Relatório produzido pelo
Tribunal de Contas do DF mapeia nove pontos da cidade que precisam de reparos
urgentes. Falta de manutenção expõe problemas como rachaduras, infiltrações e
pinturas desgastadas nos principais pontos turísticos
Os principais monumentos de
Brasília chegarão ao aniversário de 55 anos da capital com problemas de falta
de manutenção e má conservação, velhos conhecidos da população. As construções
apresentam falhas, como rachaduras, infiltrações, pintura desgastada, fiação
exposta, entre outras. O alerta foi feito pelo Tribunal de Contas do Distrito
Federal (TCDF), após concluir uma auditoria feita pelos técnicos do órgão.
Pontes e viadutos, além do Teatro Nacional, da Rodoviária do Plano Piloto e do
Memorial dos Povos Indígenas (veja quadro) passaram por avaliação dos
profissionais. O relatório também apontou a necessidade de o governo retomar
obras inacabadas.
No
documento, o Tribunal de Contas faz um alerta sobre a manutenção das
construções: “É feita de maneira improvisada, casual e não garante a integridade
das edificações públicas”. Um dos casos mais graves é o do Museu Nacional. A
obra de Oscar Niemeyer, inaugurada em 2006, apresenta falhas na pintura,
infiltração, desgaste da rampa de acesso e elevadores parados e sem contrato de
manutenção.
O Teatro
Nacional é outro local que causa preocupação. O GDF está ciente dos problemas e
afirma que uma revitalização completa do espaço custaria R$ 200 milhões. E não
é para menos. O levantamento aponta muitos problemas. Além da pichações na
parte externa, há defeitos internos. Piso dos palcos com buracos, mobília em
estado precário e saídas de emergência comprometidas são apenas alguns deles.
Para o
TCDF, o Distrito Federal desrespeitou a Lei de Responsabilidade Fiscal por
muitos anos, pois a legislação exige do ente federativo a previsão, na lei
orçamentária, de recursos exclusivos à manutenção de locais públicos. Resultado
da auditoria deverá ser entregue ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB) na
próxima semana.
Decepção
Um grupo
de estudantes de arquitetura de uma universidade do Maranhão veio à capital
estudar os monumentos da cidade. Todos se encantaram com os traços de Niemeyer,
mas ficaram igualmente impressionados com o descaso com as edificações. “A
beleza do museu realmente chama a atenção. Mas é muito mal acabado. Um
funcionário do espaço nos disse que a estrutura não passa por manutenção desde
que foi inaugurada, há nove anos”, critica Francisco das Chagas.
Descartes
Kunzi é do Congo e mora há cinco anos no Recife. Veio a Brasília renovar o
passaporte brasileiro e decidiu ficar mais uns dias. Adorou a arquitetura e a
organização da capital, mas também cobra mais cuidado do poder público com os
monumentos. “O museu é lindo, mas a tinta está descascando, está com aparência
de sujo. A rampa também podia estar mais limpa.”
A
Rodoviária é outro alvo do levantamento do TCDF. Segundo o órgão, o GDF firmou
contrato com uma empresa privada, no ano passado, para uma revitalização do
espaço, mas ainda tem muito a melhorar: partes do teto estão danificados, luminárias
estão quebradas e escadas rolantes não funcionam. A reportagem do Correio
esteve no local. Comparado a outros tempos, o terminal está mais limpo e bem
cuidado. No entanto, ainda há muito a evoluir. A maioria das luminárias
funciona, mas algumas estão quebradas; o teto foi pintado, mas algumas partes
expõem a fiação; das escadas rolantes, agora, apenas uma está inoperante.
Essa
única sem funcionar, porém, é o suficiente para causar transtorno na vida de
muita gente. Maria Silva tem 73 anos e problema no joelho. Com muita
dificuldade, desce todos os degraus diariamente.
“Descer é
ruim, mas subir é pior ainda. E não vale a pena atravessar toda a rodoviária
para usar a outra escada que funciona”, reclama. O vendedor Renato Lima, 32
anos, é de Natal e está em Brasília há um mês. “Impressionei-me negativamente
com o estado desse terminal. Imaginava chegar à capital do país e encontrar
algo melhor do que na minha terra natal. Mas estava enganado”, queixa-se.
