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Um golpe no pôr-do-sol

Por: Conceição Freitas

Texto em letras graúdas abria, até ontem à tarde, a página principal do site do Instituto João Goulart: acusa, aos que são contrários à construção do memorial no canteiro central do Eixo Monumental, de serem golpistas: “Querem dar outro golpe em Jango!”. Carta assinada por João Vicente Goulart, filho do ex-presidente, denuncia a incitação da violência e chama de fascista uma suposta manifestação que estaria sendo organizada para derrubar os tapumes já erguidos em frente à Praça do Cruzeiro: “51 anos depois querem cassar Jango novamente, inclusive incitando a violência para uma manifestação de derrubada dos tapumes que cercam a área, politizando, tergiversando valores e incitando à violência em uma manifestação fascista que só emana da intolerância(sic).”

O filho do ex-presidente, ou quem redigiu o texto em seu nome, mistura alhos com bugalhos, confunde conteúdo e continente e acusa indevidamente os que não concordam com a construção do memorial de estarem “politizando” o assunto. E acusando de “fascista” uma manifestação que não houve e que, pelo menos por este jornal, não foi noticiada. Como assim? A acusação, descabida, de golpismo partiu de João Vicente Goulart. Que tipo de golpe Maria Elisa Costa, Carlos Magalhães, Silvestre Gorgulho e tantos outros, esta cronista inclusive, estariam arquitetando? Um golpe urbanístico? Quando tudo o que tem sido feito até agora é — democraticamente — debater o assunto, questionar os termos da concessão de uso do canteiro central do Eixo.

O golpe não derrubou apenas João Goulart. Derrubou a democracia brasileira e condenou todos nós a mais de 20 anos de ditadura militar. Jango merece todo o respeito da história, o que não significa que, em nome dele, se justifique o desrespeito a uma das mais preciosas paisagens do projeto de Lucio Costa: o canteiro central do Eixo e o pôr do sol visto da Praça do Cruzeiro, paisagem que fundou o Plano Piloto.
Interrompida durante alguns dias, a instalação dos tapumes prosseguiu nos dias posteriores. Só eles já foram suficientes para devorar o mirante. Não há mais pôr do sol na Praça do Cruzeiro. O Sol é devorado pelos tapumes bem antes de encostar no horizonte.

Por que não mantiveram o Memorial Jango onde foi previsto em 2006, conforme consta de texto publicado no Instituto João Goulart — um terreno nas proximidades do Mastro da Bandeira? Por que, como sugeriu Maria Elisa Costa, não incluir a homenagem a João Goulart no Panteão da Pátria, projeto de Oscar Niemeyer para reverenciar heróis brasileiros?

O Instituto João Goulart está convidando os internautas a participarem de um abaixo-assinado em apoio à construção do memorial. Ontem à tarde, faltavam 143 assinaturas para se chegar a 1 mil apoiadores.

Enquete deste Correio, da qual participaram 4.154 internautas, mostrou que dos 4.154 participantes, 82% (3.410) são contrários à construção do memorial no canteiro central do Eixo. No entender de João Vicente Goulart, são todos “golpistas”.


Coluna:"Crônica da Cidade" - Correio Braziliense - 11/04/2015

1 Comentários

  1. Excelente posicionamento. Essa tentativa de implantar esse Memorial no Eixo Monumental é lamentável, e deve ser repudiada, na forma como se tenta implementar, sem consulta pública e sem respeito à população. Mas era essa a posição do nefasto Geraldo Magela, o "urbanista" do governo Agnelo: ocupar o Eixo Monumental, como se fosse um loteamento dos grandes idiotas da República.

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