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Memória não deixa morrer a história de quem morreu combatendo a ditadura

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O Grupo Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça foi lançado no Rio,  para debater os efeitos, nas gerações seguintes, da violência de Estado contra adversários do regime militar, que perseguiu, prendeu, torturou e assassinou inúmeras pessoas. O grupo foi apresentado no evento Testemunho da Verdade, organizado pela Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio) e pelo Projeto Clínicas do Testemunho, do Ministério da Justiça, na sexta 5, esperando que amanhã, finalmente, seja outro dia.
A professora de teatro Márcia Curi Vaz Galvão, filha do ex-preso político brasileiro Arakém Vaz Galvão e da ex-presa política uruguaia Glady Celina Curi Bermúdez, explica que a idéia de reunir os filhos e netos dos perseguidos surgiu nos grupos de terapia das Clínicas do Testemunho, onde as então crianças afetadas pela perseguição do regime a seus pais puderam identificar afinidades em seus questionamentos.
“Eu sempre me senti uma pessoa que não se encaixava em lugar nenhum. Fiz faculdade, tinha amigos, mas não me encaixava. De repente, eu comecei a perceber por que essa minha desconexão com o planeta, essa coisa desfragmentada. Eu não fazia parte de lugar nenhum, até porque eu vivi em muitos países. Eu tinha buracos e, nesse grupo, começaram a fazer sentido os meus buracos”, lembrou Márcia.
O grupo de filhos e netos tem 18 membros e, para o futuro, segundo Márcia, a ideia é agregar também pessoas afetadas pela atual violência do Estado. O presidente da CEV-Rio, Wadih Damous, ressaltou que o grupo é formado por pessoas que tiveram a trajetória de vida e a formação afetadas pelo convívio familiar, ou pela falta dele, durante a ditadura.
“Temos uma peculiaridade aqui no Rio de Janeiro: temos gerações de filhos e netos de perseguidos políticos, ex-presos, torturados, desaparecidos, uma geração que não sofreu diretamente a violência da ditadura militar, não foram crianças torturadas ou arrancadas do convívio dos seus familiares, como aconteceu em São Paulo e, sobretudo, na Argentina. São gerações que carregam a dor dos seus pais, dos seus avós, dos seus ascendentes que sofreram a violência da ditadura”, disse Damous.
A CEV-Rio vai organizar outros encontros com os filhos e netos dos perseguidos políticos para colher mais relatos e incorporar os textos ao relatório final, com previsão de ser concluído no fim de 2015. O relatório parcial já está disponível no site da comissão. Damous afirmou também que a CEV-Rio vai se empenhar junto ao Ministério da Justiça para que o projeto piloto do projeto Clínicas do Testemunho passe a ser uma política permanente.
Além do testemunho de cinco filhos ou netos, o evento Testemunho da Verdade, que ocorreu na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), contou com exposição de fotos, cartas e desenhos da época e uma performance teatral com Rita Maurício, filha do ex-preso político José Luiz Maurício.

Publicado originalmente em naredecomjoseseabra.com.br  Por: José Seabra 

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