Em 15 de abril de 1955, a área onde seria construída a nova
capital era, finalmente, definida. O Sítio Castanho, uma imensa vastidão de
cerrado, seria desapropriado para dar lugar a uma cidade
O Sítio Castanho foi definido pela Comissão de Localização da Nova Capital Federal como o local ideal para receber Brasília. A Fazenda do Bananal (D) abrigaria o Plano Piloto
O mês de abril guarda outras datas importantes para a
preservação da memória de Brasília, além do aniversário da cidade. Há 60 anos,
era escolhido o sítio onde seria erguida a capital. A Comissão de Localização
da Nova Capital Federal foi a responsável pelo estudo que resultou na escolha
do Sítio Castanho, em 15 de abril de 1955. A definição da área permitiu as
primeiras desapropriações de terra para erguer Brasília em meio ao Planalto
Central. A data é desconhecida por muitos brasileiros, mas historiadores da
capital tentam resgatá-la.
A escolha
do Sítio Castanho, onde Brasília foi erguida, só foi possível devido a um
decreto assinado pelo então presidente, Getúlio Vargas, em 1953. O documento
criava a Comissão de Localização da Nova Capital Federal, responsável por fazer
estudos e escolher a área para a construção da cidade. O grupo, presidido pelo
então chefe do gabinete militar da Presidência da República, o general Agnaldo
Caiado de Castro, contratou uma empresa para fazer um levantamento
aerofotogramétrico — reunião de dados topográficos por meio de fotografias
aéreas.
Concluída
essa etapa, uma empresa americana foi contratada para analisar as informações e
propor os melhores lugares para a construção de Brasília. O trabalho ficou
conhecido como Relatório Belcher. Caberia aos integrantes da comissão escolher
o local exato para erguer a cidade. Definido o Sítio Castanho, o grupo levou a
demanda até o presidente da República. “Getúlio Vargas suicidou-se em 1954 e o
presidente que assumiu, Café Filho, não quis assinar o decreto que autorizava a
desapropriação da área para a construção de Brasília”, contou o professor e
historiador Jarbas Silva Marques.
Segundo
ele, foi o governo de Goiás que deu início à desapropriação de terras, por meio
de uma lei estadual. O historiador lembra o esforço do grupo para conseguir
tirar do papel a ideia de construir Brasília. “O marechal Pessoa, presidente da
comissão, solicitou um avião ao ministro da Aeronáutica e, acompanhado de
Ernesto Silva, dirigiu-se a Goiânia para expor o impasse, além de fazer um
apelo ao governador.”
Marques
reforça a necessidade de lembrar a data, importante para a cidade e para o
Brasil. “É preciso fazer justiça a Getúlio Vargas, que assinou o decreto
criando a comissão. As pessoas ficam nessa visão ‘juscelinesca’, mas, se não
fossem Vargas; o marechal Pessoa, que presidiu a comissão; e o governo de
Goiás, que desapropriou as terras, Juscelino não conseguiria fazer Brasília”,
comentou.
O próximo
passo coube ao então governador de Goiás, José Ludovico. Ele buscou apoio de
procuradores e desembargadores favoráveis à mudança para encontrar uma solução.
Eles decidiram pela criação da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital
Federal. A primeira fazenda a ser desapropriada foi a do Bananal, em 30 de
dezembro de 1955, onde estão a Asa Norte, o Eixo Monumental e a Asa Sul. Ela
fazia parte da área do Sítio Castanho.
Arquivo
Partes do Relatório Belcher, que está disponível à população no Arquivo Público
A
documentação sobre o Relatório Belcher pertencia à Companhia Urbanizadora da
Nova Capital (Novacap) e chegou ao Arquivo Público do Distrito Federal em 1987.
São fotos aéreas, mapas e o relatório elaborado pela comissão. “É mais um
documento importante da história de Brasília que chamamos de antecedentes, como
as Missões Cruls e a excursão do General Poli Coelho. Uma peça rara que compõe
o conjunto documental que proporciona as ligações sobre a história da cidade”,
comentou a superintende do Arquivo Público, Marta Célia Vale. Segundo ela, a
documentação está quase toda digitalizada e qualquer cidadão tem acesso a ela.
Linha do tempo
8 de junho de 1953
8 de junho de 1953
O
presidente Getúlio Vargas assina o Decreto nº 32.976, que cria a Comissão de
Localização da Nova Capital Federal
Janeiro de 1954
A empresa
contratada pela comissão conclui os trabalhos de aerofotogrometria
25 de fevereiro de 1954
A empresa
americana Donald J. Belcher and Associates Incorporated é contratada para
analisar a documentação e selecionar os sítios mais favoráveis para a
construção de Brasília
24 de agosto de 1954
Getúlio
Vargas se suicida
5 de fevereiro de 1955
Representantes
do governo de Goiás e da comissão se encontram no ponto mais alto do Sítio
Castanho, onde hoje
é o Cruzeiro, no Eixo Monumental
15 de abril de 1955
É
realizada a reunião que decidiu oficialmente pelo Sítio Castanho
30 de dezembro de 1955
Em
solenidade no Palácio das Esmeraldas, em Goiânia, é assinada a desapropriação
da Fazenda Bananal, onde
seria construído o Plano Piloto
Fonte: Thaís
Paranhos – Correio Braziliense – 14/04/2015