Mesmo do ponto de vista
governista, as ruas deixaram clara a necessidade de ações urgentes do Palácio
do Planalto para garantir a continuidade do governo do PT
Não há mais tempo nem para desculpas. Na
análise de parlamentares brasilienses de oposição, as manifestações do último
domingo carimbaram a legitimidade da presidente Dilma Rousseff. Mesmo do ponto
de vista governista, as ruas deixaram clara a necessidade de ações urgentes do
Palácio do Planalto para garantir a continuidade do governo do PT.
“O pedido de
desculpas agora é ineficiente e insuficiente para o momento do País. Não acho
que exista mais tempo para desculpas. As ruas mostraram que a presidente já não
tem mais legitimidade para fazer as mudanças necessárias para a população. E,
para continuar, ela está negociando o inegociável”, afirmou a presidente da
Câmara Legislativa do Distrito Federal, deputada Celina Leão (PDT).
Para Celina,
o caso das pedaladas fiscais, em análise no Tribunal de Contas da União, é
suficiente para o abertura de um processo de impeachment. Para o senador
Cristovam Buarque, a manifestação mostra que as urnas não estão sintonizadas
com as ruas e Dilma não está sabendo como recuperar a credibilidade.
Pode
ficar nas ruas
“O povo não
se mobilizou ontem. Ele está e continua mobilizado há 2 anos. Vai às ruas
pontualmente e discute a todo momento nas redes sociais, blogs. Dilma tem que
entender isso. Porque, em algum momento, o povo sai para a rua e não volta
mais. E quando ele fica nas ruas dois ou três dias, governos caem. Como
aconteceu na Ucrânia”, ponderou Buarque.
O distrital
Lira (PHS) avalia que Dilma está perdida politicamente. O parlamentar defende,
abertamente, que a presidente renuncie ao cargo. “Não estou torcendo contra.
Mas a situação do governo é insustentável. Na minha análise, a presidente
deveria pedir a renúncia, antes que o Brasil decrete falência”, completa o
deputado Wellington Luiz (PMDB).
Crítico
ferrenho do recente acordo entre o Planalto e o presidente do Senado, Renan
Calheiros, o distrital Raimundo Ribeiro (PSDB) considera que a falta de
credibilidade de Dilma levará, naturalmente, a um processo de
impeachment.
O deputado
federal Augusto Carvalho (SD) participou da manifestação. “A presidente deve
desculpas aos brasileiros. Mas não sei mais se alguém ainda vai acreditar”,
declarou. Carvalho faz questão de ressaltar que a abertura de um processo
de impeachment só pode partir de fatos concretos.
Perda de
poder aquisitivo está nas origens
As
manifestações ainda não mobilizaram as classes mais humildes da população, pelo
diagnóstico do deputado Israel Batista (PV). Segundo distrital, até o momento,
as mobilizações contra Dilma estão concentradas na classe média, com raízes na
perda do poder aquisitivo.
“A motivação
da crise é econômica e o combustível é o cenário de desgaste ético em que se
encontra o governo”, explicou. Por lado, o deputado Juarezão (PRTB) contou que,
conversando com a população mais pobre do DF e de Goiás, escuta relatos de
descontentamento. “Por todo o Brasil, o povo está indignado. O Governo Federal
tem que ficar de orelha em pé”, completou.
Novos
focos
O deputado
Robério Negreiros (PMDB) destacou que as manifestações passaram a ter foco
contra a presidente Dilma, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, o PT e em
parte o próprio PMDB, em função da aliança do governo com o presidente do
Senado, Renan Calheiros.
O
parlamentar acrescentou que as ruas apoiaram o juiz Sérgio Moro, responsável
pelo julgamento da Operação Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de
corrupção na Petrobrás. Atualmente, este caso é uma das principais causas de
desgaste do Planalto, mesmo não havendo provas contra Dilma, até o momento.
“Mesmo que o
PMDB esteja em menor proporção envolvido, na condição de cidadão, acho
que o Brasil precisa buscar melhorias, com ou sem o impeachment”, afirmou
Negreiros. Na leitura da deputada Sandra Faraj (SD), as manifestações revelaram
que a população ficou intolerante à corrupção.
Até os
petistas cobram rapidez
Defensor de
primeira hora do governo Dilma, o deputado Chico Vigilante (PT) julga que o
Palácio do Planalto precisa tomar medidas urgentes. Segundo o distrital, a
presidente Dilma deve continuar a linha de frente governo indo para as
ruas. Postura que Dilma mostrou na semana passada, quando cumpriu uma
intensa agenda de eventos por todo o Brasil.
“Ela precisa
fazer uma reforma ministerial urgentemente, mantendo no governo apenas os
aliados verdadeiros”, sugeriu. Vigilante também avalia que o Planalto deveria
lançar programas para diminuir desemprego, combater a corrupção e
taxar as grandes fortunas.
