Construído para ser um dos palcos
dos jogos da Copa do Mundo de 2014, o Estádio Mané Garrincha, com capacidade
para 72.788, é, de longe, o monumento aos esportes mais polêmico e
desnecessário já construído no país.
Com uma média de US$ 11,4 mil gastos por assento, o
estádio consumiu mais de US$ 830 milhões para ser erguido e se coloca em
primeiríssimo lugar quando o assunto é o mais caro de todas as arenas
construídas para receber os jogos da Copa. Em relação às arenas mundiais, é
apontado como o terceiro estádio mais caro do mundo.
A enorme fortuna vinda do contribuinte enterrada
numa obra gigantesca, em pleno coração da capital, até hoje não justificou o
investimento e, pior, vem dando sucessivos prejuízos para os cofres públicos.
Sua manutenção custa ao contribuinte R$ 700 mil mensais. A
monumentalidade da obra, projetada totalmente fora dos parâmetros estéticos da
arquitetura da capital, chama a atenção de todos que passam naquela localidade
por seu volume pesado, apoiado por dezenas de colunas, que lhe conferem um
aspecto de objeto inerte, monstruoso e fechado.
A altura do monumento também não respeitou os prédios em volta, o que
acabou conferindo a esse mastodonte de concreto uma importância que
absolutamente não possui nem para o governo nem para a cidade nem para sua
arquitetura desengonçada.
Não bastassem essas características para torná-lo um autêntico
elefante branco, essa arena foi erguida numa cidade que não tem nem nunca teve
tradição no futebol. Não possui times de expressão nacional e os poucos que se
arriscam nessa modalidade não conseguem atrair público para assistir a seus
jogos.
A situação beira o surreal: um estádio dessa magnitude, erguido numa
localidade onde o futebol praticamente inexiste, em uma cidade onde a população
padece de boa educação, boa saúde, segurança e transporte.
Só é possível uma explicação para um fato tão inusitado quando se
suspeita que por trás dessa construção tenha ocorrido grandes volumes de
propinas e outras modalidades do esporte da corrupção e desvio de dinheiro em
obras públicas. Atletismo com a corrida da corrupção onde a disputa se resumia
em saber quem levava mais vantagens às custas de uma população inanimada ou
talvez uma luta de boxe em que a ética e a moral sucumbiram no primeiro round.
Pode-se pensar também num salto ornamental no qual não há como fugir da lei. Da
lei da gravidade e se esborrachar como partido.
Para não ter que arcar com todo esse gasto desnecessário, a equipe do
governador Rodrigo Rollemberg, que herdou o paquiderme, tratou logo de mudar de
finalidade, dando ao estádio a possibilidade de explorar outras fontes
comerciais, como a criação de sala de cinema, teatro, academia, casa de shows.
Mesmo essas atividades, pelas características de arena da obra, não parecem ter
futuro promissor.
Enquanto a solução comercial não surge ou mesmo as sanções penais dos
autores desse monumento não acontecem, o estádio continuará a ser palco da
selvageria de torcidas organizadas vindas de fora e que transformam aquela
arena no que ela é de fato: um monumento ao desperdício e palco de luxo para a
violência no futebol, dominada hoje por facções e hordas criminosas.
***
A frase que não foi pronunciada
“Vamos afundar o Brasil ou vamos refundar o Brasil?”
(Sem ouvir direito a pergunta, alguém quis saber a resposta e também não
entendeu.)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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