Maior conjunto arquitetônico cultural projetado por Niemeyer está
fechado desde dezembro de 2013
*Por Otávio Augusto
Obras a serem contratadas começam pela Sala Martins Pena, com conserto
da fachada e intervenções como demolição de paredes e troca de pisos. Reforma
total custará cerca de R$ 38 milhões por meio de parceria privada
As luzes do principal palco das artes da capital
federal, o Teatro Nacional Claudio Santoro, poderão ser acesas novamente no fim
do ano que vem, pelo menos em parte das instalações. Hoje, a Secretaria de
Cultura divulga edital nacional para a primeira etapa de reformas no
espaço fechado há quatro anos. As obras custarão cerca de R$ 38 milhões e serão
financiadas pela iniciativa privada, por intermédio da Lei Rouanet. A
estimativa original de custo para o projeto, em 2014, era de R$ 220 milhões,
mas o Ministério da Cultura não aceitou. O governador Rodrigo Rollemberg (PSB)
anuncia detalhes do projeto na tarde de hoje, no foyer da Sala Villa-Lobos.
O maior conjunto arquitetônico projetado por Oscar
Niemeyer na capital federal — destinado exclusivamente às artes — acabou
fechado, em dezembro de 2013, depois de uma recomendação do Ministério Público
do Distrito Federal, ancorada numa vistoria do Corpo de Bombeiros, que
identificou 113 problemas estruturais, como acessibilidade interna e combate a
incêndio. O espaço já foi o principal palco da cultura brasiliense, recebendo
100 mil pessoas por ano.
A primeira leva de reparos vai contemplar a Sala
Martins Pena, a recuperação da fachada e algumas intervenções de engenharia,
como demolição de paredes e troca de pisos, adiantou com exclusividade ao Correio
o secretário de Cultura, Guilherme Reis. “O projeto é deixar o edital aberto
por 60 dias. Vamos selecionar uma entidade da sociedade civil sem fins
lucrativos para ser parceira na captação de recursos e na contração da obra”,
explica. A instituição deve ser especializada em patrimônio cultural.
Ao todo, a obra terá quatro etapas. Depois da
Martins Pena, a próxima vai focar na reestruturação da Sala Villa-Lobos. “Vamos
fazer a reforma repensando a gestão do teatro, buscando maior participação
social e modernização como um centro cultural vivo. O Teatro Claudio Santoro
nunca teve o seu potencial de centro cultural 100% explorado”, destaca o
secretário. Entre janeiro e fevereiro do ano que vem, a entidade que ficará com
o projeto deve articular o financiamento junto ao Ministério da Cultura.
Em março, a empreitada deve ter início, segundo
projeções da Secretaria de Cultura. A primeira etapa da obra deve ser concluída
em um ano. O projeto de reforma é o mesmo realizado por empresa contratada pelo
governo local, em 2013, e este ano passou por uma atualização realizada
pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Agora, o Palácio do Buriti parte para a
busca de entidades fortes e patrocinadores dispostos a participarem da retomada
dos trabalhos no teatro.
"Vamos
selecionar uma entidade da sociedade civil sem fins lucrativos para ser
parceira na captação de recursos e na contração da obra" (Guilherme Reis,
secretário de Cultura)
Obras demoradas
Guilherme Reis admite que o governo levou muito
tempo para retomar o projeto de revitalização do espaço, fechado há quatro
anos. “Entre 2015 e 2016 tivemos muitas dificuldades econômicas no DF e os
recursos para Cultura foram duramente impactados. Não tínhamos como
priorizar a reforma do Teatro Nacional dentro das obras prioritárias do
governo’, explica. Guilherme pediu uma audiência com o ministro da Cultura,
Sérgio Sá Leitão, para avançar no processo de captação de recursos. “Vamos
retomar o diálogo”, destaca.
As obras envolvem 45 mil m², distribuídas pelas
salas Alberto Nepomuceno, Martins Pena e Villa-Lobos. O teatro possui espaços
como a Galeria Athos Bulcão, dedicado a grandes exposições, os Foyers da Sala
Villa-Lobos e da Sala Martins Pena e o espaço Cultural Dercy Gonçalves —
originalmente projetado para ser um restaurante panorâmico.
Com a reabertura do teatro, Guilherme pretende
fomentar a cultural da capital e inserir a cidade na rota de grandes produções.
“Os prejuízos são gigantescos não só para Brasília, mas para os artistas,
produtores e o público. O teatro é um projeto importante para a produção
artística mundial da música, da dança e do teatro. Estamos vivendo um
momento em que a cultura está sendo mal interpretada, mas ela nos faz seres
humanos melhores. A arte nos torna mais completos. Não podemos viver sem
isso”, pondera.
113
problemas estruturais, como acessibilidade interna
e combate a incêndio foram identificados pelo Corpo de Bombeiros
Duas perguntas para Marcelo Ulpiano,
produtor
cultural
O que a reforma do Teatro Nacional representa
para a produção cultural de Brasília?
Brasília precisa de espaços como o Teatro Nacional.
Temos feito muitas atividades no Centro de Convenções, mas o local tem
limitações técnicas. Hoje, para montarmos uma peça ou um balé demanda muito
trabalho e dinheiro, além de faltar uma série de equipamentos que o Teatro
Nacional possui. A reabertura do teatro facilita a vinda de produções para a
cidade.
É possível estimar os prejuízos nesses quatro
anos em que o espaço ficou fechado?
Tivemos uma limitação cultural inestimável para a
cidade. Eu tive pelo menos cinco espetáculos que não pude montar aqui em
Brasília por falta de espaço adequado.
(*)
Otávio Augusto – Fotos: Breno Fortes/CB/D.A.Press – Correio Braziliense