O projeto da ferrovia prevê o encontro com a Norte-Sul: o custo da obra é de R$ 4,82 bilhões e a velocidade operacional dos trens será de 80km/h
Ferrovia que pretende ligar cidades goianas e mineiras atrai
interesse do setor produtivo do Distrito Federal. Empresários acreditam que ela
pode ser alternativa para o transporte de cargas na região
O projeto de uma ferrovia ligando as cidades de Anápolis (GO)
e Corinto (MG) é uma das apostas do setor produtivo do Distrito Federal e de
municípios do Entorno para melhorar a logística de transporte de cargas na
região. A ferrovia encontra-se em fase de estudos de viabilidade técnica,
econômica e ambiental. Dez empresas demonstraram interesse em fazer as
pesquisas necessárias e devem apresentar os relatórios até 30 junho. Sem o
estudo técnico em mãos, o Ministério dos Transportes e a Agência Nacional de
Transportes Terrestres (ANTT) ainda não conseguem precisar em quanto tempo deve
começar a construção e qual a previsão de início da operação.
O traçado
da ferrovia Anápolis-Corinto tem 775km de extensão e prevê o encontro com a
Norte-Sul, que está em operação comercial desde o fim de fevereiro, no trecho
entre Anápolis e Palmas (TO). Dessa forma, a nova ferrovia deve começar no
leito da Norte-Sul, no Km 11, distante três quilômetros do túnel sob a BR-060,
no município de Anápolis (GO). De lá, segue para Unaí (MG), Paracatu (MG) e
chega em Pirapora (MG). De Pirapora a Corinto existe um ramal e ele deve ser
adaptado para receber os vagões de carga. A ferrovia não deve passar dentro do
DF, por conta dos custos operacionais e da proximidade de um grande centro
urbano, que é Brasília. Mas ela poderá ser usada pelos produtores de grãos do
PAD-DF, por isso, o empenho local na construção.
Capitalizar trilhos
A
previsão de custo da obra é de R$ 4,82 bilhões e a velocidade operacional dos
trens será de 80 km/h. A construção e concessão da ferrovia fazem parte do
Programa de Investimentos em Logística do governo federal e o objetivo é
capilarizar os trilhos pelo interior do país, logística que ainda é feita, em
maioria, pelas rodovias.
Desde que
foi lançada, em junho do ano passado, a Anápolis-Corinto despertou interesse
dos empresários da região, como os produtores de grãos do PAD-DF, em
Planaltina, de Luziânia (GO) e de Unaí. “A nossa expectativa é que a ferrovia
saia da fase dos estudos e tenha a implantação. O setor está trabalhando para
isso porque será um ganho para Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal. A
ferrovia vai diminuir o custo do produtor rural com frete e baixar o custo de
produção”, explica Ronaldo Triacca, coordenador-geral da feira Agrobrasília e
membro da Associação de Produtores do PAD-DF. Durante o evento, que vai ocorrer
em maio deste ano, haverá um seminário exclusivo sobre a ferrovia.
"Um sonho antigo"
Para Ronaldo Trecenti, colaborador do grupo de
trabalho em prol da construção Anápolis-Corinto e consultor da Vetor
Consultoria, a construção da ferrovia vai dinamizar a economia da região do
Entorno. Ele afirma ainda que, além do setor agrícola, mineradoras, fábricas de
Anápolis e o Porto Seco da cidade mostraram interesse no projeto. Assim, nos
períodos de sazonalidade dos produtos agrícolas, os vagões também serão
ocupados com outras demandas. “Percebemos que tem muita gente interessada. Essa
ferrovia é um sonho antigo do setor produtivo do noroeste de Minas Gerais e,
agora, a gente vê que esse sonho tem possibilidade de se realizar.”
Na opinião do superintendente da área de Ferrovias da ANTT, Alexandre Porto, o
fato de 10 empresas mostrarem interesse no estudo é um indicativo de que o
projeto interessa ao setor privado. “As empresas são potenciais interessadas na
operação”. O ganhador da concorrência terá um contrato de 35 anos e obrigação
de construir a ferrovia.
Na análise de Luiz Teixeira, mestre em logística e diretor do Ibmec Brasília, a
quantidade de empresas interessadas é um sinal de que a economia na região está
aquecida. “O número representa um grito de desespero do setor. Mostra que a
região está carente de apoio e infraestrutura. Ninguém faz uma ferrovia se não
tem demanda.”
O esforço do setor produtivo para a instalação da ferrovia deve-se às vantagens
desse tipo de transporte, principalmente nos custos de frete a longa distância.
O custo é de US$ 18 (R$ 57,42). No rodoviário, a relação sobe para US$ 70 (R$
223,30).
Fonte: Flávia Maia –
Correio Braziliense