Por: Pedro do Coutto
O governo, parece incrível, decidiu atribuir ao ministro Joaquim Levy a tarefa de articular junto ao Congresso Nacional entendimentos considerados necessários para aprovar o projeto de ajuste fiscal que recebeu 750 emendas de senadores e deputados e vem criando resistências de todos os lados. Parece incrível, mas é o que revela reportagem de Maria Lima e Isabel Braga, O Globo, edição de quinta-feira. O esforço ao qual vem sendo obrigado a suportar é enorme, uma vez que, nos encontros de que participa, termina com os nervos à flor da pele, acrescentam as repórteres. Mas quem é o autor de tal escolha? – pergunto eu.
Só pede ter sido a própria presidente Dilma, pois, caso contrário, ela o vetaria para a missão que não se ajusta a seu perfil tecnocrático. A introdução do titular da fazenda na área partidária será um desastre. Aliás, como vem acontecendo. Basta ler os que escreveram Maria Lima e Isabel Braga sobre o encontro que ele manteve, há poucos dias, com o prefeito Eduardo Paes, na residência, e Michel temer, no Palácio Jaburu.
A BRIGA COM PAES
O tema girava em torno do posicionamento do prefeito do Rio contra a decisão do Planalto de cobrar, pela lei antiga, as dívidas dos estados e municípios para com a União. A temperatura subiu. Eduardo Paes lembrou que a nova lei sobre o problema foi sancionado em novembro pela própria presidente Dilma Rousseff que, portanto, ela não poderia suspendê-la por um ato de vontade pessoal. O contra argumento colocado por Joaquim Levy espanta pelo absurdo.
Disse ele, segundo O Globo, que nada tinha com qualquer acordo anterior à sua entrada no Executivo. A lei (veja só) era de novembro e ele, Levy, só assumiu o cargo a partir de primeiro de fevereiro. Tratou a lei como se tratasse de mero entendimento entre as partes. Será possível que demonstrou ignorar a própria essência da legislação? Não acredito, mas foi o que fez concretamente. O ministro se exaltou, o prefeito também. Não houve, tampouco poderia haver, qualquer solução à mesa de um jantar assim. O episódio é um exemplo emblemático de que o chefe da equipe econômica da administração federal não possui a menor afinidade com o universo político, que, não por acaso, é sinônimo de polidez. Um caso típico de sensibilidade.
FALTA SENSIBILIDADE
O governo da presidente Dilma Rousseff vem demonstrando insensibilidade, tanto assim que está brigando com os fatos, como se dizia. Os diretores do Datafolha, Marcos Paulino e Alessandro Janoni, em reportagem assinada na Folha de São Paulo, também do dia 26, revelam que apenas 11% dos eleitores que votaram na candidata à reeleição encontram-se satisfeitos com o desempenho da presidente. Os dados são alarmantes e decorrem do desencontro entre a palavra antes das urnas e o gesto depois da apuração dos votos. O resultado é esse: falta rumo ao Executivo.
O fenômeno está configurado na seleção de pessoas erradas para atribuições que nada têm a ver com seus perfis. Joaquim Levy falhou ao falar com o prefeito do Rio. O presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, nada fala sobre os rumos da crise que explodiu na empresa. São pontos extremos que se tocam dentro da lei da gravidade. Um desastre.
Fonte: Portal "Tribuna da Internet"