Rafael Prudente
Deputado distrital (PMDB)
O MP está propondo uma transação penal
para evitar uma denúncia contra o senhor por prevaricação na sua atuação na CPI
dos Transportes. Pretende aceitar?
Estamos ainda analisando o processo.
Mas não cometi nenhum tipo de crime, nem ilicitude. Fizemos um relatório de
quase cem páginas no final da CPI com as nossas sugestões, colocando alguns
pedidos de correção, como cancelamento de bacias, auditorias e a implantação do
contrato em 100% de sua capacidade, para melhorar todo o sistema.
O senhor é um deputado do PMDB, e a CPI
dos Transportes investigou uma área que estava sob o comando do presidente do
seu partido, o ex-vice-governador Tadeu Filippelli. Há, obviamente, uma relação
política com ele. No seu trabalho da CPI, houve algum favorecimento a ele, evitando
que fosse investigado? É isso que o inquérito aponta...
Primeiro, vamos deixar claro que nem no
parecer da CPI, nem na proposta de indiciamento do Ministério Público foi
citado o nome do ex-vice-governador Tadeu Filippelli. Ele sequer foi
investigado pelo MP ou pela CPI. Obviamente, quando há uma gestão do PT com o
PMDB, que implantou um novo modelo de transporte público, é natural que o
presidente de um partido defenda as suas posições técnicas.
Filippelli municiou o seu trabalho,
passou informações sobre a licitação e o contrato do transporte durante a CPI?
Como foi a implantação de um sistema
complexo no governo anterior, ele defendia o projeto com unhas e dentes, a todo
momento, em qualquer reunião partidária, qualquer tipo de encontro do partido,
seja oficial ou não.
Para um deputado distrital, o fato de
aceitar uma transação penal pode ser um sinal público de que há algo a
esconder?
Aceitar uma transação penal é uma
admissão de culpa. Por eu ter a certeza e a convicção de que não cometi nenhum
crime e que fiz um trabalho benfeito, minucioso, em que dei o meu melhor, não
tenho por que confessar um crime que não cometi.
O senhor é um parlamentar em primeiro
mandato, começando a vida política, mas carrega um sobrenome, Prudente, de uma
história que marcou a cidade, a Caixa de Pandora. Isso atrapalha o seu
trabalho?
Em momento nenhum, fui questionado,
seja na campanha eleitoral, seja no meu mandato hoje. As pessoas faziam,
principalmente no início do nosso mandato, um comparativo entre o jeito de um e
o jeito do outro. Mas, em momento nenhum, fui questionado por ser filho do
ex-deputado Leonardo Prudente.
Nas escutas ambientais da Operação
Drácon, o deputado Cristiano Araújo comenta que pediu ajuda a seu pai para que
ele intercedesse a favor dele no seu trabalho como corregedor da Câmara
Legislativa. Isso aconteceu? Seu pai pediu para que o senhor beneficiasse algum
deputado?
A gente não leva em consideração
conversa de terceiros. Mas, como tem uma relação de pai para filho e a gente
conversa sobre vários assuntos, política, religião, futebol, ele me relatou
que, num encontro casual, que não foi na casa dele, numa festa, onde estava o
deputado Cristiano, num determinado momento, a mulher dele comentou com
Cristiano: “nossa, política dá muitas voltas. É inexplicável. Analisando os
fatos: há algum tempo, existia uma operação (Caixa de Pandora) em que o
corregedor era o deputado Raimundo Ribeiro, e Bispo Renato fazia parte da
Comissão de Ética. Agora, acontece uma operação em que essas mesmas pessoas estão
vinculadas e correm o risco de o filho do meu marido ter de julgá-los".
Foi feita apenas uma análise. Mas quem conhece meu pai sabe que ele não usaria
aquelas palavras coloquiais que foram ditas na gravação que apareceu.
No processo da deputada Liliane Roriz,
você recomendou o arquivamento até decisão em segunda instância. Houve um
pedido de Tadeu Filippelli para que isso ocorresse dessa forma?
Não. Segui a minha consciência. Ser
corregedor é muito difícil, até porque não sou delegado, não sou promotor de
Justiça nem juiz. Mas na Câmara é preciso entender um pouco de tudo e ser, em
determinados momentos, um julgador também. Acredito que dei o meu melhor.
Deixei o meu legado ali. Foi um grande aprendizado para mim analisar um
processo da deputada Liliane Roriz, filha do ex-governador Joaquim Roriz, que
fez história na nossa cidade.
Por Ana Maria Campos – Coluna “Eixo
Capital” – Foto: Bruno Peres -Esp/CB/D.A.Press – Correio Braziliense