*Por Circe Cunha
Com mais um episódio de extrema
violência ocorrida em uma escola pública do DF, fica a questão: quantas mortes
mais serão necessárias para que a sociedade, em conjunto com as autoridades,
comece a tomar providências urgentes, antes que esses fenômenos brutais acabem
por transformar nossas escolas em zonas abertas de conflitos armados?
Desta vez, a morte visitou o Centro de Ensino Fundamental Zilda Arns, no
Itapoã, quando roubou a vida do estudante Gidenilton Lacerda, de 26 anos.
Amanhã, poderá ser a vida de qualquer outro, de um professor ou outra pessoa
que põe em risco a segurança pessoal ao se atrever a frequentar uma dessas
pobres escolas públicas, perdidas e esquecidas em algum canto da periferia de
Brasília.
No Plano Piloto, o fenômeno da violência também é recorrente.
Levantamento feito pela Secretaria de Segurança do DF mostrou que, em 2016, 20
escolas públicas concentraram 22% dos crimes ocorridos no ambiente escolar.
Gama, Guará, Taguatinga, Samambaia, Plano Piloto, Planaltina e Ceilândia
apresentaram os maiores índices de violência. Boa parte dessas ocorrências tem
como autores pessoas que circundam as escolas, tanto de dia quanto de noite.
Brigas ao término das aulas são marcadas com frequência. Facas e outras armas
brancas aparecem cada vez mais nas confusões.
Espaços comunitários, como bibliotecas, são depredados e incendiados.
Professores são cada vez mais ameaçados diretamente, inclusive diretores desses
estabelecimentos. Muitos docentes, diante da violência frequente, têm
abandonado a carreira ou entrado para as estatísticas de profissionais
afastados por problemas nervosos.
O consumo de todo tipo de drogas também tem sido comuns. De alguma
forma, nossas escolas estão reproduzindo os episódios de violência detectados a
todo instante no país. É patente ainda que os programas postos em prática pelos
responsáveis diretos pela educação pública não tem obtido os efeitos
projetados, limitando-se a repetir erros e falhas do passado, sem que os
problemas tenham, ao menos, diminuído.
Enquanto a sociedade não entender que esses fenômenos são da
responsabilidade de todos coletivamente e de cada um, individualmente, não
haverá solução à vista. Lições e exemplos de sucesso na melhoria da qualidade
do ensino público vêm de diversas parte do mundo. No Japão, os alunos e
responsáveis cuidam das escolas como se fosse a própria casa, limpando,
pintando, consertando, refazendo e decorando os recintos que, afinal, é onde os
jovens passam a maior parte do tempo da vida.
O sentimento de pertencer àquele lugar específico, àquela comunidade
onde está a sua escola dá, a todos, um sentido de responsabilidade e carinho
pelo lugar. Em tudo o que diz respeito à escola, a comunidade deve participar,
se integrar, até de forma obrigatória, já que ali está investido parte de seus
impostos.
Quando as mazelas que atingem a sociedade adentram as escolas, é sinal
de que a situação chegou a seu ponto de limite. Ou agimos agora com energia,
dentro das normas da melhor pedagogia e didática, ou correremos o risco de
transformar nossas escolas em reprodutórios de indivíduos violentos e sem
limites. Nesse sentido, é importante destacar também o papel fundamental que as
artes, tão deixadas de lado em nossas reformas do ensino, exercem na
humanização e no reflorescimento dos jovens cidadãos.
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A frase que não foi pronunciada
“Experimente explicar para um estrangeiro a briga dos petistas contra o
vice-presidente escolhido pelos petistas. É meio sinistro.”
(Cicerone adolescente)
(*) Por Circe Cunha – Coluna
“Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração:
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