Manifestações racistas no futebol não nasceram ontem nem se restringem a estádios brasileiros. Apesar da duração e da abrangência, porém, poucas respostas efetivas têm sido dadas ao fenômeno que envergonha as consciências civilizadas do mundo. Campanhas internacionais — incluída a levada avante na Copa do Brasil — parece não sensibilizar pessoas que confundem espetáculo esportivo com demonstração de intolerância intempestiva no século 21.
Talvez estimulados pela impunidade, torcedores do Grêmio se envolveram em atos de injúria racial dirigidas ao goleiro Aranha, do Santos, na quinta-feira retrasada. Em decisão inédita no mundo, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) excluiu o time gaúcho da Copa do Brasil. O clube vai recorrer. É possível que a sentença seja abrandada. De qualquer forma, acendeu-se a luz vermelha.
Acabou-se a tolerância. Tem-se a impressão de que o STJD quer usar o Grêmio como exemplo. Dezenas de outros casos poderiam anteriormente ter recebido a mesma punição, mas foram poupados. A brandura resultou em duras críticas. Desta vez, o fato de a repercussão ter sido uma das maiores já vistas no país encorajou o tribunal esportivo a tomar a decisão.
Os casos Tinga (no Peru) e Daniel Alves (na Espanha), neste ano, causaram comoção semelhante e prepararam o caminho para a deliberação de agora. Aqueles episódios não poderiam ser julgados no Brasil, mas influenciaram no seguinte sentido: se os brasileiros não aceitam atos racistas contra seus jogadores fora do país, não seria possível que fizéssemos vista grossa ao que ocorre aqui dentro.
É importante, porém, manter as balizas corretas: não satanizar os envolvidos, como a torcedora Patrícia Moreira, que virou “símbolo” do racismo na torcida do Grêmio. As redes sociais já a condenaram e têm a força de amplificar a intolerância. É como se fosse válido pagar uma ofensa com outra. Tal comportamento seria forma de promover caça às bruxas e esquivar os clubes (e outras instituições, como a própria CBF) de responsabilidade.
Mantidos os limites, impõe-se cobrar sanções individuais segundo a lei. A desculpa do anonimato caiu por terra, uma vez que os torcedores foram reconhecidos graças ao auxílio de câmeras. Assim como o Grêmio recebeu punição exemplar, homens e mulheres também devem pagar por injúria racial. A sentença tem força pedagógica e servirá para mudar o comportamento das torcidas, não só no tocante ao racismo mas também à violência e a outros tipos de preconceito.
Visão: Correio Braziliense - 05/09/2014
Talvez estimulados pela impunidade, torcedores do Grêmio se envolveram em atos de injúria racial dirigidas ao goleiro Aranha, do Santos, na quinta-feira retrasada. Em decisão inédita no mundo, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) excluiu o time gaúcho da Copa do Brasil. O clube vai recorrer. É possível que a sentença seja abrandada. De qualquer forma, acendeu-se a luz vermelha.
Acabou-se a tolerância. Tem-se a impressão de que o STJD quer usar o Grêmio como exemplo. Dezenas de outros casos poderiam anteriormente ter recebido a mesma punição, mas foram poupados. A brandura resultou em duras críticas. Desta vez, o fato de a repercussão ter sido uma das maiores já vistas no país encorajou o tribunal esportivo a tomar a decisão.
Os casos Tinga (no Peru) e Daniel Alves (na Espanha), neste ano, causaram comoção semelhante e prepararam o caminho para a deliberação de agora. Aqueles episódios não poderiam ser julgados no Brasil, mas influenciaram no seguinte sentido: se os brasileiros não aceitam atos racistas contra seus jogadores fora do país, não seria possível que fizéssemos vista grossa ao que ocorre aqui dentro.
É importante, porém, manter as balizas corretas: não satanizar os envolvidos, como a torcedora Patrícia Moreira, que virou “símbolo” do racismo na torcida do Grêmio. As redes sociais já a condenaram e têm a força de amplificar a intolerância. É como se fosse válido pagar uma ofensa com outra. Tal comportamento seria forma de promover caça às bruxas e esquivar os clubes (e outras instituições, como a própria CBF) de responsabilidade.
Mantidos os limites, impõe-se cobrar sanções individuais segundo a lei. A desculpa do anonimato caiu por terra, uma vez que os torcedores foram reconhecidos graças ao auxílio de câmeras. Assim como o Grêmio recebeu punição exemplar, homens e mulheres também devem pagar por injúria racial. A sentença tem força pedagógica e servirá para mudar o comportamento das torcidas, não só no tocante ao racismo mas também à violência e a outros tipos de preconceito.
Visão: Correio Braziliense - 05/09/2014