O Buritinga tem 182 mil m² distribuídos em uma estrutura de
16 torres- Foto: Sheyla Leal/Obritonews/Fato
Governos necessitam ser substituídos dentro do salutar
rodízio imposto pela democracia. Isso, obviamente, vale apenas para a equipe
escolhida pelos eleitores. Com as obras e realizações de cada administração,
isso não ocorre. Muito pelo contrário. O que o cidadão espera é que as obras
iniciadas, sejam concluídas e que as concluídas sejam eficientes, bem
construídas e que durem o máximo possível, fazendo valer cada centavo retirado
do suado dinheiro do contribuinte. Obras embasadas por bons projetos e devidamente
fiscalizadas pelo contratante costumam ser de qualidade e durabilidade bem
superiores.
O
dinheiro do contribuinte é tão sagrado que o cofre contendo esses recursos
deveria ser posto num altar e venerado pelos governantes todos os dias.
Infelizmente, os tribunais de contas, que deveriam ter ação mais proativa na
defesa dos recursos públicos, agem, em muitos casos, tardiamente, provocados
pelas repercussões de escândalos ou por denúncias publicadas na mídia. No caso
do Distrito Federal, ainda causa estranheza em muitos que construções
caríssimas e suspeitas, como o Estádio Mané Garrincha, tenham passado
livremente pelos órgãos de fiscalização, em brancas nuvens, sem óbice algum.
Até hoje,
o contribuinte brasiliense não foi devidamente informado sobre a necessidade e
o preço exorbitante pago por aquele monumento ao desperdício, que, mesmo
fechado ou subutilizado, consome diariamente recursos para sua manutenção.
Enquanto o contribuinte aguarda explicação clara para o caso específico, outras
obras e projetos também dispendiosos, anunciados com grande alarido e
propaganda, seguem esquecidos ou relegados a segundo plano pelo GDF. Uma dessas
obras, deixadas de lado, por mais estranho que pareça, foi erguida justamente
para abrigar todo o governo local.
O Centro
Administrativo do Distrito Federal, chamado Buritinga, consumiu até agora dos
cofres públicos cerca de R$ 660 milhões. Oficialmente pronto e inaugurado desde
2014, permanece vazio e totalmente sem função. Pior é que mesmo fechado,
necessita de recursos mensais para manutenção. De acordo com o governo, além
dos móveis, ainda não foram concluídas todas as instalações elétricas, de
telefonia, de acesso à internet e de ar-condicionado.
Enquanto
esse fabuloso conjunto com 17 grandes edifícios — centros de convenções e de
convivência, estacionamentos, lojas e outras comodidades — não entra em
funcionamento, o GDF continua gastando altas somas de dinheiro com o pagamento
de aluguéis de imóveis para abrigar parte da administração. Para resolver o
problema, lógico, foi criado um grupo de trabalho para estudar uma solução
viável para o caso. Obras paradas dão prejuízo certo. Projetos suspensos no ar,
idem.
No caso
do projeto do Trevo de Triagem Norte, de fundamental importância para a cidade,
parado desde 2014, há a promessa do GDF de que a construção tenha continuidade
tão logo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) libere
os recursos da ordem de R$ 150 milhões. O Trevo de Triagem Norte é formado por
um conjunto de 12 obras viárias, que inclui a construção de uma terceira pista
no trecho Torto-Colorado, viadutos, novos trevos e benfeitorias que vão
favorecer mais de 100 mil motoristas que passam pelo local diariamente e, não
raro, enfrentam congestionamentos nas horas de pico. Também as obras da
Penitenciária Federal de Brasília, destinada a abrigar 208 presos de alta
periculosidade, estão paralisadas desde 2014. Embora com 62% concluídos,
permanece em ponto de repouso e sem perspectiva de reinício dos
trabalhos, tendo consumido perto de R$ 20 milhões do contribuinte. Existe
de fato uma percepção por parte da população de que Brasília parou,
literalmente.
"Estudos
mostram que existem atualmente pelo menos 10 obras de grande importância para a
cidade que estão paradas ou em ritmo muito lento. As estimativas dão conta de
que seriam necessários, ao menos, R$ 1 bilhão para reativar essas obras."
“Nós
temos o dever de garantir que cada centavo que arrecadamos com a tributação
seja gasto bem e sabiamente, pois é o nosso partido que é dedicado à boa
economia doméstica. Proteger a carteira do cidadão e proteger os serviços
públicos: essas são as duas maiores tarefas e ambas devem ser conciliadas. Como
seria prazeroso gastar mais nisso, gastar mais naquilo. É claro que todos nós
temos causas favoritas. Mas alguém tem que fazer as contas. Toda empresa tem
que fazê-lo, toda dona de casa tem que fazê-lo, todo governo deve fazê-lo, e
este irá fazê-lo ” — legado deixado ao mundo por Margaret Tatcher.
No caso
de grande obras, nestes tempos bicudos, o interessante seria o governo submeter
cada uma a consulta pública minuciosa, preservando e resguardando o dinheiro,
já escasso, do cidadão.
***
A frase que foi pronunciada
“Desde a volta da democracia, são poucos os discursos que se
concretizam. Nas próximas eleições ninguém mais vai aguentar tanta mentira. A
saída vai ser roubar nas urnas. Acabou-se a esperança.”
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha
– Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog – Google