Pontes e viadutos
Na Ponte
do Bragueto, foram identificadas várias falhas: o concreto da parte de baixo
está danificado e apresenta infiltração e fissura, além de haver placas de
concretos para cobrir defeitos. A contenção feita com terra está comprometida,
o asfalto tem rachaduras e deformações, o guard rail está danificado e a
calçada não tem meio-fio, tampouco sistema de drenagem. Uma recuperação da
ponte estava prevista para se iniciar no ano passado, quando o antigo governo
anunciou a implantação do trevo de triagem norte. As obras, contudo, nunca saíram
do papel.
O
Departamento de Estradas de Rodagem (DER) informou, por meio da Assessoria de
Imprensa, que o convênio, firmado em maio do ano passado, precisou ser refeito
quando a nova gestão assumiu. Um acordo com o Banco Nacional do Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) foi assinado para a liberação de R$ 159 milhões para
obras na saída norte da cidade. O órgão acrescentou que acerta os últimos
detalhes, e a reforma está prevista para começar no próximo mês. O relatório do
TCDF também aponta problemas na estrutura nas pontes das Garças e Costa e Silva.
Procurada,
a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) informou, por meio da
Assessoria de Imprensa, que todos os questionamentos serão respondidos
diretamente ao TCDF quando chamada para prestar esclarecimentos. Não deu mais
detalhes se há obras ou reparações previstas.
Já a
Secretaria de Cultura disse que estuda uma solução definitiva para a manutenção
do Museu Nacional e da Biblioteca Nacional. Sobre o Memorial dos Povos
Indígenas, informou que está em análise um projeto emergencial para resolver os
problemas estruturais. A reforma do Teatro Nacional, no entanto, depende de
recursos. “No momento, está em análise a possibilidade de reabertura da Sala
Martins Pena e do Foyer da Sala Villa-Lobos, mediante ajustes pontuais para
cumprimento das recomendações dos órgãos competentes”, acrescentou em nota. A
Secretaria reforçou que não foi oficialmente notificada sobre o relatório do
TCDF.
Os principais problemas - Ponte do Bragueto
Concreto
danificado com infiltração e fissuras; placas de aço cobrindo defeitos no
concreto; contenção de terra comprometida; guard rail danificado; calçada sem
meio-fio e sem drenagem; asfalto com deformações e rachaduras.
Rodoviária do Plano Piloto
Laje
ainda sem manutenção; escadas rolantes e elevadores inoperantes; luminárias sem
funcionar.
Memorial dos Povos Indígenas
Rampa de
entrada sem guarda-corpo; diversos pontos de infiltração no teto; cadeiras
faltando no auditório; estrutura carente de pintura; rachadura em pilar;
trincas em paredes; sistema elétrico antigo; lâmpadas faltando; não há
intervenções para acessibilidade.
Passagem subterrânea da
115/116 Norte
Rampa de
acesso suja; infiltração no teto; luminárias sem funcionar; piso sem cerâmica;
paredes sem pintura e revestimento; grelhas obstruídas.
Museu Nacional
Pintura
da fachada desgastada; infiltração na parte de baixo da rampa de acesso;
elevadores parados e sem contrato de manutenção; rampa de acesso com piso
extremamente deteriorado.
Ponte das Garças
Calçada
com desnível; pista com buracos e desníveis; estrutura do parapeito
comprometida; parapeito solto; juntas sem tratamento adequado; bueiro obstruído.
Ponte Costa e Silva
Calçada
com desnível e quebrada; pista sem tartarugas; parapeito com pintura
desgastada, asfalto danificado.
Teatro Nacional
Diversos pontos de infiltração; carpetes deteriorados; piso dos palcos com buracos e precisando de manutenção; cobertura de vidro quebrada; mobiliários em estado precário; sanitários sem piso e revestimento; elevadores parados; saídas de emergência comprometidas e usadas como ponto de consumo de drogas.
Viaduto N2
Danos no concreto; fissura; armação aparente.
Diversos pontos de infiltração; carpetes deteriorados; piso dos palcos com buracos e precisando de manutenção; cobertura de vidro quebrada; mobiliários em estado precário; sanitários sem piso e revestimento; elevadores parados; saídas de emergência comprometidas e usadas como ponto de consumo de drogas.
Viaduto N2
Danos no concreto; fissura; armação aparente.
Fonte: TCDF
R$ 200 Milhões
É o valor estimado pelo GDF para revitalizar o Teatro Nacional, que está em péssimas condições.
É o valor estimado pelo GDF para revitalizar o Teatro Nacional, que está em péssimas condições.
***
Fonte: Thaís Paranhos - Matheus Teixeira
– Correio Braziliense