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O Banco Central (BC) sem alternativa

Com a economia claramente em recessão, o emprego evaporando e os juros cobrados do consumidor brasileiro entre os mais altos do mundo, parecia lógico que o Banco Central (BC) reduzisse, em vez de aumentar, a taxa básica de juros (Selic). Engano que até alguns economistas apressados cometem. Alguns ainda levantam o velho argumento de que a inflação atual é de custo e não de demanda, como se isso fosse suficiente para explicar o imbróglio em que estamos metidos.

Terá menos chance de errar quem se der ao trabalho de não ficar apenas na última decisão do BC. Um olhar para os tortuosos caminhos que nos trouxeram até aqui pode ajudar a compreender que não se trata de uma maldade orquestrada por interesses do mercado financeiro (discurso fácil, mas insustentável).

Há pelo menos duas questões precedentes e uma atual que devem ser consideradas. A primeira é que a sociedade paga, hoje, o custo do congelamento, com propósitos eleitorais, de preços controlados pelo governo. Todos se lembram da redução das tarifas de energia elétrica, intervenção precipitada ante os avisos de que um período de chuvas negativo se aproximava. Sem caixa para enfrentar a compra de energia mais cara das termelétricas, as distribuidoras bateram primeiro às portas do Tesouro e, depois da eleição de 2014, na conta de luz do consumidor. Com os preços da gasolina não foi diferente.

Como são preços que incidem em inúmeras cadeias produtivas, era evidente que a inflação varrida para debaixo de tapete viria forte em 2015. Se esse descongelamento é inevitável, a autoridade monetária pode e deve, pelo menos, desincentivar a transferência de seus efeitos para o consumidor, pelos agentes econômicos.

A segunda: tão ruim como a inflação e a economia fazendo água é a perda de credibilidade da autoridade monetária. O desastrado intervencionismo do governo não poupou nem mesmo o Banco Central. Basta resgatar a curva de aumentos da Selic, que foi rebaixada, na marra, entre março de 2012 e abril de 2013 (chegou a 7,25%) e congelada em 11% entre abril e outubro de 2014 (período eleitoral).

Ao aceitar esse comando político, enquanto a inflação fugia da meta de 4,5%, o BC viu sua credibilidade afetada e, desde então, busca preservá-la, pois depende disso para convencer os agentes econômicos de que não há mais leniência com a inflação.

A terceira questão, a mais recente, é a drástica redução da meta fiscal do governo, de 1,13%, para quase nada, 0,25%. As trapalhadas fiscais do mandato anterior de Dilma foram muito mais nefastas do que imaginava o próprio ministro Joaquim Levy, da Fazenda. Além disso, a inépcia política da presidente e de sua equipe palaciana gerou situação de confronto com o Congresso, tornando mais difícil a aprovação de medidas impopulares ditadas pelo ajuste fiscal. Ou seja, o BC ficou sozinho no combate à inflação.

Não foi por outro motivo que o BC alterou seu programa: pretendia aplicar mais duas doses de 0,25 ponto percentual antes de dar uma parada nessa corrida, mas optou por dobrar essa dose desde já. Não sobrou alternativa senão perseverar na missão de trazer a inflação para 4,5% em 2016, ainda que não consiga explicar que o resultado vai compensar o gosto amargo do remédio.


Fonte: “Visão” do Correio Braziliense – Foto: Google

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