Nas Entrelinhas: Luiz
Carlos Azedo
Correio Braziliense - 26/11/2015
Delcídio operou como uma espécie de “gerente de crise” a favor dos envolvidos na Lava-Jato. Movimentou-se com grande desenvoltura para tentar impedir a delação premiada de Cerveró
Correio Braziliense - 26/11/2015
Delcídio operou como uma espécie de “gerente de crise” a favor dos envolvidos na Lava-Jato. Movimentou-se com grande desenvoltura para tentar impedir a delação premiada de Cerveró
A seguinte piada circulava ontem nas redes sociais:
– Vossa Excelência está preso, por favor, me acompanhe.
– Eu tenho direito a um advogado.
– Sim, ele já está preso ali na viatura.
– Tenho direito a um telefonema, preciso falar com meu assessor.
– Nem precisa telefonar, senhor, ele também está preso na viatura da
frente.
– E se eu precisar de dinheiro pra fiança?
– Ainda sem problemas, seu banqueiro está na viatura de trás. Vamos
embora!
*****
Parece um diálogo do antigo Casseta & Planeta, entre o falecido
Bussunda e o também humorista Marcelo Madureira, porém, data vênia, é um resumo
do fato político mais relevante de ontem: as prisões do senador Delcídio do
Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado; do advogado Edson Ribeiro, que
defendeu o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró; do
chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira; e do banqueiro André Esteves, do
banco BTG Pactual.
As prisões representam a chegada da Operação Lava-Jato ao vértice do
esquema de corrupção montado na Petrobras e outras empresas estatais,
envolvendo o líder do governo no Senado e o maior operador financeiro do
cluster organizado para explorar o pré-sal, o banqueiro André Esteves. O fato
de resultar da delação premiada do ex-diretor da área Internacional da
Petrobras Nestor Cerveró e relatar fatos novos sobre a controvertida compra da
refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), faz com que o caso se reaproxime da
presidente Dilma Rousseff, que presidia o Conselho de Administração da
Petrobras na época da aquisição e já faz tudo o que pôde para se isentar de
responsabilidade quanto a isso.
A discussão do caso no Senado foi como falar de corda em casa de
enforcado. A prisão de Delcídio também pôs em xeque as lideranças do Senado,
muitas das quais citadas em diversas delações premiadas, ou seja, sob
investigação na Operação Lava Jato, como é o caso do senador Fernando Collor de
Mello (PTB-AL). Foi a primeira vez que um senador foi preso em pleno exercício
do mandato, numa Casa criada em 1824.
Pela Constituição, cabe ao Senado referendar ou revogar a prisão. Houve
uma grande polêmica sobre a votação, pois o presidente da Casa, Renan Calheiros
(PMDB-AL), optou pelo voto secreto, mas submeteu a decisão ao plenário. A
maioria preferiu o voto aberto. Entre o espírito de corpo e a sintonia com a
opinião pública, prevaleceu o que é de praxe nessas situações limites: a
vontade das ruas. Também por isso, manteve a prisão de Delcídio.
O Palácio do Planalto operou para que a base do governo mantivesse a
votação secreta e revogasse a prisão em flagrante de Delcídio, embora a
retórica do PT fosse no sentido de estabelecer um cordão sanitário em relação
ao caso, o que é uma missão impossível, uma vez que o petista é o líder do
governo no Senado. A grande preocupação do Palácio do Planalto é com relação
aos desdobramentos da prisão, caso o senador petista se sinta abandonado. Ele
também ainda pode aderir à delação premiada.
Gravações
As gravações divulgadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori
Zavascki, são estarrecedoras. Delcídio operou como uma espécie de “gerente de
crise” a favor dos envolvidos na Lava-Jato. Movimentou-se com grande
desenvoltura para tentar impedir a delação premiada de Cerveró, a ponto de
cooptar o seu advogado, traçar uma rota de fuga para a Espanha caso o
ex-diretor da Petrobras obtivesse um habeas corpus e mobilizar um banqueiro
para comprar seu silêncio com uma mesada de R$ 50 mil.
O mais grave, porém, foi a revelação de que pretendia influenciar as
decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) para abafar o caso, o que causou
estupor e grande irritação entre os membros da Corte. E deve ter provocado a
decisão extrema de Teori, que decretou sua prisão cautelar. Disse Delcídio:
“Agora, agora, Edson e Bernardo, é eu acho que nós temos que centrar fogo no
STF agora, eu conversei com o Teori, conversei com o Toffoli, pedi pro Toffoli
conversar com o Gilmar, o Michel conversou com o Gilmar também, porque o Michel
tá muito preocupado com o Zelada, e eu vou conversar com o Gilmar também”.
Na mesma gravação, Delcídio anuncia que pretende procurar o ministro do
STF Edson Fachin para pedir a concessão de habeas corpus para um dos réus da
Lava-Jato. Os ministros negaram a existência das conversas e reagiram com
indignação. Teori Zavascki, relator da Lava-Jato, pediu ao presidente 2ª Turma
do STF, ministro Dias Toffoli, a convocação de uma reunião extraordinária para
deliberar sobre o caso. A decisão foi tomada por unanimidade, com os votos
também de Gilmar Mendes, Celso de Mello e Cármen Lúcia. E pôs um ponto final
nas especulações entre políticos e advogados dos réus de que seria possível
anular ou esvaziar a Operação Lava-Jato no STF.