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#JANGO » Memorial com dinheiro público

A doação da área e a construção da obra estão sendo investigadas pelo Ministério Público do DF: arquitetos cobram ação do GDF

Norma publicada no ano passado autoriza o GDF a bancar quase a totalidade dos gastos de conservação de obra que homenageia o ex-presidente. Ontem, o TJDFT recebeu ação popular contra a construção no Eixo Monumental. Governo segue sem se pronunciar

O anúncio da construção do Memorial Liberdade e Democracia Presidente João Goulart, ao lado da Praça do Cruzeiro, surgiu com a promessa de que o Governo do Distrito Federal não gastaria dinheiro com a obra ou a manutenção do espaço. Mas uma lei publicada no Diário Oficial do DF do ano passado autoriza o Executivo a arcar com despesas para a conservação do monumento em homenagem ao ex-presidente deposto pelo regime militar em 1964. Uma das principais queixas de quem se diz contrário à obra é o fato de o GDF ter muitos gastos em áreas essenciais, como saúde e educação.

A Lei nº 5.290, de autoria do Executivo, permite o governo a arcar com quase a totalidade — 90% — das despesas de manutenção e conservação de diversos locais, entre eles, o memorial em homenagem a Jango. A medida só não inclui os custos com pessoal em relação à diretoria e aos órgãos colegiados. Anteriormente, a Secretaria de Cultura do DF (Secult) garantia que “o convênio não prevê repasse financeiro entre o governo do DF e o Instituto João Goulart. Ficará a cargo desse último captar recursos para a execução da obra e a posterior manutenção do espaço”.

Procurada, a Secult esclareceu, por meio da assessoria de imprensa, que o Convênio nº 7/2013 “trata somente da outorga da área destinada ao Memorial, e é o único firmado entre as partes”. A nota reforça que a lei autoriza, e não obriga, a celebração de convênios futuros. “A celebração de qualquer acordo passa pelo poder discricionário, da Administração Pública”, finalizou o texto. O secretário-chefe da Casa Civil, Hélio Doyle, disse que não está a par da discussão e preferiu não comentar o assunto. Ele informou que não há uma posição do governo quanto ao memorial. O Instituto João Goulart, responsável pelo monumento, também não quis se pronunciar.

O silêncio do Executivo tem causado reclamações nas redes sociais da internet. O arquiteto Carlos Magalhães, ex-sócio de Oscar Niemeyer, cobrou uma posição de Rodrigo Rollemberg sobre a construção, mesmo que fosse com a apresentação de um alvará permitindo a obra.

Nova ação
Com a desaprovação de arquitetos e urbanistas ligados à preservação de Brasília, o memorial terá pela frente um novo embate, desta vez judicial. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) recebeu ação popular contra a construção do monumento. O advogado Rubens Martins, filiado ao PDT, pediu uma liminar para interromper a obra e derrubar os tapumes que cercam o lote. Também questiona a forma como o governo repassou a área ao instituto. “Eu pedi para ver o processo, mas eles (governo) me negaram. Precisam comprovar a legalidade da obra”, analisou. Procurada para esclarecer a forma como o repasse foi feito, a Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap) não respondeu à demanda até o fechamento desta edição.

A polêmica em torno da obra chamou a atenção do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). A 4ª Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb) vai investigar a construção do monumento em homenagem a Jango. A promotora Maria Elda Fernandes Melo pretende apurar a forma como o governo repassou o lote para o Instituto João Goulart. De acordo com ela, se trata de uma área pública e tombada, por isso, as regras devem ser cumpridas. A promotora disse estar com o processo em mãos, mas não há um prazo para a conclusão do trabalho.

Esses questionamentos do Ministério Público haviam sido levantados pela Procuradoria-Geral do DF em 2008 e reforçados no ano seguinte. Segundo o órgão, o governo não teria feito uma lei complementar específica com a inclusão do plano urbanístico para o canteiro central do Eixo Monumental nem realizado audiência pública sobre a transferência do lote. A Secretaria de Comunicação informou que essas etapas não foram cumpridas para a doação da área. O processo, porém, é investigado pelo Executivo.

O que diz a lei
A Lei nº 5.290, de 14 de janeiro de 2014, autoriza o Poder Executivo a arcar com 90% das despesas de manutenção e conservação do Instituto Histórico e Geográfico do DF; do Espaço Lúcio Costa; do Espaço Oscar Niemeyer; do Espaço Israel Pinheiro; do Memorial da Liberdade Presidente João Goulart; do espaço Museu dos Ex-Combatentes do Brasil; e do espaço Museu Casa da Fazenda Gama. Além da manutenção e da conservação, a lei autoriza “o repasse de auxílios financeiros para investimentos relativos a reformas e ampliação das instalações destinadas a museu e educação”. O recurso será repassado após celebração de convênio entre a instituição e o governo. A medida permite ainda que “em contrapartida, o convênio deve dispor a forma pela qual o DF pode utilizar, em atividades próprias ao local, os equipamentos e as dependências das instituições”.

Fonte: Thaís Paranhos -  Correio Braziliense - 10/04/2015

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