"A primeira coisa que os clientes comentam é que o Coma Lá em Casa é uma coisa diferente, que sai do lugar-comum, mais personalizado" Mariana Cardoso, com Esdras Nogueira, do Coma Lá em Casa
Empreendimentos com cardápio pessoal, atendimento em casa e
entrega diferenciada aproximam empresas de clientes e surgem como poderoso
nicho de mercado. Mas especialistas alertam que é preciso conhecer o perfil do
consumidor para ter sucesso
O serviço personalizado entrou no gosto dos clientes.
Práticas como vender cardápios exclusivos, transformar a loja em ambiente
familiar, oferecer um jantar com jeitinho caseiro e levar o produto
diferenciado até a casa do consumidor surgem como alternativas para conquistar
o cliente e fidelizá-lo à marca. Empreendedores brasilienses viram nesse nicho
de mercado uma oportunidade de negócio e oferecem os mais variados tipos de
serviços e produtos com o intuito de agradar com experiências, mimos e
customização. A ideia é criar algo que se diferencie dos itens de massa
oferecidos pelas grandes empresas.
A
Realfood Nutricare é um exemplo dessa tendência. As nutricionistas Ana Luísa
Barreto, 24 anos, Rafaella Dusi, 25, e Bruna Poncioni, 26, estão há um ano com
o serviço de saladas. Elas oferecem o menu por mês, com quatro variedades. O
cliente escolhe, elas montam os potes personalizados e levam até a casa do
consumidor. “Como a gente mesmo entrega em casa, isso demonstra o carinho que
temos com o cliente e com o que fazemos”, explica Rafaella.
Para as
nutricionistas, a proximidade tornou-se fundamental no negócio. Por causa do
feedback rápido dos compradores, elas conseguem fazer alterações rápidas.
“Produto padronizado já tem muito, a gente percebeu que o cliente quer uma
coisa diferente. E isso é no mundo todo. As pessoas gostam da aproximação, de
sentir que aquilo foi feito para elas, que tem o nome delas, que um ingrediente
foi retirado porque elas sugeriram”, comenta Ana Luísa. A aposta na
personalização tem dado certo. Em um ano, a produção saltou de 15 para 100 kits
de salada, e as empresárias afirmam que não sentiram o impacto da crise
econômica. “Os clientes são bem cativos. Saúde não é vista como um supérfluo”,
avalia Bruna.
Em tempos
em que a confiança do empresário varejista está em baixa, investir em inovação
pode ser a receita para se manter no mercado. Por isso, traçar novas
estratégias empresariais é um importante passo. “A crise é um momento de
oportunidades. É preciso enxergá-las”, afirma Antônio Valdir de Oliveira,
superintendente do Sebrae-DF.
As
empresárias Marina Ananias e Amanda Cortez, ambas 24, viram nas incertezas
econômicas um motivo para montar o Chá das Meninas. “Com a crise, a percepção
de valor mudou. As pessoas estão mais conscientes do que estão pagando. Eu
mesmo passei a me interrogar se aquilo que eu estava pagando valia a pena. Por
isso, resolvemos começar o Chá das Meninas”, comenta.
A empresa
funciona há um mês e vende roupas e acessórios femininos que custam, no máximo,
R$ 99. As duas recebem as clientes em casa e capricham no atendimento, de modo
que a compradora se sinta entre amigas. Por isso, em determinadas datas, elas
oferecem o Chá das Amigas, com champanhe, brigadeiro, café, infusões e pão de
queijo, como se fosse um encontro de companheiras. As clientes podem agendar
horário para as compras. “A gente tem todo um cuidado no atendimento. Atendemos
como se fosse uma amiga próxima, como a gente gostaria de ser tratada, sem
cobrar mais caro por isso. Estamos proporcionando experiências”, explica
Marina. Elas acreditam que a receita tem dado certo, tanto que a média de gasto
por cliente foi de R$ 250 no último evento.
"A gente tem todo um cuidado no atendimento. Atendemos como se fosse uma amiga próxima, como a gente gostaria de ser tratada" Marina Ananias, com Amanda Cortez, do Chá das Amigas
"No mercado de massa, as pessoas se adaptam ao que o mercado oferece. Com a personalização, tudo é de cliente para cliente" Jair Tannus, com João Pedro Moreira, do site Viva Cerveja
"Como a gente mesmo entrega em casa, isso demonstra o carinho que temos com o cliente e com o que fazemos" Rafaella Dusi, com Ana Luísa Barreto e Bruna Poncioni, da Realfood Nutricare
Tom familiar
Nessa vertente
de deixar as compras e os serviços com um tom mais caseiro e menos comercial, o
casal Mariana Cardoso, 35 anos, e Esdras Nogueira, 36, criaram o Coma Lá em
Casa. Desde 2011, os dois abrem a porta do apartamento deles, na Asa Norte, e
oferecem menus variados para grupos de até 20 pessoas. Para os convidados se
sentirem ainda mais confortáveis, eles disponibilizam discos de vinil para a
trilha sonora. Os eventos não ocorrem com frequência; por isso, quando o casal
comunica o jantar, as reservas se esgotam rápido. Com as bebidas inclusas, o
preço, por pessoa, sai por R$ 120. “A primeira coisa que os clientes comentam é
que o Coma Lá em Casa é uma coisa diferente, que sai do lugar-comum, mais
personalizado”, conta Mariana. “A gente não entende muito como cliente, mais
como uma visita de amigos”, complementa Esdras.
Pessimismo
Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo (CNC), a variação de confiança anual está negativa, em 21,1
pontos. Os comerciantes apontam como motivos do pessimismo a queda nas vendas,
o estoque parado e o endividamento das famílias, o que trava o consumo.
Disposição para pagar
A personalização de serviços e o relacionamento bem próximo
do cliente podem ser uma estratégia de mercado da empresa, mas especialistas
recomendam cautela ao optar pelo segmento. Para Antônio Valdir de Oliveira,
superintendente do Sebrae-DF, o modelo pode significar limitação de
público-alvo. Além disso, o empresário precisa ter muitas informações sobre o
cliente para saber se ele está disposto a pagar. “Quanto mais se personaliza,
mais se foge da massificação. Assim, o empresário tem de ganhar na margem e
subir o preço, pois não venderá em grande escala.”
O site
Viva Cerveja está antenado com o público e acredita nesse potencial. Trata-se
de um clube de cerveja no qual as pessoas assinam e recebem as bebidas em casa,
mensalmente, por R$ 89,90. A empresa está em operação há seis meses, e os
sócios sentem a recepção do público, que passou para 100 assinantes no período.
“A internet permitiu essa comunicação mais rápida. Existe uma agilidade de
resposta muito grande, o cliente fala mais rápido com a empresa ou logo expõe o
que ele pensa nas redes sociais, o que pode ser bom ou ruim”, avalia João Pedro
Moreira, 29 anos, um dos donos.
Para Jair
Tannus, 27, o outro sócio, essa aproximação permite entender melhor o
consumidor. “A gente tira o cliente do lugar-comum e oferece oportunidade para
ele experimentar novos sabores. No mercado de massa, as pessoas se adaptam ao
que o mercado oferece. Com a personalização, tudo é de cliente para cliente”,
explica.
Fonte: Flávia Maia – Correio Braziliense – Fotos: Carlos
Moura/C.B/D.A Press