Em boa hora, o GDF começou a discutir um amplo projeto de revitalização do Setor Hoteleiro Norte e do Sul. Para os empresários dessas localidades, as reformas são bem-vindas e ajudarão a levantar o astral nos negócios de hotelaria da cidade, afundado numa profunda crise desde o fim da Copa do Mundo em 2014.
O fundo do poço nesse setor e que mostrou com clareza as agruras da hotelaria na capital foi a ocupação do antigo Torre Palace Hotel por centenas de moradores de rua.
Transformaram aquele edifício num intenso e conhecido ponto de venda e de consumo de drogas e esconderijo de malfeitores.
A decadência dessa área e o perigo representado pela vizinhança problemática ajudaram a espantar, ainda mais, a já escassa freguesia do local. A péssima iluminação, a falta de calçadas bem planejadas e que integrem o conjunto de hotéis dos dois lados da cidade, além da deficiência no policiamento em toda a área central da cidade, têm sido durante anos um convite para manter as pessoas bem distantes daquele local, principalmente quando cai a noite. Mesmo os poucos turistas que buscam lazer têm sido recomendados a não circular naquelas proximidades, transformada em terra de ninguém.
Na verdade, pensar em revitalizar aquela imensa área, integrando as Asas Norte e Sul, não resultarem numa grande transformação se não forem incluídas nessas mudanças as reformas da Rodoviária, do Teatro Nacional, do antigo Touring e de todo o complexo de interesse turístico nas adjacências.
Pensar a cidade apenas em tempos de torneios internacionais resolve problemas pontuais e de curto prazo, mas não traz mudanças duradouras e definitivas que a cidade e seus habitantes reclamam há anos.
Talvez seja o caso de o GDF convocar os préstimos de reconhecidos urbanistas, mesmo estrangeiros, para propor reformas substanciais na área central, sem prejuízo das exigências do tombamento.
Um bom começo seria a eliminação dos inúmeros barracos de lata com comerciantes que estão invadindo a cidade e que, em nome de um populismo eleitoreiro, vêm transformando a cidade numa grande favela, sob os olhos complacentes de todos.
É preciso entender que essas invasões representam um primeiro passo para a instalação da violência urbana e para uma cidade sem lei. É a permissividade urbana que estimula a violência, que expulsa os turistas, que desestimula quem paga pelo aluguel de uma área para lojas e restaurantes. É preciso evitar o estímulo sem fim à decadência.
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A frase que foi pronunciada
“A arquitetura é música petrificada.”
(Daniel Libeskind)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense