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#CRISEHÍDRICA » Água do lago chega às casas

Rollemberg: "Escolhemos esse ponto devido à pureza da água bruta, que ainda passa por um tratamento"

Em meio à inauguração do subsistema de tratamento de água do Lago Norte, ambientalistas protestam contra criação do Taquari II. Eles afirmam que o setor habitacional vai comprometer córregos que abastecem o Lago Paranoá

Em dia de chuva por todo o Distrito Federal, o governo inaugurou o subsistema de captação e tratamento do Lago Norte, que utiliza água do Lago Paranoá. Feita em caráter emergencial, a obra é a primeira de abastecimento hídrico criada nos anos 2000, tendo sido concluída em cinco meses, um mês após o cronograma inicial. Mas, enquanto as autoridades ressaltavam a importância da empreitada para a capital, ambientalistas protestavam contra um novo setor habitacional que, segundo eles, coloca em risco a qualidade da água do manancial.

Durante a inauguração da Estação de Tratamento de Água do Lago Norte, na manhã de ontem, o governador Rodrigo Rollemberg provou da água captada e tratada e tranquilizou os brasilienses sobre a qualidade do recurso. “Não há riscos em consumir essa água. Escolhemos esse ponto devido à pureza da água bruta, que ainda passa por um tratamento de alta qualidade da Caesb antes de chegar à população”, ressaltou. A obra custou R$ 42 milhões, liberados pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, ligada ao Ministério da Integração Nacional.A estação abastecerá as regiões administrativas de Lago Norte, Paranoá, Itapoã e Taquari, atualmente assistidas pelo reservatório de Santa Maria.

A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) espera colocar em funcionamento, ainda neste mês, o Subsistema Produtor de Água do Bananal, que abastecerá Asa Norte, Sudoeste, Cruzeiro e Noroeste. Com as novas captações colocadas em funcionamento, a Caesb espera que, até dezembro, cidades abastecidas pelo Descoberto, como Guará, Núcleo Bandeirante e parte de Águas Claras, passem a ser atendidas pelo Santa Maria, para desafogar o principal reservatório do DF. Descoberto e Santa Maria registraram os mais baixos volumes da história, 16,9% e 29,1%, respectivamente, na tarde de ontem.

Suposta ameaça
A Estação de Tratamento de Água do Lago Norte entrou em operação sob os protestos de integrantes de entidades como o Projeto Águas da Serrinha do Paranoá, o Instituto Oca do Sol e o Fórum Alternativo Mundial da Água. Eles se deram, principalmente, contra a construção de um setor habitacional, o Taquari II.

O empreendimento será instalado próximo a uma área produtora de água, a Serrinha do Lago Paranoá, que abriga mais de 100 nascentes e nove córregos. Segundo os manifestantes e especialistas, a habitação humana do novo bairro pode impermeabilizar o solo e dificultar que a água volte para os córregos que abastecem o Lago Paranoá.

Presidente do Instituto Oca do Sol, Consolacion Udry disse que o perigo continua mesmo se o novo setor habitacional não for construído necessariamente em cima das nascentes. “O recomendado é que áreas de aquíferos tenham o mínimo de ocupação urbana possível. Por isso, não achamos adequado o Taquari II na região”, afirmou.

A ambientalista destacou ainda a rápida execução do novo sistema de captação de água. “Parabenizamos o governador por ter executado a obra em tão pouco tempo. Porém, não adianta instalar caras e sofisticadas estações de tratamento se a fonte da água não estiver sendo cuidada”, observou.

Comprometimento
Na edição de ontem, o Correio mostrou que a capacidade do Lago Paranoá em diluir elementos químicos, como o fósforo, está comprometida devido a grande quantidade de esgoto tratado ou não que é jogada no espelho d’água.

Nesta semana, a promotora de Justiça de Defesa do Meio Ambiente Marta Eliana de Oliveira fará uma recomendação indicando a suspensão do novo empreendimento. “O setor habitacional recebeu uma licença prévia de viabilidade ambiental em 1996. Após isso, foram feitas licenças de instalação de cada etapa, separadamente. A primeira foi concluída, mas a segunda atinge a área da Serrinha do Paranoá. Uma área produtora de água. Por isso, consideramos o empreendimento questionável”, explica.

Em agosto, a Universidade de Brasília (UnB) recebeu o seminário Lago Paranoá e crise hídrica – Desafios do planejamento urbano para Brasília, organizado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, para debater a instalação da nova habitação. “A Terracap entrou com uma atualização dos estudos de impacto ambiental do Taquari II, mudando o esgotamento sanitário para o padrão da Caesb, com isso, ele será tratado no Ete Norte e, depois, lançado no Lago Paranoá. Porém, os especialistas que participaram do seminário apresentaram estudos dizendo que o lago não tem capacidade de diluir mais águas residuais”, afirma a promotora.

A segunda etapa do setor Taquari abrange área de 2.578,28km² do Lago Norte. A expectativa é que 602 lotes residenciais sejam construídos no local, que, segundo estudos contratados pela Terracap, também foi identificado como área de indústrias de base tecnológica, centros empresariais e centros comerciais de bens e serviços. Segundo a estatal, o novo setor habitacional não será construído em área de mananciais. “A área de parcelamento não interfere em nenhuma nascente. O que interfere são as ocupações irregulares instaladas em chácaras na região”, conta Carlos Leal, diretor-técnico da Terracap.

Ainda não há previsão de quando o Taquari II sairá do papel. “O Ministério Público chamou a Terracap para que pudéssemos ouvir os moradores da região e celebrar um termo de compromisso com algumas adequações no projeto. Só após isso que vamos continuar com o empreendimento”, explicou o diretor-técnico da Terracap. Sobre a questão do esgoto, a Terracap informou que vem investindo R$ 12 milhões nos últimos seis anos para que a Caesb possa melhorar o tratamento feito na Ete Norte, que receberá os resíduos da nova habitação.


(*) Pedro Grigori – Foto: Ed Alves/CB/D.A.Press – Correio Braziliense

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