Escola-Parque SQS 308 Sul
Por Júlio Gregório Filho,
Na visão inovadora de Anísio
Teixeira, a escola passa a fazer também, em um patamar complementar, as vezes
da casa e da família dos estudantes. Com este ideal, o educador pioneiro
entendeu que as crianças necessitam de atendimento que extrapole a mera instrução.
Nesse sentido, a Secretaria de Educação do Distrito Federal vai ampliar em 75%
o número de crianças a serem atendidas em tempo integral no coração de
Brasília, que é para onde grande parte dos pais do DF se deslocam para
trabalhar o dia todo. E o que é melhor, com a excelência do projeto preconizado
por meio das Escolas Parque, originalmente criadas com o objetivo de
complementar o ensino oferecido nas Escolas Classe, mas que, com o passar dos
anos, tiveram o funcionamento desvirtuado.
Atualmente, todos os alunos das 36 Escolas Classe da Regional do Plano
Piloto/Cruzeiro são conduzidos uma única vez por semana às cinco Escolas Parque
existentes, em uma condição que não permite o desenvolvimento pleno das
habilidades que a frequência diária propicia aos estudantes. Para 2017, o
Governo de Brasília promove uma mudança ousada que resgata o projeto original
de Anísio Teixeira, elevando de seis para 17 escolas que atenderão os
estudantes durante 10 horas diárias em cinco dias da semana. A partir dessa
proposta, será possível que as crianças possam ter, no contraturno, uma
iniciação artística, esportiva, cultural e social que integra todos os
segmentos da sociedade. O objetivo do novo sistema – que não é novo diante do
fato de que atende à primazia da origem – é ampliar e qualificar o atendimento,
sem prejudicar aqueles estudantes que não utilizam o modelo integral, mas que
terão, no turno que frequentavam a Escola Parque, as mesmas atividades
desenvolvidas na própria Escola Classe.
A opção tomada neste momento em relação ao Plano Piloto – a partir de
consulta aos próprios diretores das 36 unidades escolares afetadas – busca
contemplar sobretudo as famílias que necessitam de escola em tempo integral
para os seus filhos, sendo elas, em sua maioria, trabalhadores que se deslocam
para esta região central e necessitam permanecer com eles o dia todo por perto.
De cerca de 1,6 mil crianças, passaremos a atender quase 2,9 mil — um
quantitativo que representa grande avanço na oferta a um público que necessita
efetivamente do serviço.
A Secretaria consegue, assim, sobretudo, atender o anseio de muitos pais
em situação de maior vulnerabilidade econômica que buscam escolas em regime
integral. Entendemos que o ideal seria que houvessem Escolas Parque para todas
as Escolas Classe do DF, como era o desejo de Anísio Teixeira: quatro escolas
classe no entorno de uma escola parque para os estudantes frequentarem ambas em
um sistema alternado de turnos e terem acesso a uma educação que vai além dos
conteúdos clássicos científicos da leitura, da escrita e das ciências exatas. O
ensino eficaz ultrapassa os limites do ler, escrever e fazer contas. Nesse
sentido, é compreensível a preocupação da comunidade escolar em preservar esse
bem, que, em nenhum momento, corre o risco de ser perdido neste retorno à sua
base.
É importante salientar que a Escola Parque tem uma finalidade que
necessita ser retomada. As atividades lúdicas oferecidas na Escola Parque têm
objetivos que devem ser cumpridos. Elas existem para disponibilizar aos
estudantes “brincadeiras” orientadas que fazem elo entre o conhecimento, a
socialização e o desenvolvimento psicomotor que, em sala de aula, não é
possível alcançar e que também não se constrói em um único dia da semana. De
200 horas anuais, passaremos a oferecer as atividades nas Escolas Parque para
1.000 horas por ano, o que, na prática, representa um aprofundamento pedagógico
com maior rendimento. Prova disso é que as unidades escolares que já ofertam
atendimento integral destacaram-se nos exames externos e atingiram em 2016
metas para o Ideb estabelecidas para 2021.
O Governo de Brasília entende e valoriza o fato de que todos os cidadãos
devem ser ouvidos, acolhidos e respeitados em seus anseios, mas é preciso
sensibilidade e bom senso para entender que o Estado tem o dever de priorizar o
atendimento da necessidade do maior número de pessoas da comunidade. E é com
esta visão que mantém a decisão de trazer o conceito da Escola Parque à sua
origem.
(*) Júlio Gregório Filho - Secretário de
Educação do Distrito Federal – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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