Desde terça-feira, estamos vivendo uma história
arrepiante na Esplanada dos Ministérios. As câmaras de vigilância teriam
flagrado a movimentação de uma onça em pleno território do Palácio Itamaraty,
obra-prima de Oscar Niemeyer em parceria com Athos Bulcão, Burle Marx, entre
outros. Logo, pipocaram as análises, as especulações e as versões.
A onça se extraviou no coração da capital do país para fugir do incêndio
que devastou áreas próximas ao Itamaraty. O Batalhão de Polícia Militar
Ambiental do DF foi acionado e preparou várias armadilhas para pegar o bicho,
mas todas as providências foram inúteis. Ele simplesmente desapareceu.
Desapareceu, mas deixou um rastro de mistério e apreensão.
Estaria refugiado nos jardins de Burle Marx, que compactaram a selva
amazônica? Essa hipótese chegou a ser conjecturada, mas se esfumou porque o
animal é carnívoro e não resistiria tanto tempo embrenhado nas folhagens de
algum dos jardins do Burle. Teria vindo para caçar corruptos no Congresso
Nacional?
A polêmica esquentou depois que, ao examinarem minuciosamente as imagens
gravadas com os movimentos do animal, dois biólogos concluíram simplesmente que
a onça não é uma onça. Não teria tamanho suficiente. Estaria mais próxima de um
gato. Um dos comandantes do Batalhão Ambiental da PM refutou a versão e
sustentou que se tratava, efetivamente, de uma onça com o peso de 50kg a 55kg.
O debate não apresentou nenhum argumento ou prova decisivos e a questão
permanece aberta, à espera de um desfecho nos próximos capítulos. O medo
continua a rondar os servidores e demais trabalhadores do Itamaraty e
adjacências. Enquanto não se deslinda o mistério, compartilharei com vocês
outra história de suspense carregada de alta voltagem dramática.
Quem me contou foi a minha neta Aurora, de 3 anos, que parece uma
reencarnação de Emília, boneca subversiva das ficções de Monteiro Lobato.
Preparem-se, pois a narrativa contém cenas fortes e provocará muita adrenalina.
É a versão da Aurora para o episódio Boo, te assustei, da animação Charlie e
Lola. Vamos lá:
“Era uma vez duas crianças, não eram muito velhas, mas também não eram
muito novas. Elas ouviram um barulho e decidiram descobrir o mistério da casa
assombrada. Deram alguns passos e subiram por uma escada. Vocês sabem que todas
as escadas rangem nas histórias arrepiantes. Então, as duas crianças avistaram
uma porta terrivelmente terrível. Elas ficaram com muito medo, o coração delas
batia acelerado.
Mesmo assim, resolveram entrar pela porta terrivelmente terrível.
Quando, finalmente, estavam lá dentro, ouviram um barulho e ficaram tremendo. O
que seria? Um monstro horrivelmente horrível? Mas os dois respiraram fundo e
seguiram em frente. Sabem quem era? Era Sininho, a gatinha da Senhora Helmut,
que estava desaparecida há duas semanas.”
Na noite seguinte, a avó pediu que a menina contasse novamente a
história arrepiante, mas Aurora respondeu: “Ih, vó, que história mais tola! Me
deixa dormir!”.
Por Severino Francisco - Repórter, colunista do Correio Braziliense - Foto/Ilustração: Blog - Google