Vigilante
acredita que as manifestações não alcançaram a população mais humilde. “A
manifestação foi da elite. O povo trabalhador ficou em casa. O povo trabalhador
não viu motivo para protestar”, criticou o parlamentar.
Aos olhos do
distrital Joe Valle (PDT) a manifestação do final de semana foi mais fraca em
comparação com as últimas mobilizações. O distrital credita este fato ao “banho
de humildade” que o governo federal passou a adotar desde a semana passada.
Para Valle, a aliança entre o Planalto e o Senado também pesaram a favor
de Dilma.
Para o
distrital Chico Leite (PT), toda manifestação é importante para a
democracia, seja que posição expressar. “O tempo depura o que for meramente
oportunismo ou apenas defesa de interesse individual ,encoberto sob o manto da
causa coletiva", afirmou.
Hora de
decifrar
Na análise
do deputado federal Rogério Rosso (PSD), o Palácio do Planalto deve
decifrar as manifestações. “Boa parcela da população está pedindo mudanças,
melhores resultados”, apontou. Do ponto de vista de Rosso, o
governo deve centrar esforços no fortalecimento da economia, exorcizando o fantasma
da inflação.
“A
presidente Dilma está muito serena e tem se esforçado para superar a crise. Ela
está colocando menos filtros para falar com a sociedade e com políticos”,
concluiu.
FHC
sugere renúncia a Dilma
Um dia após
as manifestações, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deu ontem
seu mais duro recado ao governo Dilma Rousseff e seu partido, o PT. Para FHC, o
"mais significativo das demonstrações é a persistência do sentimento
popular de que o governo, embora legal, é ilegítimo".
O tucano foi
além e disse que Dilma precisa ter "um gesto de grandeza" e cita a
renúncia como um dos caminho disponíveis à petista.
"Se a
própria presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca
de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos
à desarticulação crescente do governo", prevê o tucano.
FHC diz que
falta ao atual governo a "base moral, que foi corroída pelas falcatruas do
lulopetismo".
"Com a
metáfora do boneco vestido de presidiário, a presidente, mesmo que pessoalmente
possa se salvaguardar, sofre contaminação dos malfeitos de seu patrono e vai
perdendo condições de governar."
O
ex-presidente falou sobre o assunto em texto publicado ontem em sua página de
uma rede social. Ao final, diz que sem um mea-culpa ou a renúncia, a situação
se agravará "a golpes de Lava Jato", e arremata: "Até que algum
líder com força moral diga, como o fez Ulysses Guimarães a Collor: você pensa
que é presidente, mas já não é mais".
Poupado e
despreocupado
Poupado nas
manifestações ocorridas no domingo, o presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou não ter ficado aliviado nem preocupado.
Investigado na operação Lava Jato, Cunha foi pouco citado nas ruas.
"Não
tem alívio nem preocupação. Sempre disse que manifestação ordeira pode fazer
contra mim sem nenhum problema", disse Cunha, após encontro da bancada do
Rio com o governador Luiz Fernando Pezão.
Boneco
inflável irrita ex-presidente
O Instituto
Lula reagiu à imagem do boneco inflável gigante do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, pintado com um uniforme listrado de presidiário e com o número
"13-171" que circulou na manifestação de domingo em Brasília. O
boneco, para os manifestantes que o levaram à Esplanada, representava o alvo
maior dos protestos.
A nota do
Instituto Lula não faz referência ao boneco. Declara que, “Lula foi preso na
ditadura porque defendia a liberdade de expressão e organização política. O
povo brasileiro sabe que ele só pode ser acusado de ter promovido a melhora das
condições de vida e acabado com a fome de milhões de brasileiros, o que para
alguns, parece ser um crime político intolerável. Lula jamais cometeu qualquer
ilegalidade antes, durante ou depois de seus dois governos”.
Mesmo assim,
o vínculo com o boneco inflável foi feito pelo próprio Instituto, ao divulgar a
nota como resposta a uma mensagem da TV Globo. A emissora pedira ao
ex-presidente uma posição relativa relação aos protestos contra ele e ao
boneco que o representava vestido como presidiário. O título da nota do
Instituto é justamente “Resposta a pergunta da TV Globo”.
Clima de
pessimismo
Um dia após
multidões contrárias à presidente Dilma Rousseff voltarem às ruas pela terceira
vez em cinco meses, o governo avaliou que é preciso "quebrar o clima de
pessimismo" e garantir condições econômicas "para que o País volte a
crescer com geração de emprego e distribuição de renda".
A avaliação
foi feita durante reunião da coordenação política do governo, ontem, em que
Dilma e o vice-presidente Michel Temer reuniram 12 ministros e os líderes do
governo no Congresso.
"As
medidas estão sendo tomadas para que esse ambiente seja superado em
breve", disse o ministro Edinho Silva, da Comunicação Social.
Fonte: Francisco Dutra
- Especial para o Jornal de Brasília