Por: Carlos Chagas
O confronto virou conflito. No caso, entre o governo e o PMDB.
Melhor dizendo, entre a presidente Dilma e os presidentes Eduardo Cunha e Renan
Calheiros. Do jeito que as coisas vão, o rompimento não passa da semana que
vem. Em vez de servir de base parlamentar, o partido transformou-se em
adversário. É real e imediato o perigo de o palácio do Planalto ficar
desamparado, sob a evidência de que o Congresso readquiriu sua independência.
De um lado, erros e contradições de Dilma. De outro,
ressentimentos e ambições de Cunha e de Renan.
O problema é saber as consequências da beligerância para o país.
A sombra do impeachment pode adensar-se, assim como a abertura de inquéritos no
Supremo Tribunal Federal contra os presidentes da Câmara e do Senado será capaz
de transformá-los em réus. Nesse meio tempo, o palco para a batalha maior será
montado em torno da reforma política. A tendência no PMDB é aprovar o maior
número de mudanças institucionais em condições de atingir o governo e o PT. Uma
preliminar desse entrevero estará na votação das medidas de ajuste econômico.
O POVO ESTÁ QUERENDO
Disse uma vez o então presidente da Câmara: “O que o povo quer
esta casa acaba querendo”. É nítida, nas ruas, a rejeição do aumento de
impostos, a elevação dos preços e tarifas dos combustíveis, dos serviços de
água e luz, além da supressão de direitos trabalhistas. O governo perdeu a
classe média e vem sendo abandonado pelo proletariado e pelos empresários. O
Congresso atinge níveis de rejeição superiores aos do Executivo. Não demora e
assistiremos a repetição, como farsa, da solução adotada em 1945 quando do fim
da ditadura do Estado Novo: “Todo o poder ao Judiciário”. As forças armadas não
vão intervir, os sindicatos não podem, enfraquecidos pela administração do PT.
A Igreja Católica saltou de banda, as demais igrejas manifestam desinteresse
pelas coisas terrenas e as elites cuidam de sobreviver. Também real e imediato
é o perigo da desintegração nacional.
“POR QUE NÃO SE CALA?”
Ficou para a História a indagação do rei Juan Carlos, da
Espanha, ao presidente da Venezuela, Hugo Chaves: “Por que não se cala?”
A pergunta precisa ser feita ao ex-presidente Fernando Henrique,
que todos os dias dá os mais desbaratados palpites sobre a realidade nacional.
Deveria lembrar-se de sua responsabilidade na crise que nos envolve.