Governador Rodrigo Rollemberg (Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília)
Ele já
enfrentou greves de ônibus e professores, além de crise na saúde. G1 mostra promessas e realizações dos primeiros cem
dias de governo.
Com realizações ainda tímidas na
chefia do Executivo, o governador Rodrigo Rollemberg reconhece haver problemas
no Distrito Federal, mas afirma ter uma avaliação positiva dos cem primeiros
dias de gestão. A marca foi atingida nesta sexta-feira (10), permeada por
greves na Educação e no transporte público, além de queixas na Saúde. O gestor
atribui a situação ao rombo nos cofres públicos – estimado em R$ 6,5 bilhões – que teria sido deixado por Agnelo
Queiroz. O ex-governador nega que tenha deixado dívidas.
"Temos problemas, reconhecemos
as dificuldades, sabemos que muitos serviços não estão bons, mas é impossível
fazer milagre", declarou. "É claro que a gente sempre pode fazer
mais, e todas as críticas são bem-vindas para aperfeiçoar o nosso trabalho.
[Mas] Nós recebemos o Distrito Federal em uma situação de total desequilíbrio
financeiro, nós estamos equilibrando as contas, embora as nossas dificuldades
sejam muito grandes."
O G1 preparou
um balanço destes cem primeiros dias com base nos desafios e promessas feitas pelo governador (veja detalhes
abaixo). Das quatro principais metas
apontadas por Rollemberg ao assumir o GDF, apenas uma tem sido cumprida sem
intercorrências, apesar da dificuldade do primeiro mês de governo: o pagamento
em dia dos salários dos servidores públicos. A preocupação surgiu no final do
ano passado, depois de médicos e professores terem inclusive as férias, 13º e
outros benefícios atrasados.
As outras três grandes metas – reabastecer de remédios e insumos a
rede pública de saúde, garantir infraestrutura escolar na retomada do ano
letivo e evitar greves de rodoviários – têm esbarrado em dificuldades. Nem
mesmo o estado de emergência tem impedido pacientes de voltar para casa sem
medicamentos e exames, as aulas tiveram início com duas semanas de atraso e 43%
das instituições precisando de obras e motoristas e cobradores deixaram
milhares de pessoas sem transporte por vários dias por atrasos nos salários e
benefícios.
"Temos
problemas, reconhecemos as dificuldades, sabemos que muitos serviços não estão
bons, mas é impossível fazer milagre. É claro que a gente sempre pode fazer
mais, e todas as críticas são bem-vindas para aperfeiçoar o nosso trabalho.
[Mas] Nós recebemos o Distrito Federal em uma situação de total desequilíbrio
financeiro, nós estamos equilibrando as contas, embora as nossas dificuldades
sejam muito grandes"
Rodrigo Rollemberg,
governador do Distrito Federal
governador do Distrito Federal
Com relação aos compromissos de
campanha, a situação é semelhante. Até agora não houve avanço a respeito das
propostas de implantação do bilhete único,
eleições diretas para administrações regionais, contratação de novos agentes
comunitários e expansão do ensino integral.
O Conselho da Transparência, outra bandeira de campanha, chegou a ser criado,
mas sem a infraestrutura prometida, de painéis no centro da cidade revelando
como o Executivo tem administrado as finanças.
O quadro não desanima Rollemberg.
"Nós conseguimos reduzir de forma sistemática a violência nos três
primeiros meses em relação aos números do ano passado; nós reduzimos em 47% os
casos de dengue no Distrito Federal, estamos entre as três primeiras unidades
da federação de melhor desempenho no combate à dengue; começamos as obras no
Sol Nascente, vamos urbanizar o Sol Nascente; já iniciamos as obras de
urbanização do Parque do Riacho, e no início de maio vamos entregar mais de mil
unidades habitacionais; neste mês de abril entregaremos dez creches. Portanto,
acho que é um balanço positivo para um governo que tem apenas cem dias."
