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#TRÂNSITO » Obra desconsidera ciclista

Hoje, os ciclistas arriscam a vida circulando entre os carros na ponte: DER diz que projeto é antigo e tem os recursos garantidos

A obra de implantação do Trevo de Triagem Norte (TTN), que vai garantir, entre outros pontos, o reforço estrutural da Ponte do Braghetto, está em processo de captação de recursos, de acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF). Porém, como a reparação foi licitada em 2009, antes do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT/DF) e do Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do DF e Entorno (PDTU/DF), especialistas garantem que ela não contempla a mobilidade de pedestres e ciclistas em primeiro lugar, prioridade visada nas leis.
Walterson Ferreira fala dos riscos que é passar pelo local, a pé, diariamente: espaço pequeno para o pedestre
A ONG Rodas da Paz apresentou ao DER-DF, na última semana, um relatório no qual conclui que o projeto do TTN visa à ampliação da capacidade rodoviária, direcionada principalmente ao fluxo livre de veículos motorizados. Mesmo que haja previsão de ciclovias, o texto aponta que o trecho percorrido por quem usa bicicleta será 78% maior que o de carros. “Além disso, não há nenhum desenho de calçada. Essas ciclovias devem ser compartilhadas, o que, na prática, quer dizer que falta caminho para os pedestres”, explica o engenheiro Rafael Stucchi da Silva, responsável pela avaliação.

O especialista garante que o ideal era que o projeto fosse refeito, dando prioridade aos meios de transporte não motorizados e coletivos. “É evidente a priorização do transporte individual. A ciclovia foi desenhada de qualquer jeito, e é preciso humanizar esse espaço.” Para o diretor-geral do DER-DF, Henrique Luduvice, um novo texto está fora de cogitação, já que a liberação dos R$ 159 milhões necessários à conclusão da obra está sendo viabilizada junto do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). “A alteração ensejada pode causar um retardamento no alcance desse financiamento”, justifica.

De acordo com Luduvice, estudos são realizados para que, durante a obra, sejam feitas reduções nas diferenças entre os trajetos percorridos pelos carros e pelas bicicletas. “O DF precisa desses recursos, e estamos em diálogo permanente para que essas mudanças ocorram. A projeto é da administração anterior.”

Perigo
Apesar de a discussão envolver uma reparação que nem tem previsão de início, a penitência é diária para os ciclistas e os pedestres que usam a Ponte do Braghetto. Ainda segundo a análise feita pelo Rodas da Paz, entre 2010 e 2015, o número de pessoas que atravessam a ponte de bicicleta ficou 147% maior. “Se um carro vier na nossa direção, ou a gente é atropelado ou se joga dentro do lago”, ironiza o jardineiro Walterson Ferreira, 51 anos, que passa pelo local diariamente, a pé, para trabalhar. Ele reclama que, mesmo que exista uma passagem, ela não só é bem menor que as seis faixas direcionadas aos carros, como é dividida com os ciclistas. “Sempre passo apreensivo porque o espaço é muito pequeno.”

Os que estão sobre duas rodas também reclamam. O operário da construção civil Paulo Henrique Martins, 30 anos, garante que a sensação é de que um veículo pode atingi-lo a qualquer momento. “Ainda bem que nada aconteceu até hoje, mas atrapalha demais nossa concentração.”

Renata Florentino, coordenadora-geral da Rodas da Paz, atenta para a necessidade de que os próximos projetos de mobilidade urbana sigam as diretrizes do PDOT/DF e do PDTU/DF no que toca à circulação competente e segura de pedestres e ciclistas. “Conhecer a legislação é o mínimo que esperamos. Como o TTN está em vias de receber os recursos, a adaptação é menor. Mas é preciso parar de reproduzir modelos de mobilidade que funcionavam há 100 anos. É preciso pensar nas inovações dos desenhos urbanos.”

"É evidente a priorização do transporte individual. A ciclovia foi desenhada de qualquer jeito, e é preciso humanizar esse espaço”
(Rafael Stucchi da Silva, engenheiro)


Fonte: Rafael Campos – Foto: Carlos Veira/CB/D.A.Press  - Correio Braziliense

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