"O Dudu sempre surpreende a gente. Ele tem altos e baixos. Há dias
que ficamos desanimados com a saúde dele e ele volta a se superar" Betânia
Borges, veterinária do Zoológico de Brasília
"Uma das principais atrações do Zoológico de Brasília, Dudu está prestes
a completar 22 anos - superando a expectativa de vida dos leões africanos - e
requer cuidados especiais"
Uma das áreas mais visitadas do Zoológico de Brasília, a jaula do leão
está cercada por fita zebrada há cerca de um mês. Em volta, crianças
decepcionadas insistem e esperneiam para ver o mais velho conhecido habitante.
Prestes a completar 22 anos, Dudu é considerado um idoso para a expectativa de
vida de leões africanos, que varia entre 14 e 18 anos. Se comparada à idade
cronológica de seres humanos, o felino é um ancião de 90 anos. Da mesma forma
que um senhor, o animal também requer cuidados especiais como alimentação
balanceada e exames semanais.
A
veterinária do Zoológico de Brasília Betânia Borges explica que cercar o local
foi uma medida necessária pelo bem do animal. “O barulho acaba incomodando-o”,
afirma. Quem não gostou da ideia foram os visitantes. A empresária Sara Torres,
de 35 anos, levou as filhas Maria Eduarda, 2, e Maria de Fátima, 5, ao zoo pela
primeira vez. Porém, tiveram de se contentar em ver o felino na ponta dos pés.
“Acho que todo mundo que vem ao zoológico quer ver o leão”, diz. Ela ainda
lembra que, na última vez que visitou o local, há cinco anos, a situação do
animal estava diferente. “Ele parecia bem melhor”, conta. Com um tablet nas
mãos, Leonardo de Oliveira, 6, natural de Vitória, no Espírito Santo, afirma
nunca ter visto um leão de perto. “Queria tirar uma foto para mostrar para o
meu primo”, conta, chateado.
Segundo a
veterinária Betânia, Dudu apresenta muitos problemas de saúde em função da
idade avançada. “O que é normal e esperado, por exemplo, de um senhor idoso”,
justifica. Atualmente, o animal está com artrite e disfunções hepáticas. Além
disso, possui bico de papagaio, uma manifestação de artrose na coluna vertebral
que dificulta a locomoção do leão. O tratamento inclui quatro medicamentos para
dor, fígado e articulações. O sistema digestivo também está prejudicado devido
à idade. “O aparelho digestivo dele já não é mais o mesmo, por causa disso,
fracionamos a quantidade de comida”, explica Betânia.
De acordo
com a veterinária, um leão saudável se alimenta com intervalo de um dia. No
entanto, como Dudu está doente, precisa ser alimentado diariamente. No cardápio
do felino, carne vermelha, suína e vísceras acompanham remédios e vitaminas.
“Ele toma vários suplementos justamente por causa da redução de absorção de nutrientes”,
afirma a especialista. Ela ainda conta que Dudu já passou até por sessões de
acupuntura que ajudaram a diminuir as dores do animal.
Embora
esteja debilitado, Dudu ainda é um animal feroz, adverte Betânia. Ou seja,
cuidados com segurança são indispensáveis. “Apesar de tudo, ele ainda tem
força”, afirma. O local em que o animal vive, ao qual só pessoas autorizadas
têm acesso, fica no subterrâneo e é equipado com todas as medidas de proteção
necessárias para evitar um ataque. No túnel que antecede o cambiamento, há
quatro espelhos convexos, que permitem visualizar uma possível fuga dos
animais. O sistema de travamento das portas também impede um contato inesperado
entre os tratadores e a fera.
Questionada
sobre o porquê de Dudu superar a expectativa de vida prevista para um leão
africano, a veterinária diz que não há explicação exata. “Biologia não é
matemática. Não dá para saber ao certo”, pondera. A especialista também não dá
prazo de validade para o animal. “O Dudu sempre surpreende a gente. Ele tem
altos e baixos. Há dias que ficamos desanimados com a saúde dele e ele volta a
se superar”, explica. “É capaz de ele ainda enterrar a gente”, brinca.
Aids felina
Há apenas mais um leão no zoológico de Brasília. Resgatado por
maus-tratos de um zoológico em Niterói, no Rio de Janeiro, Dengo é o único leão
vivo de uma série de resgates realizadas pelo Ibama em 2007 e 2011. De acordo
com a veterinária Betânia Borges, o animal tem Aids felina e, devido ao risco
de passar o vírus, não divide a jaula com Dudu. Ela explica que a doença é tão
contagiosa como a de humanos. “Se um tratador pisar na saliva do Dengo e entrar
na jaula do Dudu, o leão pode pegar a enfermidade”. A expectativa é de que o
felino tenha sua própria jaula em breve.
Por: Ingrid Borges (Especial para o Correio) – Fotos: Ed
Alves/CB/D.A.Press – Correio Braziliense