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O adeus ao pastor Vilarindo Lima

Vilarindo Lima, um dos fundadores da Igreja Batista Central de Brasília, não resistiu às complicações de uma pneumonia. Familiares, amigos e fiéis prestarão as últimas homenagens ao religioso hoje e amanhã

*Por Ana Viriato - Júlia Campos - Deborah Sogayar  -  Mariana Niederauer 

Amigos, familiares e fiéis se preparam para homenagear um dos fundadores da Igreja Batista Central de Brasília (IBCB), pastor Vilarindo Lima. O religioso morreu depois de passar dois meses internado para tratar uma pneumonia. O quadro de saúde piorou na última semana e, ontem à tarde, Vilarindo não resistiu às complicações da doença. “De repente, ele foi piorando e, como se fosse uma vela, apagando”, contou o neto Ricardo Espíndola, presidente da IBCB.

O pastor morreu amparado pela família, que se revezava para acompanhá-lo no hospital. “Hoje foi um dia muito difícil, pois, na última semana, o quadro dele piorou muito”, lamentou Ricardo. Conhecido pelas orações de cura e por milagres, Vilarindo estava cercado pela família. O pastor deixa cinco filhos, 13 netos e 16 bisnetos. O velório começa hoje, às 17h, na sede da igreja, na 603 Sul, e segue até as 9h de amanhã, quando será celebrado um culto. O sepultamento será às 14h, no Cemitério Campo da Esperança.

O pastor Eldemar Garcia, atual vice-presidente da IBCB, trabalhou por 20 anos com Vilarindo. Para ele, o religioso era um ícone em Brasília na pregação do evangelho. “Era um homem muito respeitado nas coisas de Deus. Vai deixar um grande legado nessa cidade, pois foi uma referência por procurar sempre seguir os princípios de Deus. Só ficam coisas boas”, afirmou. Eldemar diz que, apesar de estar abalado com a perda, fica tranquilo, pois sabe que Vilarindo está onde sempre quis. “Ele está repousando nos braços do Senhor. A maior alegria dele era dizer que se encontraria com Deus. Está em paz.”

O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, decretou luto oficial de três dias e prestou condolências aos familiares, amigos e a toda a comunidade a que o pastor se dedicou. “A morte do Pastor Vilarindo deixa em todos um profundo sentimento de tristeza e de perda irreparável. Sério, dedicado e atencioso, ele se notabilizou pelo seu brilhante trabalho como evangelizador e homem público voltado para aqueles que mais precisam. Pastor Vilarindo era uma das maiores lideranças religiosas de nossa cidade e foi um exemplo de retidão e de integridade”, comentou o Rollemberg, em nota.

Chegada a Brasília
A história do pastor se cruzou com a de Brasília em 1969, ano em que veio para a capital federal, transferido pela Marinha. A mudança de cidade era encarada pelo religioso como um propósito de Deus. Durante a juventude, ele teve uma visão. A mensagem divina era clara: “Você irá para a cidade de edifícios deitados”. Ao abrir as janelas do apartamento onde morava, Vilarindo percebeu que a previsão se concretizara.

Em território brasiliense, Vilarindo ajudaria a fundar um dos mais icônicos templos do país, além de promover curas entre fiéis. Em 1970, o pastor foi convidado por Antônio Martins Vilas Boas, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), a frequentar os cultos da Igreja Batista Central. No ano seguinte, foi empossado presidente do centro religioso. Nos últimos anos de vida, devido ao Alzheimer, Vilarindo não conseguia ministrar cultos, mas ainda assistia a algumas pregações. Em 2017, o templo que ele ajudou a erguer completou 50 anos, reunindo 4,5 mil fiéis nos cultos semanalmente.

A Igreja Batista Central de Brasília ganhou força com a fama do pastor Vilarindo. “Muita gente procurava o templo em busca da solução para doenças graves, como o câncer. Deficientes físicos também clamavam pela intercessão de Deus. Vimos várias pessoas saírem saudáveis daqui”, relatou o pastor em entrevista ao Correio em 2011, ressaltando que somente Deus tem o poder de curar.

História

Severino Vilarindo Lima nasceu em Umbuzeiro, cidade do interior de Pernambuco, em 1926. Guiado pelo versículo “Este é o dia que o Senhor fez, regozijemo-nos e alegremo-nos nele”, descrito em Salmos, o pernambucano superou momentos árduos da infância. Primogênito de um filho de coronel e uma cortadora de cana, foi criado pelo avô paterno até os 9 anos e, depois, pela madrinha. A nova família o obrigava a vender balas e os famosos puxa-puxas nas ruas, com o intuito de obter a renda necessária para manter os seis irmãos de criação na escola.

Mudou-se para Campina Grande (PB), onde morou na rua. Um dia, desmaiado em uma avenida, foi acolhido pela dona de uma alfaiataria. Amparado pela mulher, estudou e aprendeu o ofício que praticaria nos anos seguintes. Na juventude, apaixonou-se por Carmem de Araújo. Eles se conheceram em 1945. Durante três meses, trocaram experiências e viveram um grande romance. Casaram-se e ficaram juntos durante 64 anos,  até a morte da companheira, em 2009.

Foi Carmen que apresentou Vilarindo ao evangelho. Aos 18 anos, Vilarindo mudou-se com a família para Natal e ingressou na Marinha. Para prestar serviços ao Brasil, inicialmente, escondeu o matrimônio. Na força naval, o pastor ministrou cultos, formou-se em administração e em jornalismo e cuidou do Departamento de Alfaiataria. Confeccionava fardas para autoridades como João Figueiredo, Ernesto Geisel e Juscelino Kubitschek.

Hoje foi um dia muito difícil, pois, na última semana, o quadro dele piorou muito
(Ricardo Espíndola, neto do pastor e presidente da Igreja Batista Central de Brasília)

Construção do novo templo
A Igreja Batista Central de Brasília foi fundada em 1967 pelo pastor Elias Brito Sobrinho e outros 17 membros. No início, era a Congregação Batista Central, filiada à Primeira Igreja Batista de Brasília (PIB) do Núcleo Bandeirante. Antes da construção do antigo barracão de madeira, a Igreja Batista Central não tinha sede. Alguns membros reuniam-se no templo da Igreja de Deus, na 410 Sul. Em 1978, teve início a obra do templo atual, localizado na 603 Sul (foto). Três anos depois, a construção estava terminada. Vilarindo era conhecido por não pedir dinheiro a quem é da igreja. Mesmo durante a construção do templo, não passava a tradicional sacolinha presente em tantos outros templos. “Eu ouvi Deus me dizer para nunca pedir dinheiro às pessoas. Quem doa, faz porque quer. Procura a igreja e oferece”, dizia.

(*) Ana Viriato - Júlia Campos - Deborah Sogayar  -  Mariana Niederauer - Fotos: Carlos Moura/CB/D.A.Press – Cadu Gomes/CB/D.A.Press – Correio Braziliense

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