Petistas baianos reclamam da
substituição no comando da Codevasf para garantir a aprovação do ajuste fiscal
no Congresso
O PT não digeriu a substituição
de Elmo Vaz na Presidência da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco (Codevasf). Para garantir os votos de apoio do PP às medidas do
ajuste fiscal, a presidente Dilma Rousseff confirmou ontem, no Diário Oficial
da União, a nomeação de Felipe Mendes, apadrinhado pelo presidente nacional do
PP, senador Ciro Nogueira (PI), para o lugar de Vaz, que contava com o apoio do
ministro da Defesa, Jaques Wagner. “A Bahia se sentiu desrespeitada. A maneira
como a troca foi feita é inaceitável”, protestou o senador Walter Pinheiro
(PT-BA).
Pinheiro
reclamou ao Correio que, em nenhum momento, as bancadas baianas da Câmara e do
Senado foram comunicadas sobre a possibilidade da mudança. “Além de ele (Elmo)
ter feito um bom trabalho, a Bahia não merecia ser tratada assim”, vociferou
Pinheiro. Na semana passada, um abaixo-assinado de 25 deputados apoiando a
manutenção de Elmo na Codevasf foi encaminhado ao ministro da Defesa, Jaques
Wagner. Na lista, além dos petistas — a bancada baiana na Câmara é composta por
39 deputados — apareciam outros nomes, como o da deputada Jô Moraes (PCdoB-MG).
Responsável
por organizar a coleta das assinaturas, o deputado Afonso Florence (PT-BA),
ex-ministro do Desenvolvimento Agrário no primeiro mandato de Dilma Rousseff,
afirmou que está claro que Elmo foi prejudicado na decisão do Planalto. “Ele
estava no cargo e era muito bem avaliado. Entendemos que a presidente Dilma
Rousseff foi eleita em um governo de coalizão. Mas houve um processo de
preterimento”, disse Florence.
A batalha
pelo comando da Codevasf — responsável, entre outras obras, pela construção do
eixo-sul da Transposição do São Francisco — estremeceu as relações entre o PP e
o PT. Na Bahia, as duas legendas são aliadas, tendo o petista Rui Costa como
governador e João Leão, do PP, como vice. Leão é um dos políticos citados na
Operação Lava-Jato. Segundo apurou o Correio, João Leão defendia Elmo, mas foi
desautorizado pelo filho Cacá Leão (PP-BA), deputado federal, que defendia a
escolha de um nome do partido para a Codevasf.
Tesouradas
Deputados
e senadores asseguram que não haverá retaliações nas votações no Congresso,
embora o PT tenha muitas dificuldades em aceitar o tamanho do ajuste imposto
pela equipe econômica. Enquanto o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, defende um
contingenciamento de R$ 80 bilhões, o chefe da Casa Civil, ministro Aloizio
Mercandante, tenta garantir um tesourada de apenas R$ 60 bilhões.
Wagner
ainda tentou trabalhar para manter seu pupilo no cargo. Nos últimos dias, ligou
diversas vezes para Mercadante e para o vice-presidente Michel Temer. Em vão.
Ontem, durante solenidade de recepção ao primeiro ministro da China, Li
Kequiang, Dilma assegurou que a Bahia será recompensada com outro cargo no
governo federal. Os petistas baianos lembram que a Bahia tem dado sucessivas
vitórias a Lula e Dilma. “A Bahia precisa ter o reconhecimento de todos aqueles
que estão governando o país”, cobrou a deputada Moema Gramacho (PT-BA).
PSDB explora contradições
O ex-presidente Fernando Henrique disse que nunca se "errou e roubou tanto em nome de uma causa"
A propaganda partidária do PSDB
veiculada ontem à noite explorou à exaustão as contradições entre o discurso
atual da presidente Dilma Rousseff e da candidata à reeleição no ano passado.
Marca registrada neste início do ano, a propaganda iniciou com os famosos
panelaços que têm assustado o Planalto e o slogan “ser oposição não é dizer não
a tudo, mas dizer não a tudo que está errado”.
Entre as
inconsistências da presidente, foi apresentado o pronunciamento de Dilma de que
“a conta de luz ficará até 18% mais barata”, além das garantias dadas, durante
a campanha eleitoral, de que “não seria eleita para arrochar salários e tirar
direitos dos trabalhadores” ou a afirmação categórica de que “a inflação
brasileira estava sob controle” e que “todo mundo que investiu na Petrobras vai
ganhar muito dinheiro”.
Em
seguida, o apresentador lembrou que a inflação passou dos 8% e que Dilma tirou
o seguro-desemprego dos trabalhadores. Além disso, a propaganda mostrou que a
própria Petrobras admitiu um prejuízo de R$ 50 bilhões por causa da corrupção.
O
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi incisivo ao afirmar que nunca se
“errou e roubou tanto em nome de uma causa” e que os desarranjos agora estão
atingindo o “bolso e a alma das pessoas”. Os tucanos afirmam que o Brasil
têm quase 40 ministérios, a soma da Alemanha e dos Estados Unidos, e acusa o
atual governo de pensar apenas no partido (o PT).
O
presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), declarou que, se o
governo tivesse agido com responsabilidade, não seria necessário agora aumentar
impostos, tarifas, ou tirar direitos dos trabalhadores. “O governo escondeu as
coisas apenas para vencer as eleições”. Aécio defendeu que as investigações de
corrupção sejam aprofundadas, sem interferências ou pressões do governo. “O
Brasil precisa saber quem roubou, quem mandou roubar e quem, sabendo de tudo o
que acontecia, se calou”, disse o senador mineiro. (PTL)
Fonte: Paulo de Tarso Lyra –
Correio Braziliense