Vamos tirar as carroças das ruas?
*Por Jane Godoy
Uma das coisas que mais me encantam e emocionam é observar o trabalho
árduo e insalubre dos catadores nos lixões, que deveriam em sua
totalidade, ser substituídos por organizados aterros sanitários.
Já existe
tecnologia e há inúmeros recursos para que isso seja instalado, proporcionando
a essas pessoas um trabalho digno e limpo. Roupas apropriadas, luvas e botas,
gorros e máscaras que protejam os pulmões do perigoso chorume eliminado pelos
detritos em decomposição e consequentes odores exalados durante o trabalho.
Diante
dessas pessoas tão indispensáveis quanto o ar que respiramos, me vem sempre a
reflexão: o que seria de nós, da cidade, do estado, do país, se não fossem
eles? A resposta vem tão rápida quanto necessária. Basta observarmos o caos que
acontece na cidade quando há greves dos lixeiros.
Certa
vez, em Brasília, foi cogitada a implantação de pequenas carretas, contendo
baús puxados por motocicletas, para substituir as carroças puxadas por animais
que, mal alimentados, magros e, muitas vezes, de idade avançada, são obrigados
a circular entre o trânsito intenso das ruas, às pressas, com a mesma destreza
e agilidade dos carros que os cercam por todos os lados.
Sem
conseguir tal proeza, com as carroças improvisadas e construídas artesanal e
precariamente, com restos e lascas de tábuas descartadas nas obras, os pobres
animais são açoitados com violência e gritaria, para evitar que os motoristas
apressados e impacientes não os repreendam. Isso sem falar na lotação dessas
carroças, que andam cheias de tudo o que os catadores conseguem recolher dos
containers. Quanto mais caixas de papelão, garrafas, papel, latas, maior fica o
orçamento familiar.
Ainda não
vimos as tais carretas puxadas por motos. Ao contrário, vemos catadores com
carroças precárias, puxadas por tração animal.
O sonho
de vê-los com veículos registrados, com placas, coletes e sinalizadores
fluorescentes ainda continua. Brasília merece ter em suas ruas o gosto de ver
os indispensáveis catadores valorizados por tamanho cuidado.
Para que
isso funcione de verdade e a curto prazo, sugerimos que seja feito um
levantamento de toda a população trabalhadora, cuja soma poderá ser patrocinada
por empresas da cidade que, doando uma ou mais motocicletas e suas carretas,
venham com as suas logomarcas estampadas nos veículos.
Uma ação
social que transmite dignidade e respeito aos trabalhadores que cuidam do meio
ambiente e de suas famílias.
(*) Jane Godoy – Coluna 360 Graus – Foto: Monique Renne/CB/D.A.Press –
Correio Braziliense