Por: Carlos Chagas
Houve
tempo em que ninguém o suplantava, como líder da oposição. Ernesto Geisel não
perdoava suas denúncias no Senado, foi aconselhado a cassar seu mandato,
faltando-lhe coragem ainda que sobrasse vontade.
Se naqueles idos, por um
milagre, as eleições presidenciais fossem diretas, não haveria vez nem para
Ulysses nem para Tancredo. Teria sido um grande presidente.
Falamos
de Paulo Brossard, o mais veemente tribuno com que o regime militar se
defrontou. Não podiam acusá-lo de subversivo, apesar da contundência de suas
análises e de suas críticas. Era, em paralelo, homem da lei e da ordem. Tivesse
exercido a presidência da República, realizaria mais coisas dormindo do que
todos os outros, acordados. Seria uma instância segura das garantias
democráticas, sem turbulências. Jurista como poucos, conhecia Direito como
ninguém.
Quando
o país conseguiu votar para presidente, em 1989, já se havia retirado, depois
de senador, consultor-geral da República, ministro da Justiça e ministro do
Supremo Tribunal Federal. Só que o Brasil seria outro, na hipótese de ter sido
ele o escolhido para suceder José Sarney. Reuniria cultura e firmeza a um
permanente espírito libertário. Mas com respeito, sem baderna.
Por
muitos anos, durante seu mandato no Senado, nas manhãs de domingo, costumava
visitar-nos, sempre com dona Lúcia. Lá, encontrava-se com os “autênticos” do
PMDB, de Marcos Freire a Lisaneas Maciel, Fernando Lyra, Chico Pinto, Paes de
Andrade e outros cultores de uma partida de vôlei, que não jogava. Assistia,
mas antes e depois, lecionava. Sem ares pretensiosos, discorria sobre História,
literatura e política. Nenhum de nós dispensava o “doutor Brossard” em nossos
diálogos.
Fica
dele a permanente lembrança e um lamento: teria sido uma grande presidente.