Com o avanço das investigações da Operação Lava-Jato crescem,
na mesma proporção, mas em sentido oposto, as ações de grupos organizados e
corporativos, considerados até então como intocáveis da República, que buscam
blindagem contra as investidas da Polícia Federal e do Ministério Público. A
razão alegada é sempre a da defesa de princípios legais pétreos, que se
sobrepõem a quaisquer outros interesses, mesmo os que dizem respeito à
sociedade como um todo. Não é de hoje que esses grupos se assanham para lançar
por terra o imenso trabalho de investigação que vem sendo feito pela PF. Para
esses grupos, a vitória nessa batalha consiste em livrar, da mão pesada da lei,
fidalgos e outros assemelhados que, por posição elevada na pirâmide social,
deveriam ser deixados a salvo das bisbilhotices da polícia e dos olhos
invejosos da população informada. O problema com esses aristocratas é que a
mesma independência de ação de movimentos que reclamam para si também guarnece
aqueles que põem a lupa sobre eles.
Ao
contrário do cidadão comum, desprotegido e marginalizado, esses grupos conhecem
bem o chamado caminho das pedras que leva ao olimpo e não se acanham em
requisitar diretamente dos deuses a proteção que acreditam ter por direito
divino. Para esses grupos, mais eficaz do que conhecer os meandros da lei é
desfrutar do convívio direto daqueles que a fazem e interpretam.
Para a
rafameia, acorrentada às agruras do dia a dia, o Estado que lhes retira os
direitos básicos é o mesmo que estende o tapete de salamaleques e mesuras a
esses grupos, escolhidos a dedo. Os direitos e garantias constitucionais, que a
princípio deveriam açambarcar somente aqueles que permanecem fiéis aos estritos
trilhos da lei, não pode se transformar em valhacouto de áulicos e outros nomeados.
Para uma
República que nasceu de um golpe, o caminho rumo à igualdade de direitos civis
ainda é uma estrada longa e pedregosa.
A frase que não foi pronunciada
“Eu
não quero viver em outro país. Eu quero viver em
outro
Brasil”
(Cartaz de manifestante, em São Paulo, em 15 de março.)
Por: Circe
Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto:
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