Pesquisa com cerca de 6 mil
empresas de vários portes do varejo em todo o país realizada pela Serasa
Experian revelou que o setor encerrou o primeiro trimestre com o pior
desempenho dos últimos 12 anos. Houve crescimento de 0,6% ante o primeiro
trimestre de 2014. Mas isso é nada na comparação com a festa da corrida às
compras que grande parcela da população comemorou há alguns anos.
Ao
analisarem as impressões dos comerciantes ouvidos, economistas da Serasa
concluíram que a alta da inflação, o crediário cada vez mais caro e,
principalmente, a falta de confiança na economia e na manutenção dos empregos
estão pesando no ânimo do consumidor. Praticamente, nenhum segmento escapou da
baixa nas vendas, o que levou a maioria dos empresários a conter as
expectativas de melhora da situação neste ano.
Mesmo no
comércio eletrônico, que tem sido o mais dinâmico do varejo, a postura é de
cautela. Ainda repercute a queda do Brasil do 7º para o 21º lugar no ranking
dos 30 países com maior atratividade no e-commerce em 2014, organizado pela
consultoria internacional A.T. Kearney.
Fora das
contas do varejo, as vendas de automóveis, de grande peso no comércio interno,
também têm previsões preocupantes. Ontem, a Associação Nacional dos Fabricantes
de Veículos Automotores (Anfavea) antecipou que a expectativa é de queda de 13,2%
nas vendas em 2015, em comparação com as de 2014. O máximo que se espera é que
o emplacamento de veículos leves fique estável em relação ao ano passado, que
não foi brilhante. Mas os segmentos pesados (caminhões e ônibus) deverão ter
queda de 31,5%.
A Anfavea
tampouco espera desafogo nas exportações. Mesmo com a alta do dólar, a entidade
elevou a modesta previsão de aumento das vendas para não mais de 1,1% de
veículos leves e de 2,7% para pesados em 2015. Em razão da desaceleração, que
vem ocorrendo desde 2014, a indústria recolheu os projetos de expansão e já
teria demitido cerca de 15 mil pessoas entre o fim do ano passado e os
primeiros três meses deste ano, conforme cálculo de entidades sindicais do
setor.
O que se
teme, agora, é que o corte de pessoal chegue ao comércio, que tem peso razoável
na absorção de mão de obra, inclusive a menos qualificada. Isso aumentaria o
tamanho da conta a ser paga pelo trabalhador em razão da crise na economia
brasileira, atolada em estagflação que não se sabe quanto vai durar.
A
propósito, é bom que se esclareça que o quadro negativo do comércio, que faz o
setor perder participação relativa na formação do Produto Interno Bruto (PIB),
não é surpresa. Não foram poucos os economistas que alertaram para o erro de
diagnóstico do segundo governo de Lula e do primeiro de Dilma.
Foi
quando se decidiu tentar reanimar a economia pela via do aumento do consumo. A
partir dessa visão equivocada, o governo forçou a baixa dos juros, a queda da
tarifa de energia elétrica, a manutenção artificial dos preços dos
combustíveis, a retirada de impostos de eletroeletrônicos, móveis e produtos da
linha branca. A economia não reagiu e não há mais como esconder a crise. Não
admira a indignação que levou quase 2 milhões às ruas.
Fonte: Visão do Correio
Braziliense