Vicente Nunes -
Correio
Braziliense
A presidente Dilma
Rousseff,estrategicamente, não fez comentários públicos sobre o resultado do
Produto Interno Bruto (PIB) de 2014— alta de 0,1% —, mas se espera que, no
conforto do Palácio do Planalto, tenha se conscientizado do mal que fez ao país
nos quatro primeiros anos de mandato. A estagnação da economia no ano passado e
o tombo de até 2% previsto para 2015 mostram que a política que esteve sob a
batuta do então ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi um fracasso.
Foram muitos os alertas sobre os
erros que o governo estava cometendo, mas, em vez de ouvir os avisos, Dilma
preferiu desqualificar os que ela chamava de críticos pessimistas. Se ao menos
tivesse tido um pouco de humildade para avaliar os resultados que estava
colhendo, certamente os brasileiros não estariam hoje ameaçados pelo desemprego
e pela queda da renda.
Dilma, que segundo o seu
professor na Universidade de Campinas, Luiz Gonzaga Beluzzo, entrava muda e
saia calada das aula de economia, apostou todas as fichas na teoria de que o
Brasil poderia conviver com um pouco mais de inflação para impulsionar o
crescimento. Acreditou que o Estado poderia bancar, por tempo indeterminado,
estripulias para cobrir tarifas de energia elétrica. Não se intimidou em
destroçar o caixa da Petrobras ao segurar os preços dos combustíveis.
DESCONFIANÇA
Em vez de atingir seus objetivos,
Dilma destruiu a capacidade de avanço da economia. Semeou a desconfiança que
travou os investimentos produtivos e o consumo das famílias. O estrago foi
tamanho que ela conseguiu reverter duas das principais bandeiras do PT, o
partido dela: a redução das desigualdades sociais e a manutenção do emprego.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde 2012,
com a inflação alta, vem aumentando o fosso que separa pobres e ricos e, apenas
nos dois primeiros meses deste ano, a taxa de desocupação saltou de 4,3% para
5,9%.
A situação só não é mais
desesperadora porque, depois das eleições presidenciais, uma nova Dilma deu as
caras. Como num passe de mágica, ela, que havia negado qualquer problema na
economia durante a campanha à reeleição, admitiu que o Brasil flertava com o
descalabro administrativo. Para dar um tom de responsabilidade ao governo,
demitiu Mantega e nomeou Joaquim Levy para a Fazenda.
A partir daí, o país foi se
conscientizando do tamanho do buraco que havia sido cavado pela tal nova matriz
econômica de Dilma. As contas públicas escancararam um rombo de quase 7% do PIB
e a inflação encostou nos 8%, o que não se via desde 2003, quando Lula tomou
posse pela primeira vez. Justamente para reverter esse desastre, o país terá
que fazer o maior esforço fiscal dos últimos 16 anos. Esse arrocho, combinado
ao aumento da taxa básica de juros (Selic), que está em 12,75% ao ano, e à
suspensão de obras da Petrobras por causa da corrupção, levará a uma pesada
recessão.
VANGUARDA
DO ATRASO
Não se sabe até quando Dilma terá
estômago para aguentar a pressão política contra os ajustes tão necessários à
economia. Mas é certo que, sem ele, dificilmente ela conseguirá terminar o
mandato de cabeça em pé. Pode até permanecer no trono. Mas sua biografia depois
de 2018 ostentará o título de uma das piores presidentes da história do Brasil.
Pelo resultado do PIB nos quatro
primeiros anos do mandato, ela já está na linha de frente quando se avalia o
período pós-redemocraticação do país. O avanço médio anual de 2,1% do PIB só
não é menor do que a contração de 1,7% nos dois anos de Collor de Mello. Dilma
é séria candidata ao pior do pior.