Ao G1,
O governador também destacou o combate às invasões em áreas
públicas por meio de
derrubadas como a ocorrida no Sol Nascente, a contratação de 5 mil professores
temporários e o acordo para retomar as obras do Sistema
Corumbá IV, ampliando o abastecimento de água no DF, como medidas
relevantes dos cem primeiros dias. Rollemberg afirmou ainda que mantém todas as
promessas feitas antes de chegar ao Palácio do Buriti.
Candidato, Rollemberg venceu Jofran
Frejat (PR) com 55,56% dos votos no segundo turno. Com o final das eleições e a
derrota de Agnelo Queiroz, a população do DF acompanhou uma crise financeira e
administrativa apontada como "inédita" pelo novo procurador-geral: as ações
de recapeamento e manutenção de gramados foram suspensas, funcionários de
empresas de transporte público entraram em greve e servidores públicos e
terceirizados deixaram de receber salários, 13º e benefícios, verba de programas prioritários
foi remanejada para
pagar dívidas da Saúde e houve corte de reformas em escolas e
alimentação a presidiários para fazer a festa de réveillon.
VEJA COMPROMISSOS ASSUMIDOS E O QUE
JÁ FOI FEITO
1º
DESAFIO: Pagar em dia o salário dos servidores
Por causa da crise orçamentária, o governo do Distrito Federal anunciou que parcelaria em até quatro vezes o pagamento dos salários dos empregados que recebessem mais de R$ 9 mil – 30% do total. A ideia era usar recursos que entram ao longo do mês, por meio da arrecadação de impostos, para quitar os débitos.
Por causa da crise orçamentária, o governo do Distrito Federal anunciou que parcelaria em até quatro vezes o pagamento dos salários dos empregados que recebessem mais de R$ 9 mil – 30% do total. A ideia era usar recursos que entram ao longo do mês, por meio da arrecadação de impostos, para quitar os débitos.
A medida só chegou a ser usada no
pagamento dos salários de janeiro. Desde então, Rollemberg tem anunciado o pagamento integral dos salários todos os meses, sempre ressaltando não
ter certeza se será possível agir da mesma forma no período posterior.
Professores fazem manifestação na Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília, pelo pagamento de salários em atraso (Foto: Lucas Nanini/G1)
"Estamos matando um leão por mês,
com uma grande dificuldade de fechar mês a mês. Estamos cumprindo o compromisso
de, tendo os recursos na conta, vamos priorizar o pagamento de salários. Mas
queremos registrar que a situação econômica é gravíssima", afirmou o
governador no começo de março.
Entre as ações do Executivo para
garantir os salários aos servidores estão o remanejamento de R$ 174 milhões
dos fundos distritais para
a conta única do Tesouro e o refinanciamento de dívidas da
população. O governo chegou a tentar conseguir antecipar R$ 400
milhões do Orçamento, uma modalidade de empréstimo que precisa ser paga até o
final do ano e tem juros altos. A operação não foi aprovada pelo governo
federal.
2º DESAFIO: Reabastecer unidades de
saúde com medicamentos
Um balanço feito pela própria Secretaria de Saúde apontou que faltavam 314 tipos de medicamentos, dos 925 oferecidos, nas farmácias públicas. O desabastecimento, a falta de servidores – o déficit é de 7,9 mil – e os leitos de UTI fechados levaram Rollemberg a decretar estado de emergência no dia 19 de janeiro.
Um balanço feito pela própria Secretaria de Saúde apontou que faltavam 314 tipos de medicamentos, dos 925 oferecidos, nas farmácias públicas. O desabastecimento, a falta de servidores – o déficit é de 7,9 mil – e os leitos de UTI fechados levaram Rollemberg a decretar estado de emergência no dia 19 de janeiro.
Fachada do Hospital de Santa Maria (Foto: Raquel Morais/G1
Na época, o governo explicou que a
mudança era que o Executivo poderia adquirir medicamentos, próteses, insumos e
equipamentos sem abrir licitação, além de poder voltar a autorizar a realização
de horas-extras, chamar concursados ainda não empossados e permitir a extensão
de cargas horárias de 20 horas para 40 horas semanais.
