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Tropa de Elite III

Tropa de Elite III 

O alto comissariado da ONU emitiu nota sobre a operação policial no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho: “Estamos horrorizados”. A Organização das Nações Unidas se posicionou oficialmente de forma bastante rápida repudiando a ação de confronto contra o tráfico. O repúdio manifestado pela ONU foi ecoado pela imprensa tradicional, referindo-se à operação como a “mais letal” da história. 


Como sempre, a reação mais imediata a um problema antigo e complexo foi o tiroteio demagógico. A maior vítima desse tiroteio todos sabem quem é: a população que vive seu dia-a-dia como refém do crime. Será que a ONU está “horrorizada” com o sofrimento cotidiano de centenas de milhares de moradores do Alemão, da Penha e de outras favelas cariocas? Será que os horrorizados de Genebra sabem que o horror e o terror fazem parte da vida dessas pessoas todos os dias? Será que sabem o que é sair e voltar para casa com medo dos que dominam o seu caminho e a sua vida usando a crueldade e a ausência do direito? 


"Quem sabe, com um pouco de sorte, um fenômeno correlato ao de “Tropa de Elite” não traz uma nova chance de superação da indústria do falso humanismo" 


Devem saber de tudo isso. Mas por algum motivo o repúdio à tortura diária dessas populações indefesas não chega com tanto barulho às manchetes. Não parece ter vindo de Genebra ou de Nova York o repúdio à tentativa de ocultar as roupas camufladas de indivíduos que tombaram na ação policial. Denunciar excessos da polícia é fundamental. Mas as tentativas de inocentar criminosos em confronto com a polícia deveriam ser igualmente denunciadas - até para que fique claro que não há uma predisposição a desqualificar qualquer ação de estado que inclua enfrentamento armado. 


Colocar a polícia sempre no papel do vilão, de forma quase automática, não é uma postura humanitária. Ao contrário, estará possivelmente privando de alguma chance de defesa os que não têm a quem recorrer. O sucesso do filme “Tropa de Elite” teve bastante esse componente: a vibração da população com uma força de segurança que fosse capaz de furar os esquemas de complacência criminosa com base na excelência e na missão de servir. Isso já tem quase 20 anos e o sotaque demagógico no debate sobre segurança pública não mudou nada. 


Mas houve algo diferente nos dias que sucederam à operação policial de 28 de outubro. O ato-reflexo da imprensa demagógica foi procurar imediatamente um vilão providencial. E encontrou-o no governador do Rio, Claudio Castro - um político relativamente pouco conhecido para o cargo que ocupa (muita gente nem sabia o seu nome) e apoiador de Bolsonaro. Estava pronto o noticiário “progressista”: os fascistas atacam novamente. Mas dessa vez surgiu um problema: a opinião pública, manifestando-se caudalosamente pelas redes sociais, passou a apoiar de forma convicta não só a ação de enfrentamento ao Comando Vermelho como especificamente a pessoa do governador. 


A guinada foi dramática. As manchetes foram se afastando rapidamente do tom da ONU (estigmatização automática da polícia) para passar a focar na população oprimida pelo tráfico. Um verdadeiro milagre. Nessas horas tem-se a compreensão exata da urgência dos demagogos com a chamada “regulação” das redes. Sem censura não dá para abafar a opinião pública.

 

Quem sabe, com um pouco de sorte, um fenômeno correlato ao de “Tropa de Elite” não traz uma nova chance de superação da indústria do falso humanismo - essa que hoje sustenta 100% do autoritarismo fantasiado de democracia.


 

Guilherme Fiuza . (Foto: Antonio Lacerda/EFE) - Gazeta do Povo 


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