Só no primeiro trimestre deste
ano, o Ibama deu 88 licenças de caça
Eles deveriam ser usados
comercialmente, mas a atividade não deu certo. Os porcos selvagens se
espalharam pela região e se tornaram um problema à fauna e à flora. Desde o ano
passado, têm aumentado a presença em Goiás, o que levou o Ibama a permitir a
caça
Os porcos selvagens têm
aparecido, em grande quantidade, nos municípios de Alexânia, Cristalina e
Formosa, próximos a Brasília: ameaça à safra e ao recursos naturais
Em bando, com armas de grosso calibre e
na companhia de cães ferozes. Tiros, correria, em meio ao cerrado e à
plantações. Cachorros sangrando, em carne viva, após mordidas do alvo. Do
tamanho de um ser humano, o animal selvagem, agonizando, cambaleia. Já morto,
dilacerado pelas dentadas da matilha, é exibido como troféu pelos seus algozes.
De tão grande, mal cabe na carroceria de uma caminhonete. As cenas são de uma
caçada a javali em Alexânia (GO), a 100km de Brasília. E elas têm se repetido
cada vez mais em outras cidades goianas do Entorno do Distrito Federal.
Fazendeiros e adeptos de caça abatem
javalis-europeus para conter a superpopulação da espécie, reconhecida como
nociva por autoridades brasileiras. Não pertencente à fauna nacional e também
chamado de porco selvagem, o animal é extremamente agressivo. Ele tem presas
enormes, pode medir 1,3m de comprimento, pesar até 250kg e destruir 60% da
safra. Em quantidade desordenada, representa, ainda, uma ameaça às nascentes dos
rios e à saúde humana. Mas nem por isso se pode matá-lo à vontade. É preciso
autorização e seguir regras, como não maltratá-lo. A venda de sua carne e
subprodutos é proibida.
Produtores rurais introduziram o
javali-europeu no Brasil a partir do início do século passado, para a
exploração comercial. A atividade não se desenvolveu, resultando na soltura e
na reprodução descontrolada dos animais. Ele não tem predadores naturais no
país. Desde então, a presença de grupos de javalis foi registrada em estados de
todas as regiões: Acre, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São
Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Em Goiás, a espécie se espalhou em
maior número no ano passado, com animais vindos de matas dos estados limítrofes
do Centro-Oeste. Desde então, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama) emite, em média, 20 autorizações por mês
para o abate de javalis-europeus em zonas rurais de municípios goianos. No mais
recente levantamento, o órgão ambiental deu 88 licenças no primeiro trimestre
de 2016. “Para se ter uma ideia, é um aumento de 54% em relação ao último
trimestre do ano passado”, ressalta Leo Caetano, analista do Ibama que cuida
dos registros em Goiás. O órgão também é responsável pelo controle populacional
do animal.
Vizinhas do DF, Alexânia, Cristalina e
Formosa são três das cidades com a maior incidência do animal selvagem no
estado. Um pouco mais distantes de Brasília, Silvânia e Vianópolis são outras
com grandes ocorrências. “O javali virou uma praga no estado. Temos ido a
algumas cidades para dar palestras aos fazendeiros e explicar o que deve ser
feito para o manejo”, afirma a bióloga Cristianne Borges Miguel, do Núcleo de
Fauna do Ibama em Goiás.
Controle populacional
A praga começou pela região Sul. Os
primeiros casos de porcos selvagens em propriedades rurais de Santa Catarina,
um dos estados mais afetados pela presença dos javalis, datam de 2006. O caso
chamou a atenção do Ibama e da Polícia Militar Ambiental do estado, que
permitiu a caça para controlar a população no território catarinense em 2010.
Só em 2015, fazendeiros e caçadores em geral abateram 920 animais na região.
Não há uma estimativa sobre a população dessa espécie em todo o país. No
entanto, há cerca de 300 mil exemplares distribuídos no Sul do país.
Nas regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste, a caça como medida de controle populacional está autorizada pelo
Ibama, desde 2013. Apesar de a Instrução Normativa do Ibama “autorizar o
controle populacional do javali vivendo em liberdade em todo o território
nacional” e normatizar esse controle inclusive com armas de fogo, o texto não
menciona a expressão “caça”, e o instituto a repudia.
