Por enquanto, somente a classe política não se deu conta de
que a população brasileira chegou ao limite da paciência e já não tolera mais
os desmandos reiterados vindos justamente dos que deveriam servir de exemplo de
austeridade no trato da coisa pública. De Jacarezinho, no norte do Paraná,
chegam imagens que revelam a força da população indignada com a desfaçatez dos
membros da Câmara de Vereadores local, que, alheios à séria crise econômica
vivida por todos, pretendiam conceder aumento aos próprios salários.
Pressionados
pela indignação generalizada dos habitantes, os vereadores foram encurralados
na própria assembleia e tiveram que retroceder humilhados. Ciente de sua união
e força, a população pressiona agora para que os proventos de Suas Excelências
sejam fixados em um salário mínimo apenas. A mobilização foi iniciada a partir
da declaração de um vereador que tripudiou os que protestavam chamando-os de
“gatos pingados”. Foi o suficiente para todos deixarem o conforto de casa para
ocupar lugar no Legislativo local.
Histórias
como essa se repetem Brasil afora e são reveladoras de movimento que vai
ensaiando os primeiros passos rumo ao amadurecimento político de parcelas cada
vez maiores da sociedade. Números exibidos no painel do impostômetro, presente
nas principais cidades do país, mostram que a carga tributária já ronda R$ 1,3
trilhão. Esses números atestam o fenômeno do sorvedouro e da apropriação
desmedida dos recursos públicos para financiar a gigantesca máquina pública e,
de quebra, as lideranças políticas encrustadas nela. É justamente desse
desencontro entre os recursos arrecadados e o disponibilizado, de fato, para
atender as demandas da população, que se formou um dos nós que estrangulam a
economia e, de quebra, ameaçam o instituto da representatividade política e
democrática tal qual a conhecemos.
Entre as
justificativas que levaram a agência de classificação de risco Moody’s a rebaixar
a nota do Brasil deixando-a a um degrau de país mau pagador, destacam-se,
justamente, a tendência crescente nos gastos do governo e a falta de consenso
político. As pautas-bombas confirmam a segunda justificativa da Moody’s. Alheia
à corrosão do solo sob os pés, Dilma, a presidente, busca sustentação do
governo, tendo como pilares políticos desgastados e vistos com desconfiança e
desdém pela população. Dizer o quê?
A frase que foi pronunciada
“Eu
não falhei. Apenas descobri
10 mil maneiras que
não funcionaram.”
(Thomas Alva Edson)
Por: Circe
Cunha – Coluna: “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense –
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