A presidente Dilma Rousseff, preocupada em produzir fatos
positivos para seu governo em meio à enxurrada de más notícias vindas da
recessão da economia, requentou e lançou ontem mais um programa prometendo
tirar o setor elétrico do perigoso marasmo em que se arrasta desde 2012.
Naquele ano, a presidente fez uma das mais desastrosas intervenções no setor,
alterando os prazos e as condições para a renovação das concessões de usinas
hidrelétricas. Passo seguinte, em 2013, provocou o rebaixamento forçado das tarifas
na ponta do consumidor, uma festa populista cujo preço a sociedade ainda paga e
continuará pagando até o início de 2016.
Para
potencializar os efeitos da imprudência, confirmaram-se os prognósticos dos
mais respeitados especialistas de que, já naquela época, havia começado um
período de escassez de chuvas, do qual não se poderia prever a intensidade e a
duração. À seca se somou a incapacidade do governo de tirar do papel projetos
de geração capazes de aumentar satisfatoriamente a oferta de energia elétrica.
Isso obrigou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a ligar e manter
ligadas as usinas termelétricas instaladas por ocasião do racionamento de 2001.
Implantada
com a participação da iniciativa privada, a rede de emergência foi concebida
para cobrir eventuais incapacidades do sistema de suprir a demanda. Seria usada
apenas de vez em quando e por pouco tempo, já que consome derivados de petróleo
e gera energia a custo bem mais alto do que as hidrelétricas. Desde então, o
que era eventual se tornou permanente (só na semana passada pôde ser
parcialmente desligada).
O
resultado foi enorme rombo nas contas das distribuidoras e descapitalização das
geradoras públicas e privadas, o que inibiu os investimentos no setor. A
situação das empresas se tornou crítica em 2014, mas, por ser ano eleitoral, o
governo adiou o reflexo das trapalhadas nas tarifas. O Tesouro bancou um socorro
financeiro para essas empresas, mas, passadas as eleições, não segurou mais:
aumentou as tarifas (em média, 45% este ano) e introduziu bandeiras, que são
acréscimos temporários, renovados ou não a cada mês, conforme a falta de chuvas.
Com a
ligeira melhora no regime hídrico e com a queda de cerca de 5% do consumo este
ano, por causa da recessão, ontem, durante o lançamento do Programa de
Investimentos em Energia Elétrica, o governo acenou com a redução do valor da
bandeira vermelha, justamente a que deixará de ser aplicada a partir de
setembro. Não foi essa a única meia-verdade anunciada na solenidade.
Apesar de todas as evidências, a presidente voltou a culpar exclusivamente a
falta de chuvas, ao dizer que lastimava muito o aumento na conta de luz.
Com isso,
manteve o tom marqueteiro da campanha eleitoral de 2014 e afetou a
credibilidade do programa que acabava de lançar. Ele prevê investimentos de R$
186 bilhões nos próximos três anos em geração e transmissão. A lista de
projetos inclui pouca coisa que já não tinha sido anunciada em outros programas
e que não foram além dos discursos de lançamento. Mantida a velha postura da
presidente, que não inclui compromisso com a verdade, o que esperar do que foi
anunciado ontem?
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense – Foto: Google