem a empresa saudável e viável, e sim para mantê-la respirando por aparelhos, pagando dívidas de curto prazo, empregados e fornecedores. 


Até mesmo Caixa e Banco do Brasil resistem a fazer o empréstimo, pois conhecem o risco de calote. Que, se ocorrer, será cobrado do avalista, o Tesouro Nacional. Sim: na engenharia financeira desenhada pelo governo, é o contribuinte quem pagará caso os Correios não o façam. 

Pode-se argumentar que o declínio da estatal começou ainda em 2022, no último ano da gestão Bolsonaro, quando houve prejuízo de R$ 767 milhões após lucros em 2020 (R$ 1,5 bilhão) e 2021 (R$ 2,3 bilhões).

 

(Quem participou do governo passado atribui os lucros a boa administração. Quem está no atual diz que a empresa foi favorecida pela explosão de entregas durante a pandemia e que os ganhos foram inflados pela falta de investimentos – dentro da tese "sucateou para privatizar".) 


Mas há uma ressalva importante sobre o resultado de 2022. Em abril de 2023, a empresa desistiu de uma ação trabalhista de R$ 614 milhões. Sim: a estatal, em prejuízo próprio, escolheu não recorrer no processo, sem parecer jurídico ou consulta à Advocacia-Geral da União (AGU). E lançou o passivo retroativamente no balanço de 2022. 


Outro processo, no valor de R$ 409 milhões, também foi incluído nas contas de 2022 – a empresa, porém, não tinha feito o pagamento naquele ano porque ainda poderia apresentar recursos. O argumento da nova gestão dos Correios foi que a anterior deveria ter classificado ambas as perdas como "prováveis" e lançado no balanço.

 

Quando o site Poder360 contou essa história, os Correios disseram o seguinte: "A marca da atual gestão é o diálogo, ao contrário do governo anterior, que fechou as portas da empresa para as entidades sindicais e retirou 40 cláusulas do Acordo Coletivo de Trabalho, que foram resgatadas pela atual diretoria". 

A declaração ganha relevo comparada a outra, do último balanço da companhia. Lá está escrito que o aumento das despesas "decorre principalmente do crescimento no número de decisões judiciais definitivas, de natureza trabalhista, com desfecho desfavorável aos Correios". 


Outra parte importante do prejuízo vem dos aportes que a empresa é obrigada a fazer em seu fundo de pensão, o Postalis. No ano passado, ela fechou acordo para cobrir metade de um rombo de R$ 15 bilhões; o restante será pago por funcionários, aposentados e pensionistas, vítimas de má gestão do fundo. Desse buraco, R$ 9 bilhões têm origem em maus investimentos feitos pelo Postalis entre 2011 e 2016, no governo Dilma. Os demais são déficits acumulados desde 1981. 


(Antes dos prejuízos registrados de 2022 para cá, os Correios só haviam fechado o ano no vermelho em quatro ocasiões neste século: em 2013, 2014, 2015 e 2016, no governo Dilma, em grande parte por gastos com pessoal e congelamento de tarifas.) 


Não se ignora a dificuldade que uma estatal tem e terá para competir num ambiente povoado por gigantes como Amazon, Mercado Livre e Magalu, que juntos investem dezenas de bilhões de reais ao ano e, compreensivelmente, querem depender cada vez menos dos Correios para fazer suas entregas. Tampouco se ignora que a estatal gasta muito para dar conta de sua chamada função social, atuando em todos os municípios do país e chegando aonde empresas privadas não querem.

 

Tudo isso era, ou deveria ser, do conhecimento de Lula.: Ele entendeu que a forma de lidar com o desafio era encerrando o processo de privatização, iniciado por Bolsonaro, e nomeando para o comando da estatal o advogado Fabiano Silva dos Santos, do grupo Prerrogativas, simpático ao PT e antagonista da Lava Jato.

 

Lula estava certo de sua decisão a ponto de desobedecer à Lei das Estatais, que exige para o comando dessas empresas uma experiência que Santos não tinha. 


(No plano de governo que apresentou em 2022, Lula afirmou ser necessário "proteger o patrimônio do país e recompor o papel indutor e coordenador do Estado e das empresas estatais para que cumpram, com agilidade e dinamismo, seu papel no processo de desenvolvimento econômico e progresso social, produtivo e ambiental do país".) 


Conhecido no meio político como "churrasqueiro do Lula", Santos permaneceu no cargo graças a uma liminar de Ricardo Lewandowski, então ministro do STF e hoje ministro de Lula. Depois o plenário do Supremo entendeu que a lei era válida, mas decidiu manter essa e outras indicações feitas pelo petista.

 

Santos comandou os Correios por 31 meses, os dois últimos após ter pedido demissão. Após muita hesitação, talvez ocupado em agradar ou não desagradar partidos ditos aliados, ou em encontrar alguém que topasse assumir a bronca, em setembro Lula nomeou para o cargo Emmanoel Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil. 


A tarefa de Rondon é similar à de um atacante recém-promovido da base, colocado em campo aos 15 minutos do segundo tempo, com o time perdendo de goleada. É de se perguntar quem o torcedor vai responsabilizar em 2026. 



Fernando Jasper - (Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil) - Gazeta do Povo 


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