Beijaço em frente ao Congresso Nacional em 2013: em dois anos, uma dezena de protestos semelhantes
Grupos favoráveis à causa
LGBT organizam protesto após casal ser repreendido em bar na Asa Norte O beijo
como ato político
Entre 2002 e 2014, Brasília
assistiu a pelo menos 10 beijaços. O protesto tornou-se a reação mais simbólica
e efetiva contra a discriminação e a violência sofridas por gays no Distrito
Federal. O próximo está marcado para a próxima sexta-feira, em frente ao bar
Resenha, na 410 Norte, onde duas meninas foram repreendidas após se beijarem. A
manifestação foi combinada pelas redes sociais e recebeu como título “Tem
Família no Beijaço”, com curtidas de 2,2 mil pessoas. A publicitária Ludmila
Toledo, responsável pela organização do beijaço, afirma que é importante
mostrar que as pessoas, principalmente as mulheres, têm voz. Por isso, o
beijaço ressalta o preconceito sofrido pelas mulheres gays, o que foi batizado
como “lesbofobia”. “O preconceito com as lésbicas tem outro peso”, acredita.
Para
representantes do movimento LGBT e especialistas, o beijaço tornou-se uma arma
eficaz. “A medida, que é simples e consegue fazer barulho, é um dos mecanismos
de defesa, cujo resultado pode ser mais rápido que o da Justiça”, diz o
sociólogo Rhael Marques. Desde 2011, a Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República recebeu 363 queixas de discriminação e violência do
DF. O número é baixo, se comparado a São Paulo, onde existiram 1.063, ou o Rio
de Janeiro, com 516 casos. Ainda assim, Brasília tem ficado no topo, segundo
Welton Trindade, representante do Movimento LGBT do DF. “Por isso, o beijaço é
pedagógico. Não existem campanhas e o discurso evangélico tem servido como base
para ações homofóbicas”, afirma.
Welton
afirma que aguarda a posição do governo Rodrigo Rollemberg em relação à
regulamentação da Lei 2.615, que pune a discriminação à orientação sexual no
DF. “O governo recuou em relação à criação de uma subsecretaria e ficou de
montar um comitê para regulamentar a lei, mas até agora nada”, reclama. Para
ele, seria um aceno em favor de um grupo que só cresce. “Já temos 10 paradas
gays no DF, inclusive a terceira maior do país.”
Para o
secretário adjunto de Políticas de Direitos Humanos da Secretaria de Estado de
Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, Raimer
Resende, diminuir a discriminação contra os gays é prioridade. “Vamos combater
o preconceito de todas as formas. Um crime de homofobia não é um delito comum,
por isso, é necessário ter um tratamento diferente, principalmente com a
vítima”, afirmou. Segundo ele, o trabalho será feito em três pilares:
prevenção, punição e acolhimento da vítima.
No dia a
dia, no entanto, muitos casos nem sequer chegam ao conhecimento das
autoridades. Os gays muitas vezes preferem tornar pública a ofensa com
manifestações. O episódio ocorrido no último sábado no bar Resenha deixou as
duas mulheres, que preferem não se indentificar, sem reação, mas elas se
negaram a deixar o bar. Depois de trocarem um beijo na boca, foram abordadas
por um homem. Ele pediu que elas “maneirassem” e emendou, dizendo: “Tem família
aqui”. De acordo com uma delas, o mesmo homem teria se irritado com o grupo.
“Ele ficou olhando, nos encarando em tom de ameaça. Mas não tive medo nem
vergonha”, garantiu.
As
garotas acreditam que o homem que reclamou do beijo é sócio do bar. Pela
internet, o empresário Abdou Ghazai garantiu ser o únido dono do
estabelecimento e também disse que não estava no local. Ele afirmou que “o
responsável pelo comentário é um cliente antigo e que tem costume de ajudar o
gerente”.
A
publicitária Marina Magalhães, 27 anos, acredita que Brasília ainda é
intolerante em relação à diversidade sexual, embora nunca tenha sofrido
violência. Há um um ano e meio, ela namora a funcionária pública Anna Moraes,
22, e o segredo para não passar vergonha na rua é frequentar lugares
considerados gay friendly, ou seja, onde os homossexuais são bem-vindos.
“Ficamos sabendo que o lugar é tranquilo quando tem muito gay entre os clientes.
A partir daí, começamos a frequentar”, diz.
De acordo
com Marina, “algumas pessoas são estúpidas”. “Não reclamam de você ser gay, mas
exigem um comportamento que é considerado normal.” Significa dizer que dois
cidadãos do mesmo sexo não “devem” fazer carinho em público, por exemplo.
“Quando sinto que o lugar não é propício, evitamos. Mas é chato”, reclamou. De
acordo com ela, ainda existe, especialmente na capital, quem se incomoda com o
simples fato de duas mulheres deixarem claro que são um casal. Por isso, a
bandeira a “lesbofobia” está ganhando força entre as meninas gays. Sobre o
protesto de depois de amanhã, ela afirmou: “É para beijar que nem hétero em
micarê”.
O projeto de criminalização da homofobia foi arquivado em janeiro no Senado Federal, após tramitar por mais de oito anos sem avançar no Legislativo. De autoria foi a deputada Maria do Rosário (PT-RS), o projeto da Câmara tipifica crimes de ódio e de intolerância contra diferentes grupos, entre eles os religiosos e os migrantes, mas com foco em criminalizar a homofobia. A principal resistência à proposta vem da bancada evangélica, que considera que o projeto viola o direito à liberdade de expressão. Eles temem que as pessoas que se manifestem contra as relações homoafetivas sejam submetidas às penas, que variam de 1 a 5 anos de reclusão. O Exército brasileiro também disse ser contra o projeto, afirmando que ele pode causar “efeitos indesejáveis”.
"É para beijar que nem hétero em micarê"
Marina Magalhães, 27 anos, deixando claro como será o protesto
Mutirão de casamentos
Em 24 horas, após um post
nas redes sociais, nove casais manifestaram interesse em participar de um
mutirão de casamentos gays no DF. Hoje, são cerca de 30 inscritos no primeiro
mutirão de casamentos gays. Organizado pelo Movimento LGBT de Brasília, o
evento será realizado em 28 de junho,em frente ao Congresso Nacional. O local
escolhido foi para chamar a atenção da necessidade de confrontar o
recrudescimento de ideologias contrárias ao movimento LGBT, conforme explicou
Welton Trindade, integrante do movimento.
Segundo
Welton, um ofício foi encaminhado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Humano e Social pedindo apoio para resolver os trâmites legais do casamento
coletivo, demanda que seria repassada à Secretaria de Justiça e Cidadania do
DF, que já realiza o Programa Alma Gêmea. A Sejus não se pronunciou em
relação ao mutirão do Movimento LGBT. Mas negou que exista uma iniciativa do
governo de realizar um casamento coletivo para gays, conforme publicou o
Correio na última segunda. Em nota, esclarece: “O Alma Gêmea é um projeto
voltado para casais de baixa renda, que querem legalizar uniões. As vagas para
o primeiro mutirão já estão preenchidas e não há nenhum pedido de participação
de pessoas do mesmo sexo, conforme divulgou o jornal. Ressaltamos ainda que o
projeto não discrimina uniões homoafetivas e que o critério para a realização
dos casamentos é a comprovação de baixa renda”.
Serviço
Inscrições
pelo e-mail casamentodf@outlook.com
Fonte: Correio Braziliense