Em janeiro de 2016, choveu muito em Brasília. Em
fevereiro, o tempo estiou revelando que havia pipocado um ativo olho d’água na
área de ampliação do Parque Olhos d’Água, proximidades do Eixo L Norte. Os
moradores ficaram convencidos de que seria uma nascente, embora não fosse nada
óbvia tal ocorrência em um aterro que foi feito de entulho e lixo, mais do que
de terra. Não é por acaso que o Parque se chama Olhos d’Água: trata-se de uma
área de mananciais, para onde também se destinam as águas das chuvas que caem
na Asa Norte. Cuidaram de cercar e proteger o olho d’água, que ficou dentro de
um laguinho, devidamente protegido para sobreviver ao período da seca. Plantas
ornamentais foram doadas e mais árvores foram dispostas ao redor do laguinho.
O local virou um ponto de estadia e passagem de vários tipos de aves,
inclusive gaviões, saracuras e tucanos. Um caminho de telhas construído para
evitar erosão na saída da água pelo barranco se converteu num tobogã de
passarinhos e lagartos. A proximidade do olho d’água da cerca do Parque permite
que que os transeuntes apreciem o novo cenário e tornou-se frequente a visita
de crianças, acompanhadas pelos pais, para conhecerem uma suposta nascente
ativa dentro da cidade.
O olho permaneceu ativo durante os meses de seca. Em outubro, com a
chegada das primeiras chuvas, eclodiu uma nova ocorrência de água subterrânea,
dessa vez na base do aterro do Eixo L Norte, na área da 213 Norte e a uns 50m
além da cerca do Parque. Parecia tratar-se de outra nascente, mas a sua
proximidade do Eixo indicava que poderia tratar-se de algum vazamento e a Caesb
foi acionada.
Há poucos
dias, técnicos da Caesb constataram que a ocorrência coincidia com a
localização da rede. Uma escavadeira gigante removeu o barro até que a tubulação
foi encontrada, toda rachada, de modo que os técnicos fecharam o seu registro,
suspendendo o fornecimento de água para as quadras do fim da Asa Norte até que
o vazamento fosse consertado. Assim que o registro da rede foi fechado, os
técnicos da Caesb e alguns moradores que acompanhavam o serviço constataram que
o olho d’água da nascente também cessou a sua atividade. Com o término do
conserto e o religamento da rede, o fornecimento voltou a funcionar.
A notícia
de que a nascente não era mais do que um vazamento provocou muita tristeza,
inclusive entre os técnicos da Caesb, que também puderam apreciar o afluxo dos
pássaros e dos transeuntes pelo local enquanto faziam o seu trabalho. Todo
mundo queria que o olho d’água fosse mesmo uma nascente e que aquele foco de
vida e de beleza fizesse parte da cidade para sempre.
A vontade
de todos era que o relatório dos técnicos à Caesb sobre o serviço realizado
omitisse referências ao olho d’água “para que fique para os passarinhos”.
Porém, aquele sentimento não prevaleceu sobre a compreensão de todos de que não
se pode fazer vista grossa ao vazamento de água tratada, que constitui um
desperdício altamente custoso e que chega a ser criminoso no contexto de crise
hídrica e de ameaça de racionamento que assola a cidade.
O
convívio com os técnicos permitiu que os moradores entendessem um pouco mais
sobre precariedades do sistema de abastecimento de água e ficaram sabendo que
existem muitas outras “nascentes” da Caesb pelo DF afora. E transmitiram a má
notícia diretamente aos demais moradores, causando consternação geral, mas
também a certeza de que não se tratava de nenhuma empulhação para destruir uma
nascente.
Os
moradores esperam que a Caesb se entenda com o Ibram, responsável pelo Parque,
e que o novo conserto seja feito com o devido cuidado, já que será necessária a
retirada de parte do alambrado do Parque em área já arborizada, o que aumenta a
preocupação quanto ao impacto que será provocado.
Também se
espera que a Caesb seja dotada de tecnologia que permita identificar e sanar os
vazamentos de água com maior rapidez. Se a perda de água tratada se aproximasse
de zero, não estaríamos pressionando tanto os reservatórios e o risco de
desabastecimento seria menor. E, quem sabe, até sobraria água para que mais fontes
fossem construídas pela cidade, saciando a sede dos animais e a curiosidade das
crianças e alegrando a todos.
Por:
Marcio Santilli - Sócio fundador e assessor do do Instituto Socioambiental
(ISA), Nurit Bensusan, especialista em biodiversidade – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google
Desculpe não entendi, aquele laguinho do Parque Olhos D'água perto da L2 norte, é um vazamento?
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