O governo chegou a anunciar, no
balanço de um mês do estado de emergência, que havia reabastecido os estoques
com 240 dos remédios que faltavam. Com isso, restava adquirir outros 74 tipos.
Em nota divulgada nesta quinta, a
Secretaria de Saúde informou que 70 deles seguem com os estoques
zerados e que busca
medidas legais para fazer as compras mais rapidamente.
3º DESAFIO: Garantir infraestrutura
no retorno às aulas
A Secretaria de Educação atrasou em duas semanas o início do ano letivo
afirmando que 336 das 664 escolas públicas precisavam de algum tipo de
intervenção. As obras começaram em janeiro e deveriam terminar até 23 de
fevereiro, mas, ainda assim, 43% das instituições
necessitavam de reparos no primeiro dia de aula. A situação, aliada
a outros descontentamentos, motivou os 27 mil professores a passarem cinco dias em greve.

De acordo com a pasta, 172 escolas
foram reformadas até 13 de fevereiro e outras 87 tiveram as intervenções
concluídas no início do ano letivo. A expectativa é fazer pequenas obras, como
pinturas, em 77 instituições ao longo do ano.
O secretário Júlio Gregório
informou em fevereiro que 120 colégios têm "situação crítica" e
precisarão de plano diferenciado. "A rede está realmente muito
deteriorada. Algumas escolas precisam ser demolidas e reconstruídas, como o
Elefante Branco, o Caseb e a antiga Escola Normal."
4º DESAFIO: Pagar em dia as
empresas de ônibus, evitando novas greves
Motoristas e cobradores de duas empresas de transporte público cruzaram os braços no dia 6 de março para protestar contra a falta de salários e do tíquete-alimentação. O DFTrans declarou que pagou a Marechal e a Pioneira em dia, mas que um problema bancário impediu que a compensação ocorresse até o horário combinado.
Motoristas e cobradores de duas empresas de transporte público cruzaram os braços no dia 6 de março para protestar contra a falta de salários e do tíquete-alimentação. O DFTrans declarou que pagou a Marechal e a Pioneira em dia, mas que um problema bancário impediu que a compensação ocorresse até o horário combinado.
Com isso, 500 mil moradores de 13 regiões
administrativas ficaram sem ônibus no
ápice do movimento. A Marechal conseguiu quitar a dívida algumas horas depois,
e 464 veículos voltaram a rodar.
Ônibus parados na garagem da Pioneira em Santa Maria, no Distrito Federal (Foto: TV Globo/Reprodução)
Já a Pioneira, dona de 625 ônibus,
disse na época que recebeu o repasse de R$ 3,56 milhões, mas não em quantia
suficiente para quitar os salários dos funcionários. O DFTrans declarou em
resposta que o valor era suficiente e que as dívidas eram de contratos
irregulares feitos no último ano.
Dias depois, a Secretaria de
Mobilidade depositou mais dinheiro na conta da empresa referente ao Expresso
DF, que até então operava gratuitamente. A Pioneira fez os repasses aos
trabalhadores, e a greve foi encerrada no dia 10.
Para evitar novos problemas do
tipo, a pasta aumentou a tarifa técnica.
Marechal e Pioneira foram as primeiras beneficiadas. Os valores passaram de R$
3,26 para R$ 4,75 por passageiro, um aumento de 45,91%, no caso da primeira, e
de R$ 2,83 para R$ 3,74 no caso da segunda, crescimento de 31,87%. Não houve
alteração no preço da passagem.
PROMESSA 1: Criação do Conselho de
Transparência e Controle Social
O governador havia prometido criar no primeiro ano do mandato um conselho de transparência composto por membros da sociedade civil e tornar público o orçamento. Segundo Rollemberg, a população poderia acompanhar os gastos do Executivo e todos os contratos envolvidos graças a painéis instalados pelo DF.
O governador havia prometido criar no primeiro ano do mandato um conselho de transparência composto por membros da sociedade civil e tornar público o orçamento. Segundo Rollemberg, a população poderia acompanhar os gastos do Executivo e todos os contratos envolvidos graças a painéis instalados pelo DF.
