Enquanto professores e servidores da saúde se reuniram para protestar contra atrasos de salários, motoristas brasilienses que passaram em frente ao Buriti amargaram engarrafamento. Quem procurou hospitais também ficou sem atendimento
Por: Isa Stacciarini - Thiago Soares - Correio Braziliense
Publicação: 10/12/2014
Josefa do Nascimento saiu em busca de socorro para a filha, que ardia em febre, mas não teve sucesso: "É uma falta de vergonha" |
Oito horas de caos no centro de Brasília. Trânsito bloqueado, alunos da rede pública de ensino sem aulas e hospitais abertos somente para emergência. A falta de pagamento dos salários de professores e servidores da saúde gerou uma série de protestos na capital. A população ficou, mais uma vez, prejudicada. A pressão dos servidores tornou-se necessária para o governo anunciar o repasse da verba ao Banco de Brasília (BRB), a fim de pagar os vencimentos. No entanto, somente parte da situação está resolvida. Dos 45 mil empregados da saúde, somente 35 mil terão as contas acertadas. Os 10 mil aposentados permanecerão sem salário. A categoria promete nova assembleia para hoje, às 10h, no Hospital de Base do DF.
O não cumprimento da última promessa do governo em acertar os salários atrasados até a noite de segunda-feira levou os manifestantes novamente às ruas. Professores, técnicos, auxiliares, assistentes e especialistas da saúde pública deveriam ter recebido até a última sexta-feira, quinto dia útil do mês. Na noite de segunda-feira, a Secretaria de Administração Pública (Seap) disse, em nota, que, devido a um atraso no depósito, as remunerações só seriam repassadas ontem. Mas isso não ocorreu. Revoltados e com dívidas a pagar, os docentes se reuniram em frente ao Palácio do Buriti, às 10h30 de ontem, e fecharam parte da via N1 do Eixo Monumental. Todas as seis faixas foram bloqueadas e a categoria permaneceu no local por oito horas seguidas.
Protesto de funcionários da Saúde: aposentados ficarão sem pagamento |
Policiais do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTrans) desviaram o trajeto para a pista entre o Tribunal de Contas do DF (TCDF) e o Ginásio Nilson Nelson. O congestionamento chegou até o viaduto de acesso à W3 Norte. Somente às 18h30 os manifestantes liberaram a via. “Os professores só deixaram o local depois que o secretário Wilmar Lacerda entregou em nossas mãos a cópia do empenho, confirmando que a Secretaria de Fazenda havia feito o repasse para o BRB”, afirmou a diretora do Sindicato dos Professores (Sinpro), Rosilene Corrêa.
O GDF encaminhou, aproximadamente, R$ 225 milhões para o banco pagar as remunerações dos cerca 50 mil docentes da ativa e aposentados. As paralisações ocorreram na semana de provas do 4º bimestre dos estudantes e deve haver reposição das aulas perdidas. “Cada escola vai seguir o calendário pedagógico. É necessário adequar as necessidades de cada colégio”, ressalta.
PMs criaram barreiras para manifestantes não entrarem no Buriti |
Por volta das 11h30 de ontem, 50 servidores da área de saúde se uniram ao protesto dos professores em frente ao Palácio do Buriti. Meia hora depois, as duas categorias subiram a rampa da sede do governo. Um cordão de isolamento da Polícia Militar impedia o avanço dos profissionais. O movimento começou com aproximadamente 500 servidores da educação, mas, às 12h, a PMDF confirmou a presença de, ao menos, 2 mil pessoas.
O secretário de Administração Pública, Wilmar Lacerda, reconheceu que o GDF enfrenta dificuldades financeiras. “Isso não é uma excepcionalidade do GDF. O Brasil enfrenta baixo crescimento da economia, mas o pagamento dos salários foi independente das manifestações.”
Reunião dos professores parou o Eixo, que só foi liberado às 18h30 |
Impasse na Saúde
A situação na Saúde ainda é indefinida. Depois de o atendimento nos hospitais do DF ser paralisado durante toda a terça-feira, a categoria foi informada da ordem de pagamento. No entanto, o GDF determinou o repasse apenas para os servidores ativos, deixando de fora os aposentados. “É um absurdo. Um golpe do governo contra os servidores que deram a vida toda para o serviço. Vamos nos reunir e decidir se permaneceremos parados; o que não podemos é aceitar isso”, afirmou a presidente do Sindicato de Empregados em Saúde do DF, Marly Rodrigues. Os trabalhadores fazem uma nova assembleia hoje, às 10h, no HBDF.
Moradora do Recanto das Emas, Josefa do Nascimento, 30 anos, procurou várias unidades de saúde em busca de atendimento para a filha Carolina Barbosa, 7 meses. A menina estava com 38 graus de febre. Depois de ir ao posto de saúde e não conseguir consulta, ela chegou à Unidade de Pronto Atendimento do Núcleo Bandeirante. Lá, a informação era de que todos os serviços haviam sidos suspensos. “Essa situação da saúde é uma falta de vergonha. Por ser a capital do país, tínhamos que ser exemplo para os outros Estados, mas o que acontece é o contrário”, reclamou Josefa.
Cinco dias para Sanoli e governo
A Justiça decidiu que a Sanoli Indústria e Comércio de Alimentação Ltda que fornece alimentação para hospitais públicos do Distrito Federal, deve manter o serviço por mais cinco dias. O juiz da 3ª Vara da Fazenda Pública também determinou que o DF quite a dívida com a empresa no mesmo prazo e nas mesmas condições de sanção pecuniária para o caso de descumprimento. O não cumprimento da decisão vai se tornar multa diária de R$ 30 mil, até o limite de R$ 1 milhão, para ambos os lados. A ação cautelar foi ajuizada pelo DF porque a suspensão dos serviços fere os princípios da continuidade do serviço público, da função social do contrato e da primazia do interesse público sobre o privado.