Há duas décadas, “dê o sinal de vida” virou o lema dos brasilienses no
momento de atravessar a faixa de pedestres. Responsabilidade que começou a ser
construída na campanha maciça de conscientização Paz no Trânsito, com apoio
incondicional do Correio. E deu certo. Aprendemos, desde criança, a erguer o
braço para pedir passagem aos veículos na rua.
A mesma capital que respeita o pedestre, no entanto, precisa aprender a
promover a convivência pacífica entre motoristas e ciclistas no trânsito. Edson
e Edimar foram vítimas da falta de consciência. Os dois ciclistas morreram
nesta semana. O primeiro foi atropelado por motorista que conduzia sob efeito
de bebida alcoólica. O outro foi atingido pelo carro de um jovem que não parou
para prestar socorro. Após dois anos em coma, não resistiu.
Situações como essas escacaram a dor de várias famílias e mostram a
importância de levar a mesma consciência do respeito à faixa de pedestres a
todas as esferas do trânsito. Ações que protejam os mais vulneráveis — os que
caminham pelas ruas, motociclistas e ciclistas. O início do Maio Amarelo, na
próxima segunda-feira, é a oportunidade de fazer o exercício de se colocar no
lugar do outro e começar a agir para proteger a todos. Dados divulgados pelo
Departamento de Trânsito do DF (Detran), nesta semana, durante o lançamento da
campanha, mostram avanços: foram 52 mortes a menos este ano em comparação com
os quatro primeiros meses de 2016. Que os monumentos iluminados de amarelo
sirvam de alerta para os motoristas e evitem que eles arrisquem a própria vida
e a de outras pessoas ao dirigir embriagados, em alta velocidade ou sem
respeitar a sinalização de trânsito.
A entrevista de David Duarte, especialista em segurança no trânsito da
Universidade de Brasília (UnB), ao Correio, mostrou outra face importante da discussão,
a de nos percebermos — brasileiros e brasilienses — como responsáveis por
nossas ações e por nossa ética. Não adianta, como ressaltou o acadêmico,
criticar os políticos envolvidos nas investigações da Lava-Jato e, no instante
seguinte, atravessar fora da faixa de pedestres, dirigir depois de beber uma
cerveja com os amigos ou frear o carro apenas para evitar a multa do pardal.
Vamos nos deixar ser tomados, em maio e em todos os meses do ano, pelo espírito
do respeito e da paz no trânsito para que, conscientes desses deveres, as
demandas pelos direitos que bradamos ao ir às ruas sejam legítimas.
Por Mariana Niederauer - Correio Braziliense