Diz o filósofo de Mondubim que, quando a miséria entra pela
porta, a vergonha sai pela janela. Durante o período da grande depressão de
1929, a lei da selva retornou às principais metrópoles do planeta,
principalmente naquelas em que a crença nos valores da civilização era mais
aceita e difundida. Prostituição, contrabando, assaltos, falsificações e
contravenções de toda espécie aumentaram assustadoramente. A miséria e a falta
de perspectivas empurraram muitas pessoas e até mesmo famílias inteiras para o
mundo do crime. Nunca se jogou e bebeu tanto como naquele período. As
organizações do crime se fortaleceram e, com elas, aumentaram os casos de
corrupção nos serviços públicos. Nem instituições como a polícia e os políticos
ficaram de fora.
Por baixo
da miséria material, fermentou-se o caldo da miséria moral. Juntas, essas
mazelas galgariam altos postos no comando das cidades. Poucas instituições
ficaram a salvo da degradação geral. Numa análise mais detida, é possível
constatar que a abdução da classe política, feita pelo submundo do crime,
resultou em agravamento sem precedentes do quadro e, na visão da época, tornou
ainda mais difícil a solução do caos instalado. Na história, em muitos casos
onde polícia e políticos começaram a aparecer juntos na mesma manchete dos
noticiários, era sinal de que o Estado estava em via de ser dominado pela
bandidagem. Crises são as piores conselheiras.
Na
maioria das vezes, a saída rápida para um problema estrutural e complexo quase
nunca é simples e quase nunca se resolve pulando a janela para fugir. Na crise
em que está mergulhado o país, para muitos a maior desde sempre, não há
soluções fáceis nem remédio eficaz. Não será com arrochos improvisados nos
impostos e outras maquinarias que a crise vai arrefecer. Muito menos com a
liberação dos jogos de azar e dos cassinos e bingos. Na verdade, a exploração
desses negócios muitas vezes é feita por pessoas com sérias dívidas com a
Justiça e longas fichas criminais.
Usar a
ideia de taxação sobre o jogos como estratégia para aumentar as receitas da
União equivale a negociar a alma da nação, fazendo empréstimos à bandidagem,
usando como garantia o bom nome dos cidadãos. Para um Estado em que a segurança
pública não controla nem os chefões do crime confinados nas penitenciárias de
segurança máxima, controlar os tentáculos da jogatina e seu enorme poder de
influência parece até ficção do tipo realismo fantástico.
A frase
que não foi pronunciada
“Somos árvores. Mostramos as nossas folhas, flores e frutos. Mas
não saímos do lugar para efetivamente lutar pelos nossos direitos. A Dilma,
sim. Fez isso quando era jovem.”
(Palavra
de um crítico ou admirador?)