A pastora Ketiane Couto e a amiga Edwane Queiroz
ganharam cortesias da igreja para assistir ao filme
Antes do lançamento, a produção bíblica já havia arrecadado R$ 3 milhões pela venda antecipada. Mesmo assim, no dia da estreia, o filme teve público escasso em Brasília
Amargando o fracasso das salas vazias após um suposto recorde de pré-venda de ingressos para o filme Os Dez Mandamentos, representantes da Igreja Universal do Reino de Deus decidiram mudar de estratégia na noite de ontem. Líderes religiosos fretaram ônibus e vans para transportar fiéis para os cinemas, ocupar as últimas sessões e reverter a situação. Pastores ainda recomendaram que os evangélicos tirassem fotos das salas lotadas e postassem nas redes sociais para garantir uma propaganda positiva. A iniciativa veio após vários sites publicarem fotos de sessões com ingressos esgotados e poucos espectadores presentes. O filme, lançado ontem em todo o Brasil, é resultado de uma adaptação da tevê.
Antes do lançamento, o longa já havia arrecadado R$ 3 milhões. Somente
no Cinemark, a média de vendas chegou a mil ingressos por dia em uma semana. Na
rede Kinoplex, foram 15,8 mil entradas vendidas para os dias 28, 29, 30 e 31. A
estimativa é de que cerca de 60 mil pessoas tenham ao menos uma entrada em
mãos. Sem se identificar, um pastor de uma igreja evangélica de Taguatinga
admitiu para a reportagem do Correio Braziliense que a Igreja Universal comprou
grande parte dos ingressos para a estreia da produção. Os convites foram
distribuídos entre as sucursais do templo. Porém, nem todos os fieis
compareceram às primeiras sessões, revelando que a expectativa pelo filme não
era tão grande como se pensava.
A reportagem circulou, na noite de ontem, por cinemas em quatro
shoppings do DF. Somente no estacionamento do Casa Park, por exemplo, a equipe
flagrou quatro ônibus fretados. No shopping Pier 21, a igreja usou vans para
transportar os fieis. O mesmo pastor justificou as salas vazias dizendo que os
fieis “até queriam ver o filme, mas não tinham como ir”. Por isso, nas palavras
do líder entrevistado, a entidade religiosa fretou ônibus para ajudar na locomoção
dos espectadores até o cinema.
Questionado sobre a tentativa de apagar a aparência de fracasso, o
religioso disse que “a mídia só mostra o que ela quer”, e ainda ofereceu à
reportagem uma vaga na emissora de tevê da igreja caso a matéria fosse “boa”.
Em um shopping do Guará, a reportagem encontrou o cinema às moscas. Presente na
sessão das 19h, a pastora Ketiane Couto, 50 anos, e a amiga dela, a comerciante
Edwane Queiroz, 33, disseram que “ganharam cortesias” da igreja que frequentam.
“Ouvimos falar que as entradas esgotaram. Ganhamos as nossas”, contaram. E
ainda insistiram que “as vendas foram um sucesso”. “Ouvimos as pessoas dizerem
que acabou tudo”, concluíram.
Fonte: Bernardo Bittar –Luiz
Calcagno – Foto: Douglas Carvalho/CB/D.A. Press – Correio Braziliense