A entidade foi implantada no dia 11
de março e é composta por 11 membros da sociedade civil, entre representantes
da OAB, Fecomércio, CUT, Dieese, Fibra, Conselho Regional de Contabilidade e
Observatório Social de Brasília. Na ocasião, o governador afirmou não haver condições para
implantar os painéis pela
cidade por enquanto, mas declarou querer publicar os dados na internet até um
mês depois.
PROMESSA 2: Implantação do bilhete
único
Rollemberg havia dito que criaria o bilhete único para permitir à população acesso a todo o transporte público do DF, incluindo ônibus e metrô, pagando somente uma passagem. Ainda não foi divulgado projeto a respeito.
Rollemberg havia dito que criaria o bilhete único para permitir à população acesso a todo o transporte público do DF, incluindo ônibus e metrô, pagando somente uma passagem. Ainda não foi divulgado projeto a respeito.
PROMESSA 3: Expansão do ensino
integral e construção de 369 creches
Dentre as promessas de campanha estavam a ampliação do turno integral nas escolas, a construção de novas unidades e melhorias nos salários. O político do PSB também havia dito que faria revisão curricular e construiria 369 creches no DF.
Dentre as promessas de campanha estavam a ampliação do turno integral nas escolas, a construção de novas unidades e melhorias nos salários. O político do PSB também havia dito que faria revisão curricular e construiria 369 creches no DF.
Centro de Educação da Primeira Infância localizado em Santa Maria, região administrativa do Distrito Federal (Foto: Raquel Morais/G1)
Ainda não houve divulgação de
projetos para os compromissos. Rollemberg prometeu, no entanto,entregar dez creches
construídas no governo passado até
o dia 21 de abril. A demanda por vagas é de 24.250,
e cada unidade tem capacidade para atender 112 crianças.
De acordo com a Secretaria de
Educação, a ideia é terminar as obras de 25 unidades até o final do ano. Além
disso, a pasta quer fechar convênio com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação para a construção de mais 51 estabelecimentos.
PROMESSA 4: Melhorar os salários
dos militares e colocar mais PMs nas ruas
O governador se comprometeu ao longo da campanha eleitoral em melhorar o salário de policiais militares e bombeiros e colocar mais policiais nas ruas. Além disso, disse que irá efetivar mais 2 mil agentes comunitários.
O governador se comprometeu ao longo da campanha eleitoral em melhorar o salário de policiais militares e bombeiros e colocar mais policiais nas ruas. Além disso, disse que irá efetivar mais 2 mil agentes comunitários.
Viaturas da PM do DF (Foto: Divulgação)Ainda não houve discussões sobre reajustes, mas
Rollemberg afirmou em março que retomaria estudos sobre reestruturação das carreiras
militares. O DF tem 15,4 mil homens na PM e 6.170 no Corpo de
Bombeiros. Não há um prazo para o fim das negociações e a implantação das
mudanças.
Outra medida adotada foi o remanejamento de quase 600 militares que
cumpriam funções administrativas para as ruas em fevereiro, para promover
policiamento ostensivo. O total é maior que o efetivo do Sudoeste e do
Cruzeiro.
PROMESSA 5: Alterações nas administrações regionais
Rollemberg afirmou ao longo da campanha que diminuiria o número de administrações regionais no DF. A proposta ainda não chegou a ser enviada para a Câmara Legislativa, que já se manifestou contrária à medida. Mas, na prática, foram nomeados apenas 25 gestores para responder pelas 31 administrações.
Rollemberg afirmou ao longo da campanha que diminuiria o número de administrações regionais no DF. A proposta ainda não chegou a ser enviada para a Câmara Legislativa, que já se manifestou contrária à medida. Mas, na prática, foram nomeados apenas 25 gestores para responder pelas 31 administrações.
Outro compromisso do
governador era implantar eleições diretas para as chefias das administrações.
Ainda não existe projeto a respeito e nem previsão para que o documento seja
apresentado.
Por: Raquel Morais
Do G1 DF