De acordo com o Ibama, a presença
desordenada de porcos pode ocasionar a diminuição de espécies vegetais nativas,
acarretando prejuízos às formações vegetais, a aceleração do processo de erosão
e o aumento do assoreamento dos rios. Quando em contato com espécies nativas,
os javalis podem transmitir doenças, provocar a diminuição das populações
silvestres ou a morte de espécies da fauna nativa.
Porcos selvagens transmitem brucelose,
leptospirose, febre aftosa, tuberculose, parvovirose suína e encefalite
japonesa. Além disso, são conhecidos por espalhar a doença vesicular do suíno,
a doença de Aujeszky e também a peste suína ou cólera do porco. Mas os
especialistas do Ibama alertam para o caçadores não confundirem o javali com
animais nativos parecidos, como as queixadas e os catetos (ou catitus), também
chamados de porcos-do-mato.
Fuga do Uruguai
Os primeiros registros de introdução do
javali-europeu no Brasil são de 1904. Animais trazidos da Europa para a
Argentina e parte do Uruguai escaparam dos criadouros e invadiram o território
brasileiro pela fronteira. Em 1996 e 1997, foram realizadas importações de
javalis puros, originários da Europa e do Canadá, para os estados de São Paulo
e do Rio de Janeiro.
Memória - Presos no DF
Em agosto de 2015, policiais militares
prenderam quatro suspeitos de caçar javalis ilegalmente no Distrito Federal.
Eles foram encontrados em uma fazenda na BR-251, na região de São Sebastião,
após denúncia. O grupo estava com 15 cães de caça, uma carabina calibre 22, um
carregador e munição. Além disso, portavam facas, facões e rádios amadores. De
acordo com a Polícia Militar, os homens afirmaram ter autorização do Ibama para
manejo de fauna. O documento apresentado, no entanto, estava vencido. O caso
foi encaminhado para a Delegacia do Meio Ambiente. Os animais também foram
levados para a unidade policial e as armas de fogo, apreendidas.
Os javalis chegam a pesar 250kg:
com presas de até 1,3m, eles são letais
O que diz a lei
Venda proibida
O abate do javali está autorizado desde
31 janeiro de 2013 pelo Ibama, mas de forma restrita e sob algumas condições.
Confira algumas delas:
O interessado deve
entrar no site do Ibama (ibama.gov.br) e preencher
o Cadastro Técnico Federal
(CTF). Não pode ter pendências legais e ambientais.
A cada
trimestre, deve enviar um relatório das atividades (número de javalis abatidos
ou capturados, quantas saídas fez atrás dos animais e onde andou).
A cada caçada, deve fazer
uma “declaração de manejo”, relatando onde esteve, com coordenadas geográficas
do lugar.
Os relatórios devem ser enviados à sede
regional do Ibama. Ainda nãé possível remetê-los on-line.
Pela norma do Ibama, o javali poderá ser
perseguido, caçado com armas de fogo e capturado em armadilhas.
As armas, porém, devem ser de calibre
superior a 38 para garantir a letalidade. Não são permitidas armadilhas de caça
que causem maus-tratos aos animais, como ferimentos, morte, nem ocasionem danos
a outras espécies.
Quem abate o javali não pode vender a carne
nem ser remunerado por esse controle ambiental.
É importante lembrar que a caça esportiva
não é regulamentada no Brasil, e a caça profissional (com fins lucrativos) é
proibida, de acordo com o artigo 29 da Lei nº 9.605/1998. A caça de javalis não
é esportiva; o que é permitido é o manejo da espécie com objetivo de controle
populacional.
Fonte: Renato Alves – Fotos; Ibama/GO-Divulgação – Correio
Braziliense
Se a pessoa não pode vender a carne e nem ser remunerada pelo serviço de controle ambiental, quem terá o interesse em ir caçar esses animais? Apenas os fazendeiros que são afetados pela presença dos javalis vão se dispor a fazer esse controle populacional em suas propriedades. A fauna nativa sofrerá grandes danos causados por essa espécie invasora. Infelizmente o IBAMA continua com sua característica de criar políticas ineficazes e controversas que não fazem bem algum ao meio ambiente!
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