Atrasos nos salários afeta diretamente os pagamentos de despesas diárias dos servidores. O problema também atinge os terceirizados, que prometem paralisação de 30 mil trabalhadores hoje
Por: Thiago Soares - Correio Braziliense
Publicação: 10/12/2014
Em todas as manifestações, a preocupação com os compromissos pessoais estava estampada em cartazes e até no asfalto |
Os servidores da Saúde e da Educação estão tensos com os atrasos nos salários pelas contas pessoais a serem pagas mensalmente e pelas compras de Natal. Mas são as despesas com o dia a dia que mais preocupam os funcionários do GDF. A técnica de enfermagem Magali Maria Galdino, 35 anos, encontra dificuldades para quitar os compromissos financeiros e realizar a matrícula na faculdade. “Eu tinha um dinheiro no banco guardado para fazer a matrícula, porém as contas entraram e o dinheiro foi levado. Corro risco de ficar sem estudar se o salário não for depositado logo”, reclamou a servidora, que presta serviço no Hospital Regional do Gama (HRG).
Em virtude da ausência do pagamento, Homero José da Silva, 28 anos, cozinheiro na Escola Classe Instância, em Planaltina, está com o aluguel e a prestação da moto atrasados. “Os juros estão rolando e as contas, aumentando. A empresa falou conosco que somente vai pagar depois que o governo repassar os valores. Isso é um descaso com os terceirizados e também com a população que acaba prejudica com a falta de serviços.”
"Eu tinha um dinheiro no banco guardado para fazer a matrícula, porém as contas entraram e o dinheiro foi levado. Corro risco de ficar sem estudar se o salário não for depositado logo" Magali Maria Galdino, técnica de enfermagem |
Homero é terceirizado, setor que teme sofrer com a falta de salário. O dia de hoje promete ser de mais paralisações. Cerca de 30 mil trabalhadores terceirizados das áreas de recepção, merendeiras, limpeza, conservação entre outras, prestadores de serviços em escolas, hospitais, administrações regionais e diversos outros órgãos do GDF reivindicam o recebimento dos salários, do tíquete-alimentação e do vale-transporte, que deveriam ter sido pagos na última sexta-feira.
É o terceiro mês que o GDF atrasa o repasse dos contratos, segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Asseio, Conservação, Trabalho Temporário e Serviços Terceirizáveis do Distrito Federal (Seac-DF), Antônio José Rabello Ferreira. “O GDF tem uma inadimplência de mais de R$ 100 milhões. Nos outros meses, conseguimos honrar com os pagamentos aos trabalhadores, mas o atraso pela terceira vez afetou muito as finanças”, explica.
A promessa do governo é quitar parte do débito com as empresas até o fim do dia de hoje. “Estamos fazendo todo o esforço para pagar as dívidas”, explicou Wilmar Lacerda, chefe da secretaria de Estado de Administração Pública. “São diversas secretarias envolvidas e temos que analisar cada contrato. Há uma frustração da receita em todos os estados brasileiros, não somente no DF, que prejudica as finanças”, justificou.
13º no mês do aniversário
Os servidores públicos do GDF recebem o 13º salário no mês em que fazem aniversário, mas pelo menos em duas oportunidades houve tentativas de se alterar essa data para dezembro. Em 2005, o Conselho Especial do TJDFT julgou improcedente Ação Direta de Inconstitucionalidade do ex-governador Joaquim Roriz. A alegação usada pelo governo dizia que não teria dinheiro para pagar a bonificação mensalmente, mas os desembargadores disseram que, além de estar previsto por lei distrital, o 13º salário é garantido pela Constituição de 1988, nos artigos 7º, inciso VIII e 39. Em 2012, já no governo Agnelo, também foi pedida a modificação. A justificativa dizia que a medida não era mais necessária porque o governo tinha dinheiro em caixa no fim do ano. O próprio governo voltou atrás na decisão.