Rodrigo Janot, não deixou
margem a dúvida
Por: Dora Kramer
Veemente nos termos e implacável
na objetividade, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não deixou
margem a dúvida ao defender, na abertura de Conferência Internacional de
Combate à Corrupção, punições com ênfase a "todos, todos os envolvidos"
no escândalo da Petrobrás. ...
O procurador não cita nomes; nem
seria ainda o momento, tampouco é necessário que o faça, uma vez que a
referência é muito clara em relação à impossibilidade de o governo seguir
tentando desconhecer a real dimensão do estrago. Diante de um quadro de
"gestão desastrosa", a atitude correta seria o afastamento desses
gestores e a imediata colaboração dos responsáveis pela companhia com as
investigações do Ministério Público.
O mundo jurídico nunca foi tão
explícito ao falar sobre a corrupção no País. Outro dia mesmo ouvimos de
ministros do Superior Tribunal de Justiça a constatação sobre a existência de
"roubalheira" desenfreada.
Agora é o procurador-geral da
República - e não um líder de oposição a quem se possa apontar como arauto do
golpismo ou do terceiro tempo eleitoral - quem se diz envergonhado por o Brasil
ainda ser um País "extremamente corrupto". Apontou que a resposta
"àqueles que assaltaram a Petrobrás" será firme e que a Justiça não
dará descanso enquanto não houver punição a "todos".
Cobrou do governo decreto que
regulamenta a Lei Anticorrupção em vigor desde o início do ano. Esse mesmo
governo que dias atrás editou decreto de lei ainda a ser aprovada (da meta
fiscal) apenas para poder embutir no texto a promessa de liberação de emendas
parlamentares se o projeto fosse aprovado.
Em seguida à manifestação do
procurador, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, convocou entrevista
para rebater Rodrigo Janot. Posicionou-se de modo ambíguo. Ao mesmo tempo em
que se referiu à existência de "fortes indícios" de corrupção, negou
com segurança quaisquer indícios contra a direção da companhia que, segundo
ele, tudo tem feito para ajudar as investigações.
Não foi o que vimos, desde o
início desse rumoroso caso. Na conduta de ex-diretores, atuais dirigentes da
estatal, ministros, ex-presidente da República e a atual ocupante do cargo.
Todos atuaram para "blindar" a companhia e atribuir denúncias a
armações políticas. Houve resistência do envio de documentos ao Tribunal de
Contas da União, mentiras diante das comissões de inquérito do Congresso e
repetidas declarações de que nada havia de errado nos negócios da Petrobrás.
Nessas garantias se inclui o aval
da presidente da República em setembro último: "Se houve alguma coisa, e
tudo indica que houve, eu posso garantir que todas as sangrias estão
estancadas". Estava dizendo que tinha o domínio dos fatos.
Há uma hora em que os governantes
não podem mais se fingir de surdos. Diante do clamor cada vez mais ensurdecedor
da Justiça, a hora é essa. Antes que passe da hora.
Ilegal, e daí? A construtora
Camargo Corrêa contratou José Dirceu para prestar serviços de análise de
"aspectos sociológicos e políticos do Brasil" e dar palestras e
conferências internacionais sobre a "integração dos países da América do
Sul", entre maio de 2010 e fevereiro de 2011, conforme revelaram
documentos encontrados nas investigações da Operação Lava Jato.
Há nessa e em outras contratações
um aspecto a ser ressaltado: o fato de o contratado como consultor constar como
réu de ação penal (470) em tramitação no Supremo Tribunal Federal desde 2007,
acusado pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha.
Qual a razão de empresas
contratarem uma pessoa a respeito da qual pesavam tão graves acusações para
representá-las em eventos nacionais e intencionais?
Hipóteses: 1. Absoluta
indiferença aos marcos da legalidade; 2. Convicta confiança na impunidade; 3.
Contratos de fachada para acobertar "serviços" de tráfico de
influência.
Fonte: O Estado de S. Paulo, por Dora Kramer - 10/12/2014