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O papel do diretor escolar precisa ser mudado

Neste artigo apresentamos uma obra de Michael Fullan, professor emérito da Universidade de Toronto, Canadá, e estudioso do assunto mudança educacional. Nas últimas duas décadas, o autor tem se dedicado a escrever sobre mudanças que líderes de escolas e municípios devem trazer para o colégio. Em seu recente livro The principal (O diretor, 2014), Fullan explora e discute em detalhe como e por que o próprio papel do diretor escolar deve ser mudado. Na visão de Fullan, o dirigente de uma escola frequentemente é visto como o segundo mais importante influenciador (depois do professor) da aprendizagem dos alunos.


Fullan propõe que o papel do diretor deve ser ampliado, isto é, deve ser tão importante quanto o do professor. No livro, o autor mostra como isso pode ser feito em ordem e escala, e assinala que os assuntos abordados na obra são relevantes para qualquer país do mundo. Fullan mostra que os diretores de escolas têm ficado presos a papéis limitados que diminuem a habilidade de desenvolver a escola como um todo. Ele também esclarece como, em momentos de crise, é muito fácil para o diretor fazer a coisa errada, tal como iniciar ações que não são efetivas ou mesmo contraprodutivas, principalmente, quando não se sente inteiramente responsável. O autor acredita que, mesmo em condições externas difíceis, sempre há espaço para ação.

A obra mostra em detalhes como escolher o que é certo e o que é errado e explica que, para isso, o diretor deve diminuir seu foco em “accountability” (prestar contas) e focalizar menos na tecnologia e mais na pedagogia, abandonando estratégias fragmentadas e soluções individuais a favor de esforços colaborativos. Ele compartilha com os leitores como os diretores podem promover o capital profissional dos professores e o tornar mais adequado para todos os estudantes. Fullan também explica os três papéis chave que os diretores devem desempenhar a fim de terem o maior impacto possível nos desempenhos dos estudantes: o líder que aprende, o líder do sistema e o agente de mudança. A obra de Fullan, como acontece com as de outros escritores estrangeiros, não parece ser muito conhecida na área educacional brasileira.

O assunto do livro The principal (O diretor), por coincidência, surgiu recentemente no Brasil. A nosso ver, o assunto do livro não foi bem interpretado nem mesmo devidamente traduzido, apesar de ser comentado na mídia e perguntas sobre o assunto terem sido enviadas para profissionais da educação. Assim como o assunto apareceu de repente, ele sumiu da esfera educacional.

Em seis capítulos do livro, Fullan oferece exemplos sobre condições existentes na realidade educacional de alguns países, tais como: o desgaste na inter-relação de diretores, professores e estudantes;, o aborrecimento dos estudantes que estavam felizes nas primeiras séries do ensino fundamental e que hoje, na nona série, estão, no mínimo, chateados; a satisfação dos professores norte-americanos, que declinou 24% desde 2008, quando 62% deles declararam estar muito satisfeitos.

Anos atrás, a saudosa professora Stela dos Cherubins Guimarães Trois, doutora em educação pela Universidade da Califórnia, EUA, quando trabalhava na Fundação Educacional do DF, visitou uma das escolas do DF para se informar sobre o que estava acontecendo. Essa era tarefa que ela tinha por hábito fazer.

Quando voltou, chamou as assessoras ao seu escritório. Recordamos o que ela nos disse: “Quando cheguei à escola, a diretora veio muito gentil com um balde de água e disse que o vidro de uma janela havia quebrado e ela estava limpando a sala”. Depois de prestar atenção ao relato da diretora escolar, a professora Stela lhe perguntou o seguinte: Como anda o ensino? A professora ficou embaraçada e não conseguiu dar a devida informação. Com muito jeito, que lhe era peculiar, explicou à diretora que gostaria de ter uma resposta na próxima visita à escola. É muito interessante naquele encontro com a professora Stella, naquela época, termos ouvido ideias que hoje lemos no livro de Fullan, no referente ao diretor escolar.


Por: Ignez Martins Tollini – PhD e doutora em educação pela Universidade de Londres – Fonte: Correio Braziliense – 11/